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29 de novembro de 2012

Cobertura de uma longa viagem através das fotos que não fiz

15 de Novembro, Ana Rosa, São Paulo
Origamis coloridos, pendurados em barbantes, decoram o centro do bar. Ao fundo, camisetas de bebê com estampas de bandas de rock também estão penduradas e complementam a decoração improvisada. Enquanto um gordinho de óculos grita ao microfone (cantando Tim Maia, mas impossível saber isso através da foto não feita), um sorridente Jair Naves gira no chão em um movimento inesperado (porém aplaudido), com a mesma sagacidade com que se joga do palco ou sobe nas estruturas montadas em seus shows. À sua esquerda, Siba permanece sentado, olhar intelectual, concentrado na conversa com a bela mulher ao seu lado. Fernando Catatau estava do lado de fora e não sairia na foto (e provavelmente não se deu conta do que acontecia por ali).

1º de Novembro, Lapa, Rio de Janeiro
As duas dançarinas/acrobatas estão na linha dos meus olhos. Estou na parte de cima do Circo Voador e elas, há metros do chão, penduradas em tecidos presos ao teto do local. Apesar dos corpos definidos e dos muitos volumes, ressaltados pelas roupas justas, fica claro os poucos anos que cada uma carrega. Ao meu lado, encostado na barra de proteção (da qual esqueci o nome), um hippie universitário (que em Minas seria simplesmente chamado de "tilelê") as fotografa. Ao fundo da imagem, o Iconili se prepara para a passagem de som para o show que faria ali, horas mais tarde, para centenas de pessoas. Dos 11 integrantes da banda, seis estão olhando para a dança/acrobacia das garotas, três estão concentrados em seus instrumentos e dois não apareceriam na foto, pois saíram para fumar maconha.

10 de Novembro, Leblon, Rio de Janeiro
Um close em uma escada de madeira fina, com poucos degraus, aparentemente molhados. Ao fundo, percebe-se que a escada leva a um palco. Ao lado da escada, um dos integrantes do Dibigode aparece borrado pelo movimento, levando as últimas cervejas do camarim. Faço a foto antes que o Ed Motta suba essa mesma escada e aposto R$ 20 que ela quebrará com ele. 

14 de Novembro, Vila Madalena, São Paulo
Sentados na cozinha, ao redor de uma mesa circular coberta com plástico branco de detalhes azuis, sobre o qual estão um pacote de pão, uma embalagem de 1 litro de suco de uva e meio croissant que comprei no dia anterior (quando a atendente da padaria ria do meu sotaque mineiro e pedia, com uma mistura de prazer e dó, que eu repetisse cada palavra), estão Felipe Cordeiro e seu pai, Manoel Cordeiro, compondo. Manoel está de costas, pode-se ver apenas o braço do violão que carrega no colo. Felipe está de frente para ele, bigode e cabelos atrapalhados, sorrindo. Tocam uma música que compõem em parceria com um renomado artista de São Paulo e que ficaria na minha cabeça por longas horas.

13 de Novembro, Pompeia, São Paulo
Em frente à entrada do camarim da Choperia do Sesc Pompeia, acima da cozinha da unidade do Sesc, paro, de costas para a entrada, e faço uma foto de mim mesmo. Quatro anos antes, naquele mesmo lugar, registrei o momento da minha primeira viagem como produtor cultural. Não gosto da foto e a refaço três vezes. No fim, desisto e encho de efeitos no celular.

12 de Novembro, Rua Augusta, São Paulo
Parece cena de churrasco na casa de um bicheiro, mas estamos durante a madrugada em um "bar de acompanhantes". Apareço na foto com duas garotas seminuas me abraçando, uma de cada lado, fazendo V com os dedos para a foto e, ao fundo, o churrasqueiro oferece um espetinho (gratuito),  a um japonês de óculos, com seus trinta e poucos anos, todo sorridente.

16 de Novembro, Casa das Caldeiras, São Paulo
Estamos eu, o Emicida e a Renata, produtora dele, no camarim, de pé, enquanto o pessoal do Mãodeoito conversa sentado, ao lado. O Emicida sorri e lembra de quando nos encontramos em Londres, enquanto ele traficava Guaraná Antarctica no Barbican. Ele segura um adesivo do Iconili e a Renata, uma camisa da banda. O suor escorre na minha teste e cai no meu olho, fazendo com que ele saia fechado na foto.

23 de Novembro, Centro, Rio de Janeiro
A imagem é apenas um borrão em tons de ferrugem com um rastro de luz incandescente. A foto seria de um dos muitos vagões deteriorados da estação Leopoldina, com sua decadência transformada em atração durante a realização do festival Back2Black. No momento da foto, o baixista da banda ______ (melhor não contar o nome), me puxa pelo ombro e conta que Patrícia Pillar e Regina Casé estão por ali e, acredite, pretende abordar (com interesses sexuais) a primeira delas que encontrar. Finjo que vi a Nneka no meio da plateia, aponto a direção, e ele parte.

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