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29 de fevereiro de 2008

Tchau, Carvão!

Carvão fazendo pose
Acabei de receber este email:

"Moçada,
Agradeço a todos que deram apoio a minha participação no grupo U.D.R. e me despeço do cargo de MC Carvão.
Estes anos foram muito legais, recheados de tremendas confusões e muitas aventuras.
Não sei se vou continuar "fazendo musica", nem os próximos passos da U.D.R.
Esporadicamente lanço musicas no: http://www.myspace.com/porquinho , mas não sei se isso continua também. Devo ter me cansado mesmo.
É isso! Obrigado denouvo.
Peixes!
MC Carvão."

Seria uma piada?

Por enquanto não há nada no MySpace da banda que confirme a saída de Carvão. Para saber mais sobre a banda, você pode ler a matéria sobre eles aqui no Meio Desligado.

E para os iniciados, a dica é ouvir "O Dilema Colombiano", música que euzinho aqui fiz em parceria com Carvão para o projeto de grindcore Viva Nayla!, que acabou por influenciar (?) o mais recente EP da UDR, O Shape do Punk do Cão.


26 de fevereiro de 2008

Evidente divulga programação


A primeira edição do festival Evidente (RJ) é na verdade a décima edição do festival Algumas Pessoas Sempre Tentam te Fuder realizado pelo selo Midsummer Madness. O festival mudou de nome e de formato mesclando atrações do próprio selo, internacionais, de outros selos ou mesmo gente que nem tem selo ainda.

Para quem não sabe, Shellac é nada menos que a banda do produtor Steve Albini (Nirvana, PJ Harvey, Pixies, etc), Smack é a banda que reúne Edgar Scandura (IRA!), Sandra Coutinho (Mercenárias) e Pamps. Mallu Magalhões é a garota de 15 anos que faz folk e virou sensação indie graças ao MySpace nos últimos meses. A programação do Evidente também traz algumas surpresas como a Banda Leme com nova formação incluindo De Leve e Flu e a volta do Luisa Mandou um Beijo após um ano parados.

Trecho do release:
"Mas, é EVIDENTE que a música feita no Brasil por novos artistas é muito boa.
A idéia do EVIDENTE é criar um espaço onde estes novos artistas poderão mostrar, com boa qualidade técnica, sua música. Todos os shows dentro do EVIDENTE serão gravados em áudio e vídeo e deste conteúdo sairão programas de rádio, de TV, vídeos para internet, músicas para podcasts, blogs, agregadores etc.
Todos os artistas que se apresentarem no festival vão tocar músicas inéditas, ou compor jam sessions exclusivas, ou até mesmo apresentarem shows únicos, como tributos e releitura de discos. Assim, para quem não esteve nos shows, os vídeos e mp3 evidentes que circularão por aí, serão arquivos raros, essenciais para quem gosta de música.
O que o EVIDENTE quer é oferecer às bandas “um passo adiante”, colocá-las em evidência para público e mídia. E também oferecer ao público a música nova boa que tanto se ouve falar mas pouco se escuta."

PROGRAMAÇÃO FESTIVAL EVIDENTE

18/ março 2008 - terça feira
João Brasil (www.joaobrasil.com.br)
Banda Leme (www.www.myspace.com/bandaleme)
Local: Cinematheque (R. Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo / RJ)
Ingressos: R$30 / R$20 com flyer até 23h / R$15 (lista amiga)

25/março 2008 - terça feira
Shellac (eua) (www.touchandgorecords.com)
Smack (www.myspace.com/bandasmack)
Local: Teatro Odisséia (Av. Mem de Sá, 66 - Lapa / RJ)
Ingressos: R$40 / R$30 com flyer até 23h / R$20 (lista amiga)

28/março 2008 - sexta feira
Luisa mandou um beijo (www.mmrecords.com.br)
Mallu Magalhães (www.myspace.com/mallumagalhaes)
Local: Cinematheque (R. Voluntários da Pátria, 53 - Botafogo / RJ)
Ingressos: R$30 / R$20 com flyer até 23h / R$15 (lista amiga)

25 de fevereiro de 2008

A rede independente (parte 1)

Já começo este texto com a certeza perturbadora de que ao final ele estará incompleto deixando de lado vários dos atores fundamentais que atuam na construção do que está se tornando uma imensa e inédita rede de comunicação cultural independente no Brasil. O fato é que torna-se cada vez mais difícil ter alguns poucos sites e blogs como referência de música independente e/ou alternativa no Brasil. A tão propagada horizontalidade, velocidade e interatividade proporcionadas pela internet são vantagens cada vez mais exploradas por quem está envolvido de algum modo com produção cultural e, principalmente, musical no país. Produtores, bandas, técnicos e público de todos os cantos do Brasil estão cada vez mais juntos, se conhecendo melhor a cada dia e tornando a idéia de que é possível fazer frente ao mercadão cada vez mais palpável. Iniciativas como a Abrafin, o Circuito Fora do Eixo e a Associação de Casas de Shows (ainda não lançada oficialmente), o apoio do Ministério da Cultura, do Ministério do Trabalho e de empresas como a Petrobras e a Sol só corroboram o que muitos já perceberam: o futuro da música nacional está no mercado independente.

Saiba quem é quem no circuito independente brasileiro hoje:


Goma
Onde: Uberlândia (MG)
O que é: Coletivo, Bar Café, Casa Noturna e Loja
Online: gomamg.blogspot.com
Festival: Jambolada e Grito Rock Uberlândia
Contato: contato.goma@gmail.com

Do Sol
Onde: Natal (RN)
O que é: Produtora, Selo, Rock Bar e Estúdio
Online: www.dosol.com.br
Festival: Do Sol e Grito Rock Natal
Contato: assessoria@dosol.com.br

Torneira Produções Independentes
Onde: Brasília
O que é: Produtora
Online: www.torneiraprod.com
Festival: Torneira Mecânica e Grito Rock Brasília
Contato: contato@torneiraprod.com

Reator
Onde: Goiânia (GO)
O que é: Programa de rádio, de tv e podcast
Online: www.programareator.com
Festival: Não tem
Contato: pedrofernandesloc@hotmail.com

A Obra
Onde: Belo Horizonte (MG)
O que é: Bar dançante
Online: www.aobra.com.br
Festival: Primeiro Campeonato Mineiro de Surf, Grito Rock BH e Garimpo
Contato: aobra@aobra.com.br

Abrafin
Onde: Nacional
O que é: Associação Brasileira de Festivais Independentes
Online: www.abrafin.com.br
Festival: Reúne cerca de 30 festivais no momento
Contato: Pelo site

Espaço Cubo
Onde: Cuiabá (MT)
O que é: Coletivo, casa de shows, selo, coletivo de audiovisual e de Imprensa
Online: www.espacocubo.blogger.com.br
Festival: Calango e Grito Rock Cuiabá e Semus (realizado pela Volume)
Contato: cuboatendimento@gmail.com

Rock Feminino
Onde: Rio Claro (SP)
O que é: Produtora
Online: www.rockfeminino.org
Festival: Rock Feminino e Grito Rock Rio Claro
Contato: No site

TramaVirtual
Onde: São Paulo (SP)
O que é: Site que hospeda músicas e remunera os músicos de acordo com a quantidade de downloads. Possui programa de tv no Multshow (colocado também no Youtube)
Online: www.tramavirtual.com.br
Festival: Não tem
Contato: tramavirtual@trama.com.br

SenhorF
Onde: Brasília
O que é: Revista Eletrônica, selo, programa de rádio e produtora
Online: www.senhorf.com.br
Festival: Senhor Festival
Contato: senhorf@senhorf.com.br

Da série, "CARAS, indie"

Na Mary in Hell, ontem.

Matheus Nachtergaele e R. na Hell (porque 'mary' é muita frescura)
Sim, é ele.

22 de fevereiro de 2008

Oitavo Primeiro Campeonato Mineiro de Surfe

O festival mais divertido de BH chega à sua oitava edição trazendo 16 shows e dois dias de debates. Nos três primeiros dias o festival acontece no bar A Obra e no sábado vai para o Lapa Multishow (onde cabe mais gente). Por enquanto segue a programação de shows e em breve mais informações sobre preços, horários e sobre os debates que devem reunir a cena de todo Estado de Minas Gerais.

PROGRAMAÇÃO


Quarta, dia 19/03

Esquadrão Relâmpago: Monster Surf (MG)
Reverb All Stars (MG)
Fóssil (CE)

Quinta, dia 20/03
Thunderbirds (MG)
Seven (GO)
Surf Riders (ES)
Trilöbit (PR)

Sexta, dia 21/03
Os Pazuzus (RJ)
Kingargolas (PR)
Os Carburadores (RJ)
Mauk´s Cachaça Beat Trio (RJ)


Sábado, dia 22/03
Surfadelica (SP)
Proa (MG)
Estrume´n´tal (MG)
Autoramas (RJ)
Lafayette e Os Tremendões (RJ)

21 de fevereiro de 2008

Brasil no South By Southwest 2008

A lista de atrações para a próxima edição do festival de música e cinema South By Southwest, que acontece há mais de 20 anos em Austin (Texas), traz nada menos que 14 nomes brasileiros. As atrações nacionais vão desde grupos emblemáticos no indie nacional como MQN até o rap-pop de Marcelo D2, incluindo artistas de diversas regiões e estilos.

O SXSW é considerado um dos maiores festivais do mundo e a edição 2008, que ocorre de 07 a 16 de março, conta com mais de 1.500 bandas, entre elas nomes consagrados mundialmente como R.E.M, Moby e Radio 4.

Atrações Brasileiras:
Pierre Aderne, Alexia Bomtempo, Marcelo D2, Curumin, Debate, Tita Lima, Fruet & Os Cozinheiros, Pata de Elefante, Lucy And The Popsonics, Nancy, MQN, O Quarto das Cinzas, Telerama e Vamoz!.

Indie sem fronteiras

Para quem não leu ou sequer ficou sabendo, o jornal Estado de Minas deu a capa de seu caderno de cultura do dia 08 de fevereiro para a movimentação na música independente que está acontecendo no interior de Minas. A abertura e destaque da matéria ficou com o Fórceps, coletivo do qual (orgulhosamente) faço parte.

Não foi possível colocar o jornal digitalizado aqui com mais agilidade devido a minha agenda mais do que cheia ultimamente, mas agora está disponível, abaixo, a matéria completa.

É importante ressaltar que de todas as cidades do interior mineiro citadas na matéria como exemplos de produção musical independente, Sabará, cidade natal do Fórceps e foco de nossas ações, é a única que não fez parte do circuito de palestras realizado pelo projeto Conexão Telemig Celular com o coletivo Espaço Cubo em 2007. A caravana Cubo-Conexão passou pelas cidades de Montes Claros, São João Del-Rey, Poços de Caldas e Uberlândia (todas citadas na matéria) com palestras e bate-papos sobre produção cultural, fomentando moradores locais a se envolverem com a produção independente, estimulando as cenas locais.

O que percebo, de longe, é que algumas dessas cidades apresentaram apenas um resultado momentâneo (o famoso "fogo de palha"), criando coletivos durante a presença do Cubo e logo os abandonando pouco tempo depois.

Enquanto isso, em Sabará, o Fórceps realizou dois festivais em quatro meses de existência (Escambo e Grito Rock), estréia no próximo mês um cineclube na cidade (que contará com sessões quinzenais, sempre com alguma discussão antes ou depois das exibições) e prepara um festival em Belo Horizonte para abril/maio, além de outros planos sobre os quais ainda é cedo para falar. Tudo de forma independente, garimpando apoios (escassos) e com muito suor (literalmente).

Enfim, a matéria do Estado de Minas está abaixo e para acompanhar as ações do Fórceps, leia o blog do coletivo.

O mais importante de tudo isso é imaginar que mais pessoas possam sair do marasmo da aceitação e se interessar por fazer algo, buscar aquilo em que acreditam e acham necessário ser realizado.

Fórceps no jornal - parte 1
Fórceps no jornal - parte 2
Fórceps no jornal - parte 3

18 de fevereiro de 2008

Senhor F: dez anos de música independente

Março de 1998. A internet engatinha no Brasil, as gravadoras ainda faturam milhões com vendas de CD's, as rádios continuam ocupando o espaço de principal veículo de difusão musical no país e o jabá toma conta da maioria delas massacrando qualquer coisa que surja fora do mainstream e condenando o ouvinte a escutar o mesmo lixo dezenas de vezes o dia inteiro. Foi em meio a essa combinação medonha que surgiu um dos principais e mais antigos sites de música independente do Brasil: o Senhor F.

Responsável por um selo que conta com sete artistas (Beto Só, Volver, Superguidis, StereoScope, Los Porongas, Graforréia Xilarmônica e Sapatos Bicolores), um festival que já teve três edições (Senhor F Festival), 40 singles virtuais e mais uma penca de iniciativas, o Senhor F é hoje referência quando se fala de música independente de Brasília, do Brasil e da América Latina.

Fernando RosaAbaixo segue a entrevista na qual Fernando Rosa (foto ao lado), o homem responsável pelo Senhor F, fala sobre o surgimento da revista virtual, seus projetos, rock latino americano e cenário da música independente nacional hoje e há dez anos atrás.


MEIO DESLIGADO - Os últimos anos têm sido marcados pela efervescência da produção independente. Quando o Senhor F nasceu, como era o cenário?

FERNANDO ROSA – A primeira edição de Senhor F é de março de 1998 e já era apenas on line. Na época, a movimentação era restrita e com uma cena marcada por uma postura defensiva. Havia bandas legais, uma certa produção que começava a aflorar, mas as bandas ainda insistiam em cantar em inglês. Um pouco depois, começa o processo de transição para um novo momento, com o surgimento de bandas como Mopho, Cachorro Grande, Autoramas, Prot(o). Estas e outras bandas já apontavam para a construção de uma linguagem mais sintonizada com a realidade de sua época. Nessa mesma época, o crescimento da utilização da internet impulsionou o desenvolvimento da cena, com uma maior troca de informações, maior quantidade de shows, lançamentos de discos e festivais.

MD - Qual importância você atribui à internet dentro da produção musical independente hoje no Brasil?

FR – Acho que foi decisiva, mas vejo isso com naturalidade, pois a internet é apenas um avanço tecnológico no processo de comunicação entre as pessoas. O que destacaria como extremamente saudável foi a imediata percepção que tiveram as bandas, os organizadores de festivais e boa parte dos produtores para a eficiência da nova ferramenta. O fato do rock ser um gênero musical com peso na juventude, e de classe média, em especial, de certa forma contribuiu bastante para isso. Por outro lado, a rápida disseminação do uso de computadores e, mais recentemente, da banda larga no Brasil, também ajudou bastante no processo. Agora, vejo isso como um meio, pois o que ainda define a força, a relevância cultural, a importância histórica de uma cena é sua qualidade autoral, a sintonia de seus atores com o mundo em que vivem.

MD - Uma das principais características da cena independente é que as pessoas não se contentam em fazer só uma coisa. Elas geralmente expandem suas iniciativas criando ramificações em várias áreas. O Senhor F hoje, por exemplo, está presente como site, blog, programa de rádio, selo, festival e projeto social (esqueci algo?). Isso é uma tendência no cenário independente?

FR – Acho que o “do it yourself”, por um lado, e a “jornada dupla”, ou mesmo tripla, são uma necessidade imposta pela realidade atual, marcada pelas mudanças nas relações de produção, divulgação e comercialização de música, e mesmo de outras atividades artísticas. As bandas já não contam com “contratos milionários”, nem com empresários-babás, que cuidam até da vida pessoal dos artistas, ou grandes vendagens de discos. Ou seja, está em curso uma mudança que, particularmente, vejo extremamente positiva, pois democratiza o acesso à produção para o artista e ao produto para os consumidores. E as bandas, especialmente, devem buscar novas formas de tocar suas carreiras, com sustentabilidade, mais como um retorno do seu trabalho, do que de uma suposta “fama”. Em nosso caso, acho que extrapolamos ou pouco, pois acabamos entrando em diversas áreas que, se são afins, é certo, impõe uma disciplina e um ritmo de trabalho por vezes fora dos padrões que imaginamos inicialmente. Mas sempre damos os passos de acordo com as nossas possibilidades, sabendo que, em um primeiro momento, algum setor perderá um pouco de fôlego, mas que, em seguida, o conjunto ganha com a nova atividade. Essa visão nos levou a criar a agência diária de notícias, o selo digital, depois o selo físico, e dois programas de rádio, um deles mais recente, voltado para a música sul-americana, além de desenvolver eventos e projetos, como a Noite Senhor F, o Senhor Festival e o Senhor F na Escola.

MD - Com toda a experiência de vários anos no cenário do rock como você situa o atual momento com relação a qualidade, quantidade, acesso do público, democratização, gravadoras, organização etc?


SF - Como disse anteriormente, vejo que vivemos por um lado um momento de extrema confusão, insegurança com o futuro e posturas medíocres e acovardadas diante do novo. Antes de mais nada, as gravadoras pagam um preço da mudança de modelo, mas também elas fizeram por merecer as dificuldades por que passam atualmente. Impuseram um esquema de “monocultura”, nos anos 90, sem qualquer redução nos preços dos discos, ao contrário, o que acabou produzindo a “pirataria”. Depois, histericamente trataram de matar o Napster, quando surgiu, ao invés de construir a partir dele um grande sistema de distribuição universal de música. Por conta disso, o Brasil será um dos países do mundo com maior dificuldade para vingar o sistema de venda digital de música. Aqui, ao contrário de países como o Japão, por exemplo, os consumidores foram, e continuam sendo agredidos por preços exorbitantes e por uma retórica anti-pirataria reacionária. Mas, acima disso tudo, a verdade é que as relações mudaram em todos os setores, e, sábio, nesse momento, é quem estiver aberto a experimentar novas situações, diferentes modelos, alternativas. As novas tecnologias, portanto, ampliaram sem precedentes as possibilidades de se gravar um disco, antes um “direito” apenas de quem tivesse um contrato com uma grande gravadora. Se hoje é fácil gravar um disco, por um lado, por outro, acaba produzindo produtos mal resolvidos, seja conceitualmente, ou em termos de repertório. Ou seja, diante disso tudo, nunca foi tão necessário ao artista pensar de forma global a sua obra, desde a composição até o processo final de comercialização de seu trabalho.

MD - Quais são e onde estão localizadas as iniciativas mais interessantes dentro do cenário independente brasileiro atualmente?

FR – O Paulo André, organizador do Abril Pro Rock, e vice-presidente da ABRAFIN (Associação Brasileira de Festivais Independentes) tem uma frase, que acho definitiva: “a nova música brasileira passa pela plataforma dos festivais independentes”. Nada mais certo atualmente do que isso, pois é na rede de festivais independentes que estão os artistas mais criativos, mais sintonizados com a realidade do país, com a cultura jovem nacional. Além dos festivais, a vida inteligente, a informação saudável e livre dos padrões arcaicos que ainda reproduzem o “modus-operandi” das grandes gravadoras, também está na internet, nos blogs, sites e programas de radioweb. Por outro lado, são os selos independentes que dão vazão, não apenas em termos de quantidade, mas, especialmente, de qualidade, da grande produção musical do país. Se a banda Los Porongas, do Acre, por exemplo, fosse esperar pelo esquema “mainstream” para existir nacionalmente, possivelmente ainda não tivesse saído dos limites de seu estado, ao invés de ser considerada uma revelação nacional, graças ao papel de um selo modesto, mas comprometido com a qualidade e a visibilidade das culturas além dos grandes centros (no caso, o nosso selo, Senhor F Discos). Ainda citando um outro exemplo do selo, podemos lembrar a banda Superguidis que teve seu disco de estréia saudado como um dos melhores da década por muita gente, mas que teve sua master rejeitada, ou sequer ouvida, por selos notórios.

MD - Você acredita na viabilidade, auto-sustentabilidade do mercado de indie rock nacional? É possível criar um mercado continental?

FR – Penso que sim, mas isso é coisa que exige uma postura, um compromisso político e estético e, acima de tudo, uma aposta em uma estrutura de mais longo prazo. Ainda se pensa de forma imediatista, de lançar um disco, “estourar” – para usar um dos verbos tradicionais do velho esquema – e daí se viabilizar vinculado a alguma grande gravadora. O problema é que as grandes gravadoras já não existem mais e, quando pensam em lançar alguém é o clone do clone do clone do sub-qualquer-coisa. Uma conhecida gravadora, por exemplo, diz que está investindo em “novos talentos”, mas o que se viu até agora é a busca de artistas que apenas reproduzem o padrão do mercado. A existência de um mercado depende da combinação de estabilidade econômica no país, qualidade da produção independente e afirmação da sua plataforma de visibilidade, que são fundamentalmente os festivais, mas também os selos e as mídias especializadas. Com isso, acredito que podemos não só afirmar um mercado nacional, mas na esteira do processo de integração sul-americano em curso, construir um mercado continental, agregando os demais países da região. As situações vividas são muito parecidas, e a internet está se encarregando de mediar as diferenças existentes, promovendo uma inédita troca de informações. Nós mesmo, saímos de um processo apenas informativo, por meio de matéria na revista, para um programa de rádio, SENHOR F SEM FRONTEIRA, na Rádio Câmara, com versão online. Um programa desses, por exemplo, se “pega”, com diz o dito popular, pode ajudar bastante a formar um mercado, mesmo que ainda incipiente, inicial.

MD - Você é um grande conhecedor da produção musical na América do Sul. Por que os brasileiros sabem tão pouco sobre a música dos nossos vizinhos? Como é o cenário nesses países?

FR – Olha, penso que sabemos pouco por vários motivos, que vão da colonização cultural – via música americana, passando pela diferença da língua e também pelo nosso “excesso” de produção musical. Mas, no essencial, acho que a falta de uma política cultural mais efetiva, voltada para estimular as relações com os países vizinhos também tem peso nisso tudo. Nesse sentido, a decisão da Petrobras de aprovar economicamente os festivais independentes comprometidos com a integração sul-americana é um avanço e demonstra o comprometimento do governo brasileiro. A realidade das cenas regionais nos demais países é concentrada basicamente nas capitais nacionais, diferente do Brasil onde, ao contrário, a nova cena independente dissemina-se por fora dos grandes centros. Mas, tirando isso, a falência da grande indústria, o mercado pirata e as dificuldades da cena e os desafios em lidar com a nova situação são as mesmas. Hoje, as coisas estão mudando, a partir da eleição de presidentes de origem popular, nacionalista ou de esquerda, como Lula, Kirchner, Chavez ou Evo Morales. A nova orientação geopolítica da região aponta para uma valorização da integração, da tomada de consciências sobre as riquezas da região, como o gás, o petróleo e as florestas. Dentro dessa mobilização mais ampla, existe o sentimento de que a via da integração mais rápida e efetiva é a cultural.

É legal observar que, se antes quem comandava o intercâmbio era a grande indústria fonográfica, agora são os festivais, os selos e as bandas independentes que promovem a aproximação.

16 de fevereiro de 2008

Dia de Grito (Rock)

10 de fevereiro de 2008.

Meia-noite.
O dia começa, mas ainda é noite. As coisas têm que começar de algum lugar. Sentados em um boteco farofeiro enquanto um sujeito vestindo uma camiseta rasgada do Alice in Chains toca covers acústicas de Skid Row e Def Leppard (urgh!), esperamos a hora de ir para a Obra, ouvir um pouco de indie rock. Após um pequeno golpe relacionado ao número de cervejas consumidas (nada difícil, considerado o nível de sobriedade do garçom), partimos.

Algum momento entre duas e meia e quatro horas da madrugada.
Após alguns vacilos e indieces bundas-moles (ou bunda-mole?) dos DJ's, Nest, ex-guitarrista do Digitaria, atualmente tocando no Valv, assume as pick-ups (toca-CD's da Obra) e a balada anima.

Por volta de cinco da madrugada.
Deitados, super cansados e com preguiça de tomar banho, conversando banalidades por mais de meia hora.

Oito da manhã.
O celular do meu pai (que estou usando porque caí na piscina com o meu) desperta ao som de The Go! Team. Dá um aperto no coração sair desta ótima posição e tirar a perna que faz peso sobre meu corpo. Não quero deixá-la nem muito menos deixar de sentir seu calor e a pela macia. Abandonar os braços que me envolvem... Tenho que ir, finalizar os preparativos para a primeira edição do Grito Rock Sabará.

Nove e pouca da manhã.
Finalmente saio da cama e vou embora.

Dez horas e quarenta minutos.
Passo de ônibus no centro de Sabará e vejo que os caras do HCR já estão me esperando para lhes dar uma carona até o local do festival (eu havia marcado com a banda às 10:30). Coloco a cabeça para fora da janela do balaio e falo com um deles que volto em alguns minutos para pegá-los.

Meio-dia.
Ainda não pegamos o amplificador que alugamos, nem compramos os salgados que serão vendidos. O festival começa em uma hora.

Uma e vinte da tarde.
Começam a chegar as primeiras pessoas. Estamos todos perdidos sem saber ao certo qual a tarefa de cada pessoa da produção e levamos uns 30 minutos até que cada um assuma suas posições.

Uma e quarenta.
Penso: "ainda bem que passei protetor solar!"

Uma e quarenta e cinco.
Minha calça quase cai.

Duas horas da tarde.
Andando de um lado para o outro, ajudando no bar, verificando a portaria, conversando com o pessoal das bandas e me perguntando "quando começarão a chegar as ninfetinhas roqueiras?".

Algo em torno de três e meia e quatro e meia da tarde.
Estou na portaria, ficando de saco cheio com o povo que deixa as identidades comigo para poder sair. Fico puto de vez e a mamata de poder sair é abolida. "Vão todos se fuder e não encham o saco!", penso, mas não digo, é claro ("Uuuuh, bunda-mole!").

Cinco horas.
Já se apresentaram HCR, U of Zend e agora o público se anima bastante em frente ao "palco", durante o show de hardcore do Do It Yourself.

Público no início show do Do It Yourself
Cinco horas, de verdade.
Minha noção do tempo está péssima. Agora são cinco horas da tarde, de verdade. Nem sei quem está tocando.

Qualquer hora (resquícios de memória não-linear).
* Já não tenho noção alguma do tempo. Os caras do Irônika chegam em uma Belina velha e fazem um dos melhores shows do festival (pelo que ouvi, de longe, e também me baseando nos comentários das pessoas, já que o único show que pude
realmente acompanhar foi o último, do Cold Eaten Plate).
* Me pego batendo cabeça sutilmente no ritmo da música, estou no balcão do bar e nem sei quem está tocando. Uma pegada setentista, distorção e riffs legais. Era o Trianon, em nova fase.
* Sorrisos espalhados por todo a Impacto (casa alugada para o festival), um aroma especial no ar e a sensação de estar em meados dos anos 70. Esse foi o show do RAM.

Alguma hora da noite.
Celavi e Espantalho Torvo já tocaram, mas não vi. Estava resolvendo outras coisas, como a cerveja que estava prestes a acabar, assim como os salgados.

Um pouco mais tarde.
As tietes adolescentes cercam os membros da Enne. Alguns minutos depois a banda inicia seu show. Escuto uma música e tenho que sair, dar uma carona para o pessoal das bandas que já tocaram.

Meia hora depois.
Volto e pego a última música do show da Enne, uma canção mais pesada e em inglês. Os membros da última atração do festival, Cold Eaten Plate, acabam de chegar (com exceção do Alfredo, baterista da banda, que chegou de tarde e ajudou bastante nas tarefas que surgiam).

Em torno das nove horas da noite.
Saio de novo e volto logo, perdendo uma ou duas músicas do show. A maioria do público não resistiu à maratona e foi embora, mas os remanescentes se aglomeram bem próximos à banda e conferem o stoner rock bem executado do Cold Eaten Plate.

Baquetas quebradas após show do Cold Eaten Plate
Quase dez da noite.
A cerveja acabou, a água acabou, o refrigerante acabou, o salgado acabou. A saída, para alguns, é usar as substâncias trazidas de casa e aproveitar o finzinho do Grito Rock Sabará.

12 de fevereiro de 2008

Grito Rock Sabará - diversidade rocker

Cold Eaten PlateTarde de domingo super ensolarado, uma semana após o carnaval (época em que muita gente está sem dinheiro após os dias de festa e bebedeira), em um bairro longínquo de uma cidade pequena e histórica. Some a isso um coletivo recém-criado por trás da organização e uma completa ausência de apoio financeiro e tem-se um provável desastre.

Esse era o panorama do Grito Rock Sabará, realizado no último domingo, 10 de fevereiro. Felizmente, contrariando algumas previsões pessimistas, tudo correu bem e todos saíram vivos.

Não pretendo escrever muito sobre um evento do qual também sou organizador. Para isso existe o blog do Fórceps. Portanto, esse texto é mais uma reflexão do ponto de vista da organização, sem deixar de comentar um pouco sobre os shows.

Do It YourselfOdeio festivais com excessivas atrações e acho que, no nosso caso, isso quase ocorreu. Foram 10 bandas (inicialmente seriam 11, mas o baterista de uma das bandas não pôde tocar por motivos religiosos e a banda foi cortada) em um evento que começou às 13 e acabou em torno das 22 horas. O resultado foi um público fragmentado e que acabou ficando cansado demais, perdendo algumas das principais atrações. Essa é a primeira coisa a ser alterada nos próximos festivais dos quais eu fizer parte.

Outra coisa que definitivamente deve ser repensada é a diversidade musical das atrações. Ou, talvez, fazer uma programação melhor dos horários, não sei bem.

Basicamente, estas foram as duas únicas coisas que me desagradaram. No geral, foi um evento muito bom. E nós sequer tivemos que limpar o vômito de ninguém!!! É a primeira vez que vejo as pessoas beberem toda a cerveja de um evento e não emporcalharem o lugar completamente. Ainda bem.

Perdi os shows da maioria das bandas, trabalhando pra que tudo funcionasse, mas posso dizer com certeza que o Irônika fez um show bem legal e o Cold Eaten Plate, único show que vi quase inteiro, também. Estava curioso para ver a RAM ao vivo e só consegui ouvir o show da portaria, mas várias pessoas me disseram que o show foi muito bom. A Enne era uma das bandas que eu mais queria ver e acabei perdendo, chegando na última música - mais porrada e barulhenta, muito boa. A única vez que havia visto a banda foi anos atrás e não havia gostado muito, mas recentemente escutei mais coisas da banda e fiquei curioso para vê-los ao vivo novamente.

Completo este texto depois.

Atualização (quase uma semana depois): desisti de completar o texto. No lugar, resolvi escrever outro, sob outra ótica, que publico em breve.

9 de fevereiro de 2008

Coberturas dos festivais que não vimos

Quer saber o que aconteceu no festival Rec-Beat 2008? Bem, nós não estávamos lá, mas a cobertura do Bruno Nogueira é fódona. A foto ao lado é uma boa introdução, não?

A mesma coisa aconteceu no Humaitá Pra Peixe, que aconteceu no Rio de Janeiro durante boa parte de janeiro, cuja cobertura pode ser lida no Sobremúsica, em partes (1, 2 e 3).

O festival Grito Rock ainda tem edições acontecendo Brasil à fora, mas já dá para ler muita coisa sobre as cidades que já realizaram o festival este ano. O blog do Espaço Cubo, por exemplo, destaca os 4 dias da edição cuiabana do festival.

8 de fevereiro de 2008

Cavalera Conspiracy destrói!

Cavalera Conspiracy - InfliktedInflikted, primeiro álbum do Cavalera Conspiracy, novo projeto dos irmãos Max e Iggor Cavalera (ambos ex-Sepultura) tem lançamento marcado para 24 de março e já pode ser encomendado através da internet. De qualquer forma, todos sabemos que daqui a alguns dias (ou, no máximo, semanas) o álbum estará disponível nos blogs de download e torrents da vida...

Por enquanto, a banda liberou as duas músicas de abertura do CD para download no site da gravadora Roadrunner: "Inflikted" e "Sanctuary", duas porradas excelentes para pogar e deixar qualquer fã de metal na pilha à espera pelo lançamento do álbum.

A julgar pelas duas músicas divulgadas, o som é uma mistura de Soulfly (banda formada por Max após sua saída do Sepultura e que contou com Lúcio Maia, guitarrista da Nação Zumbi, em sua primeira formação) e Slipknot. "Inflikted" tem todo o jeito de hino trash metal e é quase impossível (ao menos para mim) não imaginar milhares de pessoas gritando "in-flik-ted" ao vivo durante a música. "Sanctuary" será o primeiro single e seu vídeo foi filmado recentemente em Paris. Seu lançamento deverá acontecer no início de março.

Cavalera Conspiracy - "Inflikted"


Além de Max e Iggor (que atualmente divide seu tempo entre a banda e seu projeto eletrônico, o elogiado Mixhell), a Cavalera Conspiracy também conta com Marc Rizzo (ex-Soulfly e Ill Niño) na guitarra e Joe Duplantier (Gojira) no baixo.

Inicialmente a banda se chamaria Inflikted, mas o nome foi alterado devido a existência de outra banda com o mesmo nome.

4 de fevereiro de 2008

mono.tune - the worst day with the best person

Ouvir the worst day with the best person, álbum de estréia da mono.tune, é como ser levado de volta a algum dia frio e nublado dos anos 90. Emulando indie pop depressivo e carregado de belas melodias, a banda se aproxima do som que dominou a cena indie brasileira durante a década passada, quando a maioria das bandas cantava em inglês e cada integrante parecia ter em casa um altar com uma foto do Jesus and Mary Chain. No caso do mono.tune, a diferença é que eles fazem isso com qualidade.

Cantando sobre amor, arrependimentos e os momentos difíceis da vida, a banda faz canções sensíveis e despretenciosas, muito influenciadas por britpop e indie pop, além de um pouco de folk, lembrando bandas como The Vaselines, Delgados e, principalmente, o atormentado Elliot Smith.

O mono.tune é um projeto de Filipe Consoline, que compôs e produziu o álbum em seu estúdio caseiro e posteriormente convidou Pedro Machado (guitarra) e Ravi Machado (baixo) para fazerem parte da banda. A discreta bateria eletrônica em contraponto ao violão em primeiro plano de Filipe cria um efeito interessante, por vezes lembrando o finado Astromato.

Das nove faixas que compõem the worst day... as que mais se destacam são "Poor heart and it troubles", "Getting alone" e "Once nad again", sendo que a balada "Known end.lastlove" também merece atenção. O lado folk aflora em "Oh! Hello" e até um pouco de alt country aparece em "Another love tale about us part I".


No geral, o CD mostra uma banda que caminha na direção certa e vem acumulando mais acertos do que erros em sua recente trajetória.

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