Pesquisar nos arquivos

Mostrando postagens com marcador meio desligado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador meio desligado. Mostrar todas as postagens

6 de dezembro de 2016

Achei que devia fazer um texto sobre os 10 anos do blog mas não pensei num título bom



6 de dezembro de 2006. As capas dos jornais informam sobre o caos nos aeroportos brasileiros (uma prévia do "relaxa e goza"). Nasa encontra provas de água em Marte. Saddam Hussein ainda está vivo e acaba de ser sentenciado à morte. Um Golpe de Estado em curso em Fiji. Lula reeleito com mais de 60% dos votos. Playstation 3 e o Wii são lançamentos recentes.  Randy Rhoads faria 50 anos se estivesse vivo. Sarah Sheeva ainda vê AQUILO MARAVILHOSO.

Às 11:19 daquela quarta-feira, provavelmente durante uma aula chata de diagramação, fiz a primeira publicação por aqui. Talvez fosse a época em que eu estudava jornalismo pela manhã, trabalhava de tarde, estudava design de noite e chegava em casa à meia-noite, na região metropolitana de BH. A memória falha, mas não é necessariamente um problema, já que o que esquecemos também é parte do que define o que somos. 1.329 posts depois, percebo que parte do que sou hoje passa por aqui. E que durou todo esse tempo porque sempre escrevi para mim em primeiro lugar, independente de visitantes. Porque em meio a todas as falhas, textos ruins e a prepotência irônica da adolescência também havia a curiosidade, o prazer do descobrimento e ____________ (complete com outras coisas que vemos em textos motivacionais).

Eu não conhecia nenhum músico, nenhum produtor, nenhum jornalista. No meu blog anterior, tampava os rostos de todos os músicos nas fotos porque acreditava que a única coisa que importava era a música em si, não a aparência, os egos. Achava a coisa mais brega e egocêntrica os nomes próprios dos artistas em suas carreiras solo (quer dizer, ainda acho). Acreditava que a arte só poderia ser sincera e livre se gratuita, desvinculada de relações mercadológicas. Só que a realidade pro filho de uma ex-caixa de supermercado e um ex-entregador de pães é bem distinta de uma utopia artística. O processo é lento. E se em um primeiro momento imaginar certo conformismo gera decepção, em outro a mesma lentidão te faz acreditar que é possível mudar as coisas por dentro. Estar dentro do sistema para tentar mudá-lo. "Você vai escolher o que tiver mais perto de você, o que tiver dentro da sua realidade", dizem os Racionais.

Revisito os arquivos com parcimônia (não sei de onde me veio a vontade de usar essa palavra, mas veio), faz parte de um processo de autocrítica. Por mais que às vezes eu não reconheça o autor daquelas publicações, os textos que geraram 80 mil acessos em um dia e os que ficaram nos 100 leitores importam da mesma forma porque têm um valor pessoal (há anos, aliás, sequer acompanho as métricas de acesso do blog). E, imagino, algum valor pra outras pessoas.

É só mais uma entre várias abstrações, mas considerei a data um momento pertinente pra recapitulações. O rio nunca é o mesmo, não é? Recentemente anotei a fala de um neurologista (no contexto original, sobre sinapses e esquizofrenia): "o segredo do aprendizado é a eliminação sistemática do excesso. É principalmente morrendo que nós crescemos". Tem a ver com a euforia da infância e da adolescência, os processos do corpo. E funciona também aqui.

Em 2006, escrevia da perspectiva de alguém com muitos "nuncas" na vida (como nunca ter saído de Minas Gerais) e a ingenuidade de acreditar que poderia fazer o que quisesse na vida. Cortei alguns nuncas e continuo tentando, mas se der errado a preparação já foi feita. E no geral, a gente sabe, o que vale é o processo.

E sobre música, cena independente, indie e afins? Esqueci das aspas. Muitas.

Aff...

Bem, melhorou. Tanto pra quem produz como pra quem gosta de ouvir (pra evitar a palavra "consome"). E também derrubou ainda mais a barreira entre esses dois pontos da cadeia (quem produz e quem ouve). Os algoritmos do Spotify e afins, por exemplo, são uma alternativa bem mais interessante do que textos de Facebook sobre as bandas dos amigos dos seus amigos ou blogueiros querendo pagar de descolados com suas escolhas diferentonas. É relativamente fácil descobrir as casas de show que abrangem determinado gênero musical em cada cidade e entrar em contato com produtores do mundo todo. Não que isso já não fosse possível em 2006, mas agora mais gente já se tocou de que, opa, isso dá pra fazer (piada geograficamente localizada, entendedores entenderão).

Parte do que é ruim permanece da mesma forma. Produtores que pensam apenas no dinheiro, jornalismo à base de amizade, músicos que tentam tirar os méritos do outro que começar a se destacar mais. Recalque, inveja, insegurança? Em cada cidade a história se repete, é comum encontrar aqueles que se acham injustiçados e reclamam dos demais, das panelas da cena (as "panelas", quase sempre mal-acompanhadas em um contexto fora do culinário).  E assim se fecham nos próprios nichos, às vezes reproduzindo uma das práticas mais questionáveis do rap, que é identificar oponentes de maior visibilidade e tentar chamar atenção para si ao atacá-los (sobre o assunto, vale a audição dessa e dessa outra música - gosto de ambas, apesar de discordar de pontos dos discursos). Não que sejam críticas vazias (apesar de serem só chorume na maior parte das vezes). Mas o que mais vejo são pessoas que sequer contribuem efetivamente pra que aconteça uma real melhora, apenas pensam em seus próprios egos trabalhos, não vão aos shows de outros artistas, não divulgam trabalhos alheios (em um sentido mais amplo, alguém fora da sua patota), não buscam uma troca maior. E trocas, intercâmbios, a gente sabe, são geralmente bons.

Voltando ao assunto original.

Este ano também marcou um desejo antigo, o Festival Meio Desligado. Ingressos esgotados e uma satisfação enorme por ter a Guizado, E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, Sara Não Tem Nome e Luneta Mágica na primeira edição. Os planos são uma segunda edição em breve, independente de patrocínios ou apoios. Por aqui, continuar com um texto semanal (pensei em definir uma atualização sempre na segunda-feira mas gosto da liberdade de publicar quando quiser) e algumas séries temáticas já em andamento. Além de continuar e ampliar as atividades da Quente, claro. Aproveito pra pedir desculpas a todos que enviam emails e não têm resposta, eu realmente leio muito pouco os emails do blog e por isso peço pra enviar via Twitter.

Pensei em citar Belchior agora, mas achei cafona (apesar de real). Quem sabe com o tempo a gente acerte mais, né?


10 de abril de 2016

DJ jornalista


Ser o responsável pela música nos intervalos de um show é propício para um DJ jornalista. Nesses momentos, diferentemente de quando se é atração principal da noite e fazer o público dançar é obrigação, é possível atuar como uma extensão da função de jornalista musical. Na verdade, é algo entre o jornalismo musical e a curadoria, porém mais volúvel.

Gosto do termo "DJ jornalista" porque não carrega as pretensões de um DJ tradicional e ao mesmo tempo traz a proposta de apresentar ao público músicas consideradas boas o suficiente para serem ouvidas no pouco espaço disponível entre os shows (neste caso) e que devem funcionar dentro de um determinado contexto, definido pelos artistas que se apresentam na ocasião, o perfil da casa e outras variáveis.

Parece besta, mas não deixa de ser uma questão relevante para quem frequenta shows ou para quem cuida das trilhas dos intervalos. Mesmo que seja uma playlist a ser executada, uma seleção criada de acordo com o contexto e a proposta do evento sempre tem seu mérito e potencializa as chances das pessoas presentes terem momentos mais agradáveis.

Um amigo me disse que isso é coisa de nerd, mas desde 2009 anoto parte das músicas que toco nesses momentos, antes e depois de shows. Parte disso agora está reunido no perfil do Meio Desligado no Deezer. Além das playlists com pedaços desses DJ sets, lá você encontra alguns discos que tenho ouvido e outras playlists temáticas em constante atualização (assim espero).

Abaixo, uma amostra com listas de algumas noites recentes (shows do Baleia e Pequeno Céu, dia 8 de abril e Silva e Leonardo Marques, dia 18 de março), além de uma mais antiga (noite do show do Dibigode com o Transmissor em 25 de outubro de 2013).

BALEIA + PEQUENO CÉU


SILVA + LEONARDO MARQUES



DIBIGODE + TRANSMISSOR

11 de maio de 2015

Entrevista para a Puc Campinas sobre o mercado musical independente

O Willian Souza é um aluno do curso de jornalismo da Puc Campinas que tem muito bom gosto e é leitor do Meio Desligado, rs. Ele está produzindo uma reportagem multimídia sobre consumo de música na atualidade e pediu que eu contribuísse respondendo algumas questões, que, como de costume, publico abaixo.

  • Como você avalia o atual cenário musical independente brasileiro?
Pergunta difícil. O cenário musical independente é muito amplo, vai dos produtores de música eletrônica ao instrumental experimental. Cada gênero musical apresenta uma realidade de mercado diferente. Muita gente do funk consegue ser bem remunerada com seus trabalhos autorais e tem a música como fonte de renda primária. O mesmo não pode ser dito da cena indie, na qual a música é, na maioria dos casos, uma fonte complementar de renda. Mas, no geral, considero um mercado que estava em expansão na década passada e se estagnou, economicamente falando, recentemente. Parte disso pode ser reflexo da situação econômica do país. Houve um boom na época da Abrafin, Fora do Eixo, TramaVirtual e depois o dinheiro foi diminuindo, ficou mais difícil dos festivais alternativos captarem recursos e com isso diminuiu a circulação dos artistas.


  • Por que acredita que os artistas começaram a disponibilizar suas músicas gratuitamente pela internet?
Porque a produção é enorme e em meio a uma oferta tão grande é preciso facilitar o acesso do público ao que o artista está produzindo.


  • Sente que isso está acontecendo cada vez mais? É uma tendência?
Sim. Muita gente, como eu, praticamente nem faz mais downloads. É tudo via streaming. Isso facilita a circulação da produção mas também aumenta a volatilidade na relação com a música. O lado positivo disso é que se tem acesso a uma variedade maior de produções, mas, por outro lado, a fugacidade às vezes impede que se aprofunde na relação com uma obra. Em uma entrevista de 2013, o produtor Dr. Luke fala sobre isso, como as músicas pop atualmente praticamente não têm introdução. É preciso captar a atenção do ouvinte logo, o vocal entra rápido e logo já vem o refrão, tudo comprimido pra soar grandioso no fone de ouvido, que é o principal instrumento pra audição atualmente.


  • Acredita que é esse o caminho?
Acho que sim, ao menos para o futuro próximo. Isso não inviabiliza a venda do produto físico, ele só precisa apresentar algum diferencial que justifique a compra. A música online gratuita é a porta de entrada para o trabalho de um artista. Mas quando se diz "música online gratuita" ela pode se referir a diferentes formatos: pode ser em um serviço de streaming, um videoclipe, a trilha sonora de um game ou em um aplicativo por exemplo. Ainda tem muita coisa a se explorar.


  • Como avalia a recepção de novos artistas pelas grandes gravadoras? Isso acontece?
No que diz respeito à absorção do que está sendo produzido na cena independente, só conheço as experiências da Deck e da Slap, e acho que ambas tem feito bons trabalhos dentro de suas respectivas propostas. O disco do Cícero é um dos melhores lançamentos do ano, a Pitty está aí quase com 40 anos já e segue com uma carreira coerente. A Deck também lançou recentemente trabalhos do Wado, Matanza, Gang do Eletro… é uma gravadora pequena mas conectada com a cena. A Slap não é uma gravadora, é um selo da Som Livre, mas é um indicativo de que até uma gravadora que possui todas as facilidades que a Som Livre tem sentiu necessidade de se aproximar da chamada cena independente. Daí a presença de Dom La Nena, Silva, Mombojó e Móveis Coloniais entre os artistas contratados por eles.


  • Sobre a divulgação, o que pensa da internet para esse propósito?
É essencial. Ponto.


  • Acredita que o Brasil se difere dos outros países no que tange ao cenário musical independente?
Acho que cada país tem seus singularidades que variam de acordo com sua cultura e situação econômica. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo, os mercados são bem diferentes, mais evoluídos e maiores, mas digo isso como observador e leitor, não tenho uma experiência aprofundada nesses países. Posso dizer que em Portugal, por exemplo, a situação não é tão diferente da que temos aqui. Muitos portugueses acham que vivemos uma situação melhor do que a deles, inclusive, com um apoio muito maior do governo, inclusive. E no que diz respeito ao consumo de música independente, é a mesma coisa: os países seguem para um mesmo caminho, mas cada um com suas singularidades. Passei um tempo no Japão e fiquei surpreso ao descobrir que o Spotify não funciona por lá até hoje, acredita? Os japoneses ainda compram muitos CDs e por preços altíssimos, numa média de U$ 25. A Tower Records é uma loja de discos que possui um prédio de cinco andares em Tóquio, imagine isso. Não dá pra dizer que determinada mídia morreu assim tão facilmente, esses contextos locais precisam ser levados em consideração e essa diferença que cada mercado apresenta torna tudo mais interessante (e/ou difícil, dependendo do ponto de vista).


  • O que pensa do futuro da música independente?
Penso que esse termo "música independente" é horrível, rs. Passa a impressão de algo que funcionaria de forma isolada, auto-suficiente, o que é o oposto da realidade. O que eu acho de toda essa música feita fora de grandes gravadoras é que ela é, há muito tempo, a maior parte da música feita no mundo (e provavelmente sempre tenha sido). Só que apenas nas últimas décadas esses artistas têm alcançado mais repercussão, seja localmente (principalmente) ou em escala maior.

E, pra fechar, só queria dizer que isso tudo é só a minha opinião, baseada na minha experiência como jornalista, produtor e consumidor.

1 de outubro de 2014

Hurra Torpedo = Borat rock'n'roll

Entre 2006 e 2007, trabalhei como redator no Cinema em Cena. No meio de 2007, pouco antes de me desligar do site, escrevi o piloto de uma coluna que começaria por lá, sobre assuntos relacionados ao YouTube. Com o recente anúncio do fim do Cinema em Cena (que será tratado em outro texto por aqui), achei válido resgatar esse texto, sobre a banda norueguesa Hurra Torpedo e sua trajetória na internet. 

Hoje em dia eu escreveria o texto de outra forma, mas segue abaixo sua versão original, apenas com alguns links atualizados (os antigos deixaram de funcionar).

Imagine uma banda na qual os integrantes, em vez dos tradicionais guitarra e baixo, também usam freezers, fogões, panelas e demais utensílios de cozinha e se auto-denominam "a única banda de rock de cozinha do mundo". Agora faça um esforço e tente imaginar um documentário sobre uma turnê dessa mesma banda. Conseguiu? Não precisa queimar seus neurônios, pois tudo isso é realidade. A banda se chama Hurra Torpedo, é norueguesa, tem três integrantes e o documentário se chama The Crushing Blow – a rockumentary.

Em 1995, o Hurra Torpedo apresentou-se em um programa da TV norueguesa chamado Lille lørdag, no qual tocaram uma cover de "Total Eclipse Of The Heart", hit meloso de Bonnie Tyler, com um dos integrantes tocando guitarra e cantando, outro fazendo percussão na tampa de um freezer e esmurrando um fogão e um terceiro integrante destruindo outro fogão com um pesado pedaço de metal. Dez anos depois, essa apresentação na TV foi digitalizada e se tornou fenômeno na internet, tornando a banda famosa entre nerds de todo o mundo.



Tudo bem. Até aí a história é interessante, mas a partir do próximo parágrafo se tornará, digamos, absurda.

No fim de 2005, o Hurra Torpedo viajou para os Estados Unidos para fazer sua primeira turnê americana, cruzando o país de costa a costa. Uma fã, munida de sua câmera digital e acompanhada por um amigo, resolveu seguir a banda durante toda a turnê e fazer o documentário The Crushing Blow. Da chegada a América aos shows, bastidores, visitas a lojas de eletrodomésticos e passeios pelo país, tudo é registrado pela câmera, resultando em hilárias sequências. É como se Beavis e Butt-Head fossem considerados gênios da música contemporânea por quebrarem eletrodomésticos no palco.

Diversos trechos do documentário se espalharam pela internet em sites e blogs. Um trecho que mostra a banda se apresentando em uma festa de aniversário de uma criança foi visto mais de 500 mil vezes no site iFilm, chegando a ser o vídeo mais assistido do site. Atualização: o iFilm não existe mais. O vídeo citado pode ser assistido no Youtube.



Mas na realidade... era tudo falso! A banda realmente existe, mas todo o documentário era parte de uma campanha de marketing viral realizada pela Ford para divulgar o carro Fusion (utilizado pela banda para cruzar os Estados Unidos durante a turnê). A "fã" era na verdade uma atriz e a banda seguia um roteiro frente às câmeras.

Enquanto a campanha promocional do carro estava em atividade, um site chamado thecrushingblow.tv estava no ar disponibilizando todo o mockumentary (variação de "documentary", usada para designar documentários ficcionais) para download, acompanhado de uma mensagem pedindo para que os usuários clicassem nos links da Ford para ajudar o site a se manter no ar, pois a montadora era sua patrocinadora. O Ford Fusion utilizado pela banda durante a turnê também estava sendo sorteado no site.

Passado o período da campanha promocional o site saiu do ar.

Após divulgada a verdade em torno de The Crushing Blow, o Hurra Torpedo deixou de ser conhecido apenas por nerds e tornou-se conhecido mundialmente, apresentando-se em vários países. Inclusive, realizaram outra turnê nos Estados Unidos, desta vez, real.

Ao observarmos casos como o do Hurra Torpedo e outros recentes, como o da famosa Lonelygirl15, do YouTube, e o fenômeno Borat, fica claro que a indústria também já está se adaptando ao webvideo, utilizando a vontade do público em ver pessoas “normais” na tela como forma de lucrar. Um vídeo pode ser bom, mas ao ser vendido como “real”, ele se torna incrível.

O Brasil também não fica fora dessa. Recentemente, para divulgar o lançamento do CD da banda carioca Moptop, da gravadora Universal, foi feito um falso making of das gravações do álbum, no qual os integrantes fingiam não saber tocar seus instrumentos direito e simulavam discussões entre si e com o produtor.

Indiferentes aos questionamentos em relação à convivência entre ficção e realidade na internet e seu uso comercial, Egil Hegerberg, Kristopher Schau e Aslag Guttormsgaard, os integrantes do Hurra Torpedo, querem mais é aproveitar o sucesso obtido graças aos seus vídeos na internet e mandam um aviso através da sua página no MySpace: "Mothers, Hide Your Kitchens!" ("Mães, escondam suas cozinhas").


Confira abaixo a entrevista realizada com Egil Hegerberg, vocalista e guitarrista da banda.

Como vocês descreveriam a diferença na vida de vocês, antes e depois do vídeo de “Total Eclipse of the Heart” se tornar um fenômeno na internet?
Egil: Agora nós não somos conhecidos apenas na Noruega, mas no mundo todo. E como nós passamos a fazer muito mais shows, nós estamos tocando melhor e nosso show melhorou. Está muito melhor do que antes. Nós também tivemos a oportunidade de finalmente gravar o nosso álbum, o que é ótimo.

Vocês sabem quem colocou o vídeo da banda tocando “Total Eclipse of the Heart” pela primeira vez na internet?
Não fazemos idéia.

Como se deu a conexão entre a Ford e o Hurra Torpedo?
Alguém da agência de publicidade da Ford viu o vídeo de “Total Eclipse...” na internet e quis fazer alguma coisa com a gente. Foi meio esquisito. Quando eles entraram em contato com a gente nós tínhamos certeza de que era alguma brincadeira, mas aparentemente não era.

Há muita polêmica em torno de The Crushing Blow. A grande maioria das pessoas acreditou que se tratava de um documentário real e algumas ficaram enfurecidas ao descobrirem que era parte de uma campanha da Ford. O que vocês têm a dizer para as pessoas que dizem que The Crushing Blow não passa de um comercial extendido?
Eu diria que elas estão totalmente corretas.

Havia um roteiro a ser seguido? Quanto do que nós vemos é real?
Nós fizemos uma turnê de um mês pelos Estados Unidos. Haviam algumas idéias anotadas, alguns lugares que tínhamos que visitar e alguns shows marcados. Então nós pegamos a estrada e vimos o que poderia acontecer. Algumas coisas que você vê são roteirizadas, outras foram improvisadas e outras são reais.

Existe alguma chance deThe Crushing Blow ser lançado em DVD?
Ele estava em um DVD encartado na revista Paste Magazine, em abril, eu acho. Nós filmamos muita coisa que não foi utilizada nos episódios divulgados na internet. Alguma coisa foi falada sobre juntar tudo em um longa metragem ou em uma série de TV, mas ainda é muito cedo para falar disso. Pessoalmente, acho que nada disto nunca vai acontecer, mas espero estar errado.

Vocês foram pagos ou a Ford apenas os ajudou na turnê?
Nós fomos pagos. É por isto que a Ford está com problemas financeiros atualmente.

O que vocês conhecem sobre a música e cinema brasileiros? Alguma turnê sul-americana planejada?
Nós não temos planos de fazer nenhuma turnê mundo afora pelos próximos meses, mas veremos o que o próximo ano tem a nos oferecer. Adoraríamos tocar no Brasil. Eu estive em Natal por algumas semanas há 7 anos e amei. É um lugar muito bonito e eu adorei as pessoas de lá.
Nós não conhecemos muito sobre o cinema e a música do Brasil na Noruega. As únicas coisas nas quais consigo pensar são Sepultura, Seu Jorge e Cidade de Deus.


 Atualização bônus:
 Hurra Torpedo tocando "Where is my mind?", do Pixies 

12 de março de 2014

Escrever sobre música

Por que escrever sobre música?

Por que 
escrever
sobre 
música?

Tanta coisa importante acontecendo no mundo, tantas coisas que precisam ser feitas e você escreve sobre música?

Não sei muito bem a resposta. E, por não saber, fiquei todo o mês de fevereiro (além de parte de janeiro e março) sem atualizar o Meio Desligado. Fiquei um longo período fora do Facebook, viajei sozinho por quase um mês, conheci pessoas, lugares e culturas diferentes, fiquei oficialmente um ano mais velho. E ainda não tenho uma resposta, apesar de entender alguns dos motivos que me levam a continuar.

Para mim, o jornalismo cumpre uma função social. E por mais que o que faço aqui não seja jornalismo propriamente dito, também cumpre uma função social.

Por que as outras pessoas escrevem sobre música e cultura? Boa parte delas, porque esse é o trabalho delas. Uma forma de atuar com algo que gostam (ou que ao menos seja menos pior do que outras opções disponíveis). Mas esta não é uma fonte de renda e muito menos meu emprego.

Então, por que escrever? Quando penso nos motivos para não largar isso e me dedicar a outras coisas que talvez sejam mais interessantes (pessoalmente) o que me vem à mente é uma vontade de contribuir, mesmo que de uma forma pequena, para que as vidas das pessoas sejam um pouco melhores. E essa contribuição acontece a cada momento em que alguém descobre uma nova música ou um novo artista que torna parte do seu dia melhor. A cada vez que alguém se identifica com algo que lê e aquilo reflete de forma positiva em sua vida. E também quando não gostam, mas essa rejeição resulta em alguma reflexão interna. 

Longe de alienar, como grande parte da produção disponível na internet, sinto cada vez mais necessidade de abordar a cultura com uma visão mais crítica, política e ativista, até. Porque a arte é uma fonte de prazer, mas também instrumento de reflexão sobre nós e a sociedade. 

Aí entra outra motivação, menos altruísta. Continuo escrevendo porque esse é, de certa forma, um registro de parte da minha vida. E nesse ponto está a maior liberdade. Não existem grandes pretensões, interesses financeiros, essas merdas. Não sou um jornalista frustrado com meu trabalho e tenho um blog como válvula de escape. Não dou a mínima pra quantos acessos tenho e, na verdade, só verifico os dados de acesso quando algum possível patrocinador os pede (aí, claro, não vou deixar de ganhar o meu tutu). Espero que gostem do conteúdo, que ele influencie quem está aqui de forma construtiva. Mas, se isso não acontecer, foda-se. Quando leio alguns posts mais antigos os que mais me interessam são aqueles que dizem mais sobre o que eu sentia naquele momento, o que eu pensava. Pouco importa a repercussão ocorrida. Porque assim como eu pensava e sentia algo específico naquela época é possível que as pessoas que leram aquilo talvez compartilhassem do mesmo sentimento. Assim, vão se constituindo pequenos registros de momentos não apenas meus, mas coletivos. Já é uma contribuição que, ao menos para mim, é válida.

Da cadeira de praia (furada), na varanda.

11 de dezembro de 2013

O óbvio não nos tira do lugar

Faz sete anos desde que criei o Meio Desligado. Passaram-se 10 anos desde que criei meu primeiro blog. Ambos foram extremamente importantes na minha vida e registraram parte dos processos pelos quais passei desde meus 15, 16 anos de idade. Tudo sempre seguiu de uma forma natural e talvez por isso tenha obtido alguns resultados relevantes. 

Experimentar formatos na internet, escrever sobre música independente brasileira e pensar no que podia fazer no jornalismo cultural eram questões ativas na minha vida e que refletiam, entre outras coisas, na produção publicada aqui. Hoje, outros temas (alguns muito próximos daqueles iniciais, é verdade) me instigam mais. E, ao perceber o baixo volume de atualizações por aqui, percebo que o Meio Desligado não deveria se tornar uma obrigação, mas sim permanecer como uma extensão da minha vida, da minha visão do mundo.

Por mais que eu sempre estivesse ocupado fazendo duas faculdades e um estágio simultâneos, morando na periferia e sem grana, aprendendo programação, criando vídeos e músicas (e que nem eram ruins, afinal, até o Hermano Vianna chegou a falar em entrevista para a Carta Capital que eram uma das coisas mais interessantes no Brasil naquela época), mantinha o Meio Desligado com animação e ainda conseguia tempo para criar outros blogs e projetos online. Isso tudo, percebo, por serem ações sinceras, não obrigações. E para continuar com sinceridade é preciso mudar. E mudar, nesse caso, é ter maior liberdade, não saber qual será o próximo passo. O óbvio não nos tira do lugar. Não quero ficar parado.

(Da sala de um apartamento em Laranjeiras, Rio de Janeiro)

28 de outubro de 2013

Entrevista sobre jornalismo musical

Tive uma conversa bem legal com a Adriana Oshiro, que está fazendo um trabalho de conclusão de curso chamado "Manual de jornalismo musical". Algumas respostas acabaram um pouco longas, mas gostei de participar do projeto. No fim, senti falta de falar sobre a proposta da TV Meio desligado e mais sobre o uso de redes sociais, mas fica pra outra ocasião. Abaixo, a entrevista na íntegra.


O Meio Desligado começou em 2006, certo? Como surgiu a ideia de fazer um blog apenas sobre música independente brasileira?

Dezembro de 2006. Vou copiar aqui uma resposta que dei em 2010: "Resumindo muito: queria fazer algo relevante na internet em vez de ter mais um blog sobre cultura pop e bobagens para entreter as pessoas. Percebi que havia uma movimentação crescente na cena musical independente e não existia nenhum blog dedicado totalmente a essa cena. Além disso, quando outros blogs e jornalistas citavam bandas indie nacionais, na maioria dos casos exaltavam bandas que eu considerava (e ainda considero) ridículas ou falavam das bandas dos amigos, coisas do tipo. Eu pensei: "é por causa desses idiotas que o público em geral acha que não existem bandas independentes boas". Por isso criei o Meio Desligado, para fazer uma análise mais crítica dessa cena, sem ter rabo preso com ninguém, sem medo de experimentar." 
Lendo assim parece um pouco prepotente, mas é aquela prepotência irônica através da qual você quer reforçar uma ideia, entende? 


O convite para ser curador de festivais e participar da produção de projetos culturais veio por conta do Meio Desligado?

Sim. Eu já tinha feito estágio na Secretaria de Cultura de MG, trabalhado em um site de música e escrevendo sobre cinema, mas minha entrada na produção cultural, efetivamente, foi através de um convite que surgiu por causa do Meio Desligado. 


Além de tocar o blog, você presta uma série de serviços para bandas e tudo mais. Inclusive, até escreve textos sobre isso no blog. Quais são suas atividades e projetos, atualmente? 

No fim de 2011 montei uma empresa (revrbr.com) para prestar esses serviços junto a dois sócios, profissionalizar a coisa. Mas eles acabaram se mudando e a empresa foi parando. Continuei trabalhando com diferentes artistas e produtoras culturais enquanto planejava o que seria a quente, que é a agência de bandas/produtora cultural que montei com um sócio no ano passado. Somos uma das poucas agências de bandas no mercado independente brasileiro e com pouco tempo já conseguimos alguns resultados relevantes. Também fazemos nossos próprios shows, produzimos eventos para clientes externos, fazemos assessoria de imprensa especializada, elaboramos e gerimos projetos de leis de incentivo (a Elza Soares encomendou um projeto de lei com a gente, por exemplo). E paralelamente a isso continuo a parceria com a Casulo Cultura, que foi a primeira produtora cultural em que trabalhei. Através dela me envolvo em projetos mais mainstream, como grandes festivais como o Rock in Rio e o Natura Musical. 


As bandas que você produz podem entrar no Meio Desligado? Como você separa essa questão para justamente fazer uma análise crítica e não se tornar o cara que fala bem das bandas dos amigos, que vc citou na 1ª pergunta?

Questão super pertinente. Eu vejo certo ativismo aí, uma necessidade de atuar mais diretamente nessa cena e nesse mercado, de poder interferir mais diretamente. Antigamente eu me via principalmente como jornalista e depois como produtor cultural. Atualmente, me considero mais um produtor/gestor cultural que também é jornalista. Acho que tento usar a visão do jornalismo pra tentar contribuir com a produção cultural por dentro. E sinto falta de mais gente fazendo isso, gente que atua na área e que exerça uma função crítica sobre ela, como os envolvidos com a Cahiers du Cinéma faziam, sabe? Quando o jornalista cultural passa a atuar como produtor ele não só observa e analisa, com poder de influência, para se transformar em uma potencial ferramenta de transformação dentro daquele ambiente no qual está envolvido. Quando o Lúcio Ribeiro se transforma em produtor acredito que isso seja extremamente benéfico para a cena. Todos sabemos que é ele quem está promovendo o show de tal banda, tal festival. A partir disso, podemos interpretar o que ele escreve sobre esses artistas da forma como quisermos, o importante é contextualizar. O que não acho válido é deixar de tomar uma atitude dentro desse mercado por receio. É bem diferente de tentar se beneficiar exercendo as duas funções. 
Não escondo de ninguém as bandas com as quais trabalho e quando escrever sobre elas vou deixar isso claro. O que tem acontecido até hoje é que primeiro escrevi sobre as bandas e depois começamos a trabalhar juntos, justamente por eles terem se identificado com o que escrevi sobre eles, sobre o que conversamos. Só trabalho com artistas com os quais me identifico e gosto, então é natural que possa escrever sobre eles - seria algo que o faria se não trabalhasse com eles também.
Se você citar os principais artistas da cena independente de MG talvez eu já tenha trabalhado com a maioria deles, em diferentes momentos (assessoria, festivais, produção, consultoria e afins), porque trabalho com muitas produtoras, muitos eventos. Nem por isso escrevi sobre todos esses artistas. Não é a minha relação comercial que irá pautar o Meio Desligado. 


O blog já tem bastante tempo, principalmente, se você pensar em como tudo se altera rapidamente na internet. O Meio Desligado passou por muitas mudanças significativas? As visitas cresceram durante esses anos? Quantos visitantes únicos o blog possui em média? 

Passou por várias mudanças, acho esse um ponto positivo. Considero a mudança super válida, é preciso experimentar, não se acomodar. No geral, não dou a mínima pra acessos. Fiquei muito tempo sem nem olhar o Analytics pra saber como estava, mas de vez em quando entro porque os anunciantes sempre querem saber disso e pedem dados atualizados. Ontem (22/10/2013), por exemplo, ele teve 1.156 acessos. Já teve mais que isso, mas não é algo que me incomode. 


O layout do blog parece ser bem adequado para dar destaque aos vídeos, imagens e players. Há algum tipo de formato na postagem? Como você edita o conteúdo e pensa no formato para tornar o post mais atrativo?

O layout atual é o que mais se diferencia em toda a trajetória do blog. O Meio Desligado não tem anúncio fixo, não tem banner animado, barra lateral, nada disso. O foco é no conteúdo. E para isso quis explorar um formato que eu ainda não tivesse usado, que ocupasse mais a tela e deixasse tudo bem na cara de quem acessa o blog. Engraçado é que fazia muitos meses que não lia o Tiago Dória, uma das minhas maiores influências no início do blog, e reparei que ele fez algo semelhante no seu próprio blog também. 


Muitos jornalistas que trabalham ou trabalharam no meio cultural reclamam da dificuldade de fazer um veículo dessa área no Brasil. Na internet, você encontra inúmeros blogs sobre isso, mas poucos rentáveis. No caso de um blog que fale especificamente sobre bandas independentes brasileiras, então, penso que essa dificuldade seja ainda maior. Mesmo assim, o Meio Desligado tem espaço para anúncios e ações pagas. Você consegue ganhar dinheiro com o blog? É possível se manter apenas com ele?

Eu me manteria com o blog se morasse na casa dos meus pais, não pagasse ingresso para ir a nenhum show ou festa e parasse de beber. Ou seja, o Meio Desligado é, diretamente, um complemento. Indiretamente, ele intermedia outras possibilidades de trabalho que, essas sim, são rentáveis. 


Nos últimos meses, a frequência de posts caiu bastante. Isso tem alguma relação com o uso de redes sociais ou a popularização das plataformas de música, como Spotify e Last.fm, que recomendam artistas e permitem que o público dependa menos do jornalista para conhecer uma banda nova? Você acredita que as pessoas têm interesse em conhecer e ler sobre bandas novas e brasileiras?

Diminuiu porque tenho tido menos tempo para me dedicar ao blog e porque tenho tido um pavor crescente de excesso de informação. Quando entro no Trabalho Sujo, por exemplo, quase tenho um treco com aquele tanto de informação (e maior parte dela é essa coisa piadista da internet). Já que tenho pouco tempo para o blog, penso duas vezes antes de publicar qualquer coisa. Mas estou longe de achar que estou fazendo uma coisa muito boa. Esse é o meu objetivo, mas por enquanto ao menos estou sendo honesto com a minha realidade e em busca de melhorar. 
Sobre o interesse do público, há sim, apesar de ser um segmento bem específico. É muito mais fácil e gera mais frutos falar de coisas mais populares e gringas, mas não é o que me interessa. 
E sobre plataformas de streaming, amo o Deezer. Minha vida mudou depois que passei a usar essa nova versão. Comecei a usá-lo quando foi lançado, anos atrás, pra conhecer algumas bandas francesas e tal. Agora a história é outra, mudou minha vida. Faz meses que enrolo pra fazer um texto sobre isso. 


Marcelo, mas o que te incomoda é o excesso de informação ou a falta de filtragem dele? Será que o jornalista/blogueiro não seria o responsável por selecionar informações relevantes diante desse excesso? O que você acha disso?

A filtram dele é o ponto crucial aqui. A produção ser grande é positiva. É ótimo ter mais gente podendo se expressar através de diferentes pontos de vista, diferentes experiências de vida envolvidas na produção. Nesse cenário, existe uma necessidade crescente de "curadoria", que seria essa filtragem a partir de critérios definidos por quem exerce essa "curadoria" de conteúdo. Se existem cada vez mais coisas incríveis sendo criadas no mundo todo, também estão sendo surgindo muitas que são medíocres e desinteressantes. Apesar de eu achar que cabe a cada indivíduo avaliar como determinada informação irá afetá-lo, é claro que muitas pessoas vão preferir acessar apenas o que já foi analisado por alguém antes e que foi considerado relevante. Mas não acho que seja uma função específica do jornalista, é uma função de quem se identifica e tem interesse com determinado tema. 
Alguns perfis no Twitter fazem bem isso, com seleções constantes de links. O Itaú Cultural ou o Sérgio Motta uma vez fizeram até uma premiação específica para curadoria de links. O Tumblr funciona muito dentro dessa lógica, com os usuários republicando (ou seja, fazendo uma filtragem) daquilo que mais os interessa. A grande comunidade de pornografia do Tumblr funciona basicamente assim, existem alguns blogs mais genéricos todo tipo de pornografia e a partir desses vários blogs temáticos vão filtrando e republicando somente o que se encaixa com seus perfis e suas análises de qualidade. É um tema que cheguei a começar a pesquisar para o meu artigo de pós-graduação mas depois o troquei por outro assunto.


Sobre o Music Alliance Pact. Quando e como surgiu o convite para participar desse projeto?

Eu atualizava um pouco uma versão em inglês do Meio Desligado e pesquisando sobre música brasileira o criador da MAP, um escocês, encontrou o blog. Na época tinha um brasileiro fazendo doutorado na Escócia tendo o Meio Desligado como objeto e imagino que isso tenha ajudado também. 


Você recebe muito material de divulgação de bandas? Como escolhe o que pode ou não entrar no Meio Desligado?

Recebo muita coisa no email do blog (não foi à toa que te pedi para enviar as perguntas em outro email, rs). É cansativo. E como tenho outras atividades que me demandam muito tempo, acabo fazendo uma leitura bem superficial do que chega. São praticamente três coisas que analiso nos emails, para me poupar tempo: 
1: O nome da banda. Se acho o nome da banda idiota, dificilmente vou ouvir. Se não conseguem sequer dar um nome interessante para a banda, o que esperar das músicas e das letras? Às vezes acabo deixando de conhecer algumas coisas boas, mas é raro. Demorei a ouvir o Macaco Bong, no início da banda, por exemplo, porque não gostava do nome. 
2. Anexos. Se enviam email com anexos pesados eu só não apago se for algo que realmente me prenda a atenção (alguma banda que já conheço e gosto, algum festival ou ação que ache interessante). 
3. Se o email foi enviado só pra mim ou estou em uma lista. Se a pessoa te manda um email direcionado, teve o trabalho de parar para te escrever algo, o mínimo que ela merece é um pouco de atenção. Já faz um tempo que não consigo dar um retorno pra esses emails, mas os que chegam diretamente pra mim quase sempre são lidos. 
Apesar disso tudo, é raro alguma pauta chegar até mim por email. Não faço agenda no blog e praticamente não dou notícias, a maioria dos emails é relacionado a isso - algum lançamento. É sobre isso que as outras pessoas estão escrevendo, então prefiro encontrar minhas pautas por conta própria, tentar criar conteúdo que considere relevante, em vez de mais do mesmo.


Você acompanha outros blogs de música? Quais? (Vale nacionais e internacionais)

Leio poucos blogs fixos. Tipo uma vez por semana (ou ainda mais espaçado) acesso o Hominis Canidae, Trabalho Sujo, Urbe (esses dois últimos d'O Esquema), o Lúcio Ribeiro, Miojo Indie. Nesses eu paro para ler o que está escrito. Mas diariamente acesso blogs aleatórios e não leio nada, só dou play nas músicas para saber sobre o que estão falando e na maior parte do tempo me decepciono. O melhor lugar pra conhecer música, pra mim, é no Deezer e nos blogs da Music Alliance Pact. Cada vez que entro em um dos blogs da MAP isso acarreta em no mínimo umas 10 bandas novas pra ouvir, porque pesquiso sobre elas, ouço artistas da região delas, coisas do tipo. Ah, e de vez em quando leio a Pitchfork também, mas é mais pra rir do tanto de porcaria que eles supervalorizam. 


Qual a sua opinião sobre o jornalismo musical diante das novas mídias? E sobre a blogosfera de música? Quais aspectos positivos e negativos você considera?

Acho que as pessoas que estão nesse meio não pensam muito em explorar o formato. Alguns sequer parecem pensar no conteúdo, mas vejo que alguns escrevem super bem, têm textos mais elaborados, mas se você estivesse lendo em outro suporte, a diferença seria mínima. 
E tem uma coisa que me incomoda muito, que é a forma como utilizam as redes sociais. O sujeito faz uma notícia informando que a banda X foi confirmada em tal festival. Em vez de o imbecil tweetar que "a banda X vai tocar no festival tal" ele escreve "saiba quem é a nova banda confirmada no festival tal". Pra que isso? É uma bobagem fazer esse tipo de coisa pra ganhar uns acessos adicionais. O Twitter pode funcionar por si só. Se você consegue passar a informação em poucos caracteres, faça isso e deixe o link para quem quiser informações adicionais, não use as redes sociais apenas como caminho. 


Quais dicas você daria para alguém que tem um blog e quer ganhar relevância na web?

Não desista. 


Se você pudesse definir o Meio Desligado em algumas músicas ou uma banda, quais seriam?

Não dá. O máximo que consigo é relacioná-lo a algum festival, como o Eletronika e o Escambo (festival que produzi em Sabará através do coletivo Fórceps e que já teve bandas como Black Drawing Chalks, Macaco Bong, Transmissor, Dibigode, Marcelo Jeneci, Emicida, Constantina, Cabruêra, Flávio Renegado e outros). O Eletronika tem esse conceito da música experimental junto com a música mais de entretenimento, da tecnologia e da cultura digital, temas diretamente ligados ao blog. 

Você nasceu e mora em Minas Gerais? Quantos anos você tem?
Nasci em Sabará, uma cidade histórica ao lado de BH, mas vivi meus primeiros 10 anos em outra cidade, a uns 100km da capital. Depois disso, voltei pra Sabará e moro em BH há algum tempo. Tenho 26 anos.

21 de outubro de 2013

A nova TV

Depois de um ano e oito meses em seu formato inicial, coloquei uma nova versão da TV Meio Desligado no ar. A exibição sequencial e automática dos vídeos, que buscava reproduzir a experiência tradicional da TV, foi interrompida e agora os vídeos são apresentados em um modelo full screen minimalista, organizados como em um blog tradicional.

Quem ainda quiser a experiência de exibição dos vídeos sequencial (só dar play e assistir a toda a programação sem ter que fazer mais nada), ainda pode fazê-lo por aqui, no Vimeo do blog.

Ainda estou alterando algumas coisas no código da página e sugestões (e críticas) são bem vindas. Aproveitando a oportunidade, aqui vão alguns dos vídeos publicados por lá já na nova versão.










5 de junho de 2013

Resumo da tv.meiodesligado em Maio: só shows completos


Fugazi em Piracicaba (1997)

Chico Science & Nação Zumbi no Hollywood Rock (1996)

Black Sabbath em Paris (1970)

The Clash em Tóquio (1982)

Nirvana no Hollywood Rock (1993)

13 de maio de 2013

Meio Desligado indicado ao Prêmio Dynamite 2013


Descobri por acaso, outro dia, que o Meio Desligado está indicado ao Prêmio Dynamite na categoria "Melhor site, blog, coluna ou fanzine". Fico feliz por ser indicado e concorrer com sites como Catarse, Trama Virtual e Toque no Brasil. Se você quiser votar, vai lá: premiodynamite.com.br

Em outras categorias o prêmio destaca selos, eventos, casas de shows, CDs em diferentes gêneros musicais e outros recortes temáticos. Uma iniciativa boa, apesar de não demonstrar muito critério na seleção dos indicados e priorizar a quantidade de indicações.

26 de março de 2013

Entrevista sobre a cena independente e mídias digitais

Alguns estudantes do curso de Especialização em Mídias Digitais do SENAC/SP estão fazendo uma pesquisa sobre "novas formas de produção e divulgação de música através das mídias digitais" e entraram em contato para conversarmos sobre o assunto. Respondi algumas perguntas para eles, conforme você pode ler abaixo.

Como você situa a produção musical independente nos dias de hoje?
Ela é a maior parte do que se produz mundialmente. Antigamente as grandes empresas de música estavam focadas em vender muito mas de poucos artistas (a lógica inversa da cauda longa, criando poucos grandes astros mas que rendem muito), mas até mesmo elas estão cada vez mais ligadas no que acontece no meio independente agora, pois é a cena mais efervescente, com mais novidades (e, por isso também, com potencial de lucratividade).

O que está dando certo?
As bandas estão alcançando um público maior e com menos custo pra que isso aconteça.

O que não funcionou?
A sustentabilidade na cena independente ainda é muito difícil e o mercado precisa se desenvolver. É preciso formar mais público e profissionais que atuam nesse mercado, assim como se aproximar mais da iniciativa privada para captar recursos para a cena independente.

No seu blog você compilou um manual para a divulgação de bandas independentes, utilizando as plataformas digitais e as mídias sociais. O quão importante hoje é o ambiente digital no sucesso de uma banda/músico?
É através dessas plataformas que a maioria dos artistas chega ao público. Se dependessem exclusivamente de gravadoras e veículos tradicionais de mídia, a difusão de suas obras seria extremamente limitada. A divulgação online é essencial. Mesmo que o próprio artista não disponibilize seu material online, à medida que ele atingir um público interessado sua transposição pro ambiente virtual é quase que natural atualmente.

No contraponto com a estrutura de produção tradicional das gravadoras, o que as iniciativas digitais trazem de diferencial? E o que não funciona?
No ambiente digital são todos produzindo para todos, em vez de alguns detentores dos meios de produção e distribuição definirem o material a ser difundido. Aumenta a produção e, consequentemente, a competitividade e a dificuldade em se destacar em meio ao grande volume disponível.

As plataformas digitais podem ser importantes em outros aspectos? Quais?
O meio digital influencia toda a cadeia produtiva da música. Do empresário que se organiza e fecha shows através da internet às ferramentas de produção e pós-produção acessíveis via web, passando aí pelo cara que aprende a tocar algum novo instrumento pela web (ou cujo próprio "instrumento" tocado é virtual) ao público que compra os produtos da banda e o ingresso do show virtualmente. As possibilidades são inúmeras.

Você apontaria tendências nesse cenário?
O fim do download. As conexões estão cada vez mais rápidas e o volume de músicas disponíveis para audição online não para de crescer. Os números de celulares conectados 24 horas à internet também cresce sem parar. Nesse contexto, se a música está disponível online à qualquer momento, em qualquer lugar, não faz sentido o armazenamento de arquivos da forma como estávamos (ou estamos) acostumados.

Você acha que é possível viver de música hoje? Como?
Claro! É dificil, mas claro que é possível. O que eu percebo trabalhando nesse mercado é que a maioria dos músicos, para sobreviver somente da música, é obrigada a tocar com mais de um artista. Eles geralmente possuem seus trabalhos autorais mas para ter uma renda melhor precisavam trabalhar como músicos de apoio de outros grupos e em gravações de estúdio.

Com tantas ferramentas de produção, onde se situa a figura tradicional do produtor musical? Acredita que esta função tende a desaparecer?
O produtor vai muito além de saber utilizar as ferramentas, é um cara que geralmente tem um grande conhecimento musical, muitas referências e ideias a aplicar ao som da banda. Varia de acordo com a proposta de cada banda, mas não vejo risco para essa função. Uma coisa é se ter alguém que saiba operar tudo, um bom engenheiro de áudio, outra coisa é ter um produtor que entenda a proposta da banda e capte o que ela tem de melhor, que explore seu potencial.

24 de janeiro de 2013

Vencedores da promoção de vinis


Demorou, mas chegou a hora! Quem leva os vinis da Jennifer Lo-fi e Zebra Zebra são Fernando Bones e Marcelo Araújo.

Como demorei praticamente dois meses além do prazo inicial para divulgar os vencedores, eles também vão levar um CD de brinde. 

8 de janeiro de 2013

TV conceitual

"Corpo e movimento" são os temas do mês inteiro na tv.meiodesligado.com, testando um formato diferente.

2 de janeiro de 2013

Melhores músicas de 2012 na escolha do Meio Desligado

Lista feita a pedido do ótimo blog Hominis Canidae para uma parceria deles com o pessoal do Coquetel  Molotov (responsáveis pelo festival de mesmo nome, um dos eventos musicais mais interessantes do Brasil), para o programa de rádio destes. Assim como todas as listas, é uma seleção limitada da grande produção nacional de 2012, mas que segue um recorte estético de acordo com o Meio Desligado e que reúne alguns dos principais "hits pessoais" (as músicas que mais ouvi) desse ano.


Abaixo, a lista completa enviada para eles, com nome do artista, "nome da música" e (nome do álbum).

  • Gui Amabis - "Menino horrível" (Trabalhos carnívoros)
  • Metá metá - "Man feriman" (MetaL MetaL)
  • Jair Naves - "Pronto pra morrer (o poder de uma mentira dita mil vezes)" (E você se sente numa cela escura, planejando a sua fuga, cavando o chão com as próprias unhas)
  • Sexy Fi - "Pequeno dicionário das ruas" (Nunca te vi de boa)
  • Leonardo Marques - "Linha do trem" (Dia e noite no mesmo céu)
  • Siba - "Brisa" (Avante)
  • Tulipa Ruiz - "Quando eu achar" (Tudo tanto)
  • Thiago Pethit - "Moon" (Estrela decadente)
  • Iconili - "O rei de tupanga" (single)
  • Abayomy Afrobeat Orquestra - "Afrodisíaco" (Abayomy)

31 de dezembro de 2012

Tchau, 2012


O que aprendemos em 2012? Se pudesse responder assim tão facilmente, em poucas palavras, certamente não chegaria a um resultado muito positivo. Eu realmente não me importo muito com mudanças de ano e recortes temporais definidos. O principal ponto de uma virada de ano é a esperança de renovação que ela carrega consigo, mas, a partir do momento em que você se sente confortável com a noção de que é você o responsável pela maioria das mudanças que podem acontecer - e (tentar) fazer isso a qualquer momento, durante toda a sua vida - a expectativa que marca essa época do ano passa a ser opcional. No fim, é apenas uma forma de facilitar a organização das memórias e experiências em nossas mentes.

Pensando nisso, o que marcou esses últimos 300 e tantos dias? As coisas têm acontecido tão rapidamente (e em grande quantidade) que muitas vezes a organização temporal dos acontecimentos fica confusa. Coisas que já parecem distantes ocorreram talvez semanas ou apenas dias atrás. A tal velocidade da informação e o grande fluxo de comunicação embaralhando a ordem de tudo.

Assim, é extremamente difícil para mim uma retrospectiva sincera e pessoal deste ano. Obviamente, alguns acontecimentos se destacam, apesar de ficar a certeza de que outros muitos também importantes/prazerosos virão à mente em momentos futuros.

Uma das certezas é que 2012 não foi o melhor ano do Meio Desligado. Por outro lado, isso reflete a agitação da minha vida pessoal e como isso afeta o blog. Foi um ano de muitas e intensas experiências, nem sempre positivas para a qualidade e periodicidade do Meio Desligado, mas cruciais para mim.

Passei os primeiros 4 meses do ano trabalhando em um negócio próprio, a maior parte do tempo em casa. Um experimento no meio de comunicação digital que depois de um breve período decidimos (eu e meus dois parceiros nessa empreitada) não levar em frente como nosso objetivo principal.


Fiz viagens incríveis nas quais aprendi muito, conheci pessoas que mudaram a minha vida de diferentes formas, trabalhei com empresas e pessoas diferentes, errei, testei muitas coisas, errei mais, perdi, gastei e também deixei de fazer coisas que tinha planejado.

Pausa. 

O que me faz lembrar de um pensamento recorrente de que todos os verbos referentes a coisas positivas terminam em "ar" ou "ir", sendo estes próprios, referentes às duas coisas que seriam a essência da vida: respirar (se manter vivo) e se movimentar (não permanecer em um mesmo lugar). Faça o teste, pense em verbos no infinitivo. "Comer" é uma das poucas exceções à regra de "ir" e "ar").

Voltando.

A sensação agora, refletindo sobre tudo o que aconteceu e tem acontecido, é de que caberiam alguns outros anos dentro deste 2012, tamanha a quantidade e diversidade de acontecimentos e experiências. E, repetida muitas vezes nesse texto, "experiência" talvez seja a palavra que fique na minha mente ao lembrar dos últimos 12 meses. Para o que vem pela frente, fica a sensação de que terei muito o que fazer, principalmente no que diz respeito ao meu novo "empreendimento" (sempre me vem uma imagem de prepotência quando leio essa palavra), a quente.

Às vezes todo o acontecimento é tão inesperado que é difícil de ser entendido e chega até mesmo a extrapolar sua capacidade de se surpreender com aquilo. Talvez 2012 seja um pouco assim e leve um tempo pra entender melhor tudo isso. De qualquer forma, o processo foi divertido.

10 de dezembro de 2012

Nova música instrumental mineira em museu de Nova York

Em Setembro, foi realizado o Brazilian Music Day, uma data para a celebração da música brasileira no exterior. Como parte disso, o museu ARChive of Contemporary Music, de Nova York, me convidou para fazer uma curadoria de músicas brasileiras contemporâneas e pediu que fizesse um recorte temático bem definido. Decidi fazer uma seleção que chamei de "Nova geração da vanguarda da música instrumental de Minas Gerais" (apesar de ter ficado muito em dúvida sobre o uso do termo "vanguarda").

Abaixo, um resumo dos textos que enviei sobre cada banda.

Dibigode - dibigode.com 
Com influências que passam por nomes locais como Uakti e Milton Nascimento e bandas estrangeiras como Tortoise e Battles, o Dibigode caminha por um pós-rock abrasileirado marcado pelas linhas melódicas e dinâmicas.


Constantina - constantina.art.br
Trilha sonora para sonhar acordado, pós-rock com um pé na África.


Barulhista - barulhista.com
Música complexa para dançar sentado (baseado em definição do próprio artista).

Iconili - iconili.tumblr.com
Afrobeat temperado com free jazz e música brasileira, feita por esse grupo de 11 pessoas com um background no jazz e no prog rock.


Lise - www.projetolise.com 
Experimentos eletroacústicos dessa one-man band que ao vivo sempre resulta em novas experiências, fruto das parcerias com diferentes artistas da cena underground.

4instrumental - 4instrumental.tnb.art.br 
Música clássica, rock progressivo, metal alternativo, Clube da Esquina, mangue beat e latinidades constroem o som deste quarteto virtuose, cujo estilo de vida é algo como "hippie hi-tech".

oscilloID - www.oscilloid.net
The oscilations between languages and several techniques, the dancefloor and the family Sunday lunches, the Tai Chi and the puns, the adiction on movies and the umbanda, the phonographic industry transmutation and the information burst on the web, the “mouse-fingering” and the “guitar-sequencing”, the free software and the comunities, the kung-fu and the bohemic lifestyles, the love for the family and for the friends… the will to express through the sonorous pulsation, the spirit of a musical ID in constant development and transformation.

3 de dezembro de 2012

29 de novembro de 2012

Cobertura de uma longa viagem através das fotos que não fiz

15 de Novembro, Ana Rosa, São Paulo
Origamis coloridos, pendurados em barbantes, decoram o centro do bar. Ao fundo, camisetas de bebê com estampas de bandas de rock também estão penduradas e complementam a decoração improvisada. Enquanto um gordinho de óculos grita ao microfone (cantando Tim Maia, mas impossível saber isso através da foto não feita), um sorridente Jair Naves gira no chão em um movimento inesperado (porém aplaudido), com a mesma sagacidade com que se joga do palco ou sobe nas estruturas montadas em seus shows. À sua esquerda, Siba permanece sentado, olhar intelectual, concentrado na conversa com a bela mulher ao seu lado. Fernando Catatau estava do lado de fora e não sairia na foto (e provavelmente não se deu conta do que acontecia por ali).

1º de Novembro, Lapa, Rio de Janeiro
As duas dançarinas/acrobatas estão na linha dos meus olhos. Estou na parte de cima do Circo Voador e elas, há metros do chão, penduradas em tecidos presos ao teto do local. Apesar dos corpos definidos e dos muitos volumes, ressaltados pelas roupas justas, fica claro os poucos anos que cada uma carrega. Ao meu lado, encostado na barra de proteção (da qual esqueci o nome), um hippie universitário (que em Minas seria simplesmente chamado de "tilelê") as fotografa. Ao fundo da imagem, o Iconili se prepara para a passagem de som para o show que faria ali, horas mais tarde, para centenas de pessoas. Dos 11 integrantes da banda, seis estão olhando para a dança/acrobacia das garotas, três estão concentrados em seus instrumentos e dois não apareceriam na foto, pois saíram para fumar maconha.

10 de Novembro, Leblon, Rio de Janeiro
Um close em uma escada de madeira fina, com poucos degraus, aparentemente molhados. Ao fundo, percebe-se que a escada leva a um palco. Ao lado da escada, um dos integrantes do Dibigode aparece borrado pelo movimento, levando as últimas cervejas do camarim. Faço a foto antes que o Ed Motta suba essa mesma escada e aposto R$ 20 que ela quebrará com ele. 

14 de Novembro, Vila Madalena, São Paulo
Sentados na cozinha, ao redor de uma mesa circular coberta com plástico branco de detalhes azuis, sobre o qual estão um pacote de pão, uma embalagem de 1 litro de suco de uva e meio croissant que comprei no dia anterior (quando a atendente da padaria ria do meu sotaque mineiro e pedia, com uma mistura de prazer e dó, que eu repetisse cada palavra), estão Felipe Cordeiro e seu pai, Manoel Cordeiro, compondo. Manoel está de costas, pode-se ver apenas o braço do violão que carrega no colo. Felipe está de frente para ele, bigode e cabelos atrapalhados, sorrindo. Tocam uma música que compõem em parceria com um renomado artista de São Paulo e que ficaria na minha cabeça por longas horas.

13 de Novembro, Pompeia, São Paulo
Em frente à entrada do camarim da Choperia do Sesc Pompeia, acima da cozinha da unidade do Sesc, paro, de costas para a entrada, e faço uma foto de mim mesmo. Quatro anos antes, naquele mesmo lugar, registrei o momento da minha primeira viagem como produtor cultural. Não gosto da foto e a refaço três vezes. No fim, desisto e encho de efeitos no celular.

12 de Novembro, Rua Augusta, São Paulo
Parece cena de churrasco na casa de um bicheiro, mas estamos durante a madrugada em um "bar de acompanhantes". Apareço na foto com duas garotas seminuas me abraçando, uma de cada lado, fazendo V com os dedos para a foto e, ao fundo, o churrasqueiro oferece um espetinho (gratuito),  a um japonês de óculos, com seus trinta e poucos anos, todo sorridente.

16 de Novembro, Casa das Caldeiras, São Paulo
Estamos eu, o Emicida e a Renata, produtora dele, no camarim, de pé, enquanto o pessoal do Mãodeoito conversa sentado, ao lado. O Emicida sorri e lembra de quando nos encontramos em Londres, enquanto ele traficava Guaraná Antarctica no Barbican. Ele segura um adesivo do Iconili e a Renata, uma camisa da banda. O suor escorre na minha teste e cai no meu olho, fazendo com que ele saia fechado na foto.

23 de Novembro, Centro, Rio de Janeiro
A imagem é apenas um borrão em tons de ferrugem com um rastro de luz incandescente. A foto seria de um dos muitos vagões deteriorados da estação Leopoldina, com sua decadência transformada em atração durante a realização do festival Back2Black. No momento da foto, o baixista da banda ______ (melhor não contar o nome), me puxa pelo ombro e conta que Patrícia Pillar e Regina Casé estão por ali e, acredite, pretende abordar (com interesses sexuais) a primeira delas que encontrar. Finjo que vi a Nneka no meio da plateia, aponto a direção, e ele parte.

25 de outubro de 2012

Pausa: puta confusão

Jaqueline era uma puta gostosa. Não que ela fosse puta, mas era mais que gostosa. Era uma puta gostosa. Apesar de não ser puta.

Raquel era uma puta gostosa. Não que ela fosse tão gostosa assim, mas, dentre as putas que ele conhecia, era gostosa. Uma puta gostosa.

Karina não era puta nem gostosa, mas o amava. Isso é o que importa, ele pensou, enquanto a traía com duas putas gostosas. 

24 de outubro de 2012

Sangue não é champanhe

Recentemente um videoclipe cheio de belas cenas de mulheres nuas, registradas pela fotógrafa Autumn Sonnichsen, obteve certa repercussão na internet (mérito da parte visual, a despeito do áudio). O clipe em questão é o de "Sangue é champanhe", do Don L, do bom grupo cearense de hip hop Costa a Costa. Com imagens de bastidores de ensaios feitos por Sonnichsen e registros aleatórios filmados por ela, o vídeo é sexy e tem um charme falsamente despretensioso, mas a música fica muito aquém do conteúdo visual. Com o vocal marcado pelo auto-tune enjoado e letra fraca ("banheira de espuma feito a lua e a princesa nua", entre outras), assistir ao vídeo sem áudio era a melhor opção.

Incomodado, resolvi fazer uma versão alternativa, com o mesmo vídeo, mas outra música. A faixa instrumental que acompanha o vídeo é sobra dos tempos de P.U.T.A, não me lembro do nome (acho que foi a primeira coisa que gravei na vida).

Pode ser que continue ruim, mas foi uma tentativa...



O mesmo Don L lançou uma música até divertida na qual sampleou "Everlasting light", do Black Keys, e vende como se fosse uma "participação especial" da banda. Deve ter futuro no rap pop - ao menos a parte da picaretagem parece já ter aprendido.

 

Arquivos do blog