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26 de março de 2013

Entrevista sobre a cena independente e mídias digitais

Alguns estudantes do curso de Especialização em Mídias Digitais do SENAC/SP estão fazendo uma pesquisa sobre "novas formas de produção e divulgação de música através das mídias digitais" e entraram em contato para conversarmos sobre o assunto. Respondi algumas perguntas para eles, conforme você pode ler abaixo.

Como você situa a produção musical independente nos dias de hoje?
Ela é a maior parte do que se produz mundialmente. Antigamente as grandes empresas de música estavam focadas em vender muito mas de poucos artistas (a lógica inversa da cauda longa, criando poucos grandes astros mas que rendem muito), mas até mesmo elas estão cada vez mais ligadas no que acontece no meio independente agora, pois é a cena mais efervescente, com mais novidades (e, por isso também, com potencial de lucratividade).

O que está dando certo?
As bandas estão alcançando um público maior e com menos custo pra que isso aconteça.

O que não funcionou?
A sustentabilidade na cena independente ainda é muito difícil e o mercado precisa se desenvolver. É preciso formar mais público e profissionais que atuam nesse mercado, assim como se aproximar mais da iniciativa privada para captar recursos para a cena independente.

No seu blog você compilou um manual para a divulgação de bandas independentes, utilizando as plataformas digitais e as mídias sociais. O quão importante hoje é o ambiente digital no sucesso de uma banda/músico?
É através dessas plataformas que a maioria dos artistas chega ao público. Se dependessem exclusivamente de gravadoras e veículos tradicionais de mídia, a difusão de suas obras seria extremamente limitada. A divulgação online é essencial. Mesmo que o próprio artista não disponibilize seu material online, à medida que ele atingir um público interessado sua transposição pro ambiente virtual é quase que natural atualmente.

No contraponto com a estrutura de produção tradicional das gravadoras, o que as iniciativas digitais trazem de diferencial? E o que não funciona?
No ambiente digital são todos produzindo para todos, em vez de alguns detentores dos meios de produção e distribuição definirem o material a ser difundido. Aumenta a produção e, consequentemente, a competitividade e a dificuldade em se destacar em meio ao grande volume disponível.

As plataformas digitais podem ser importantes em outros aspectos? Quais?
O meio digital influencia toda a cadeia produtiva da música. Do empresário que se organiza e fecha shows através da internet às ferramentas de produção e pós-produção acessíveis via web, passando aí pelo cara que aprende a tocar algum novo instrumento pela web (ou cujo próprio "instrumento" tocado é virtual) ao público que compra os produtos da banda e o ingresso do show virtualmente. As possibilidades são inúmeras.

Você apontaria tendências nesse cenário?
O fim do download. As conexões estão cada vez mais rápidas e o volume de músicas disponíveis para audição online não para de crescer. Os números de celulares conectados 24 horas à internet também cresce sem parar. Nesse contexto, se a música está disponível online à qualquer momento, em qualquer lugar, não faz sentido o armazenamento de arquivos da forma como estávamos (ou estamos) acostumados.

Você acha que é possível viver de música hoje? Como?
Claro! É dificil, mas claro que é possível. O que eu percebo trabalhando nesse mercado é que a maioria dos músicos, para sobreviver somente da música, é obrigada a tocar com mais de um artista. Eles geralmente possuem seus trabalhos autorais mas para ter uma renda melhor precisavam trabalhar como músicos de apoio de outros grupos e em gravações de estúdio.

Com tantas ferramentas de produção, onde se situa a figura tradicional do produtor musical? Acredita que esta função tende a desaparecer?
O produtor vai muito além de saber utilizar as ferramentas, é um cara que geralmente tem um grande conhecimento musical, muitas referências e ideias a aplicar ao som da banda. Varia de acordo com a proposta de cada banda, mas não vejo risco para essa função. Uma coisa é se ter alguém que saiba operar tudo, um bom engenheiro de áudio, outra coisa é ter um produtor que entenda a proposta da banda e capte o que ela tem de melhor, que explore seu potencial.

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