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31 de dezembro de 2006

Entrevista: Wry

Entrevista feita com Mário Bross, guitarrista e vocalista do Wry, grupo de Sorocaba radicado em Londres desde 2002. Esta entrevista foi realizada por email dia 10 de maio de 2005 e publicada anteriormente no Mazzacane.

O Wry disponibilizou algumas músicas novas para o download gratuito. Quais as vantagens e desvantagens em se fazer isso?


Possibilita-se que mais pessoas conhecam nossa música e tenham acesso às canções que por um motivo ou outro, não são versões presentes nos álbuns, mas sim versões alternativas ou pré-produzidas. Ou até curiosidades ao vivo ou remixes.
Pretendemos colocar as músicas do novo álbum em versões "singles" (seguindo os singles que lançaremos na Inglaterra) por preços justos, bem baratos aliás, em breve.
Agora, a única desvantagem seria de uma pessoa ouvir e não querer comprar nada mais relacionado a banda porque não gostou daquilo que ouvir.
Música autorizada na internet traz muito mais vantagens, sem dúvidas.


Como as grandes gravadoras estão reagindo na Europa ao vazamento na internet das músicas de seus artistas? Exemplos recentes são os novos álbuns do Oasis e Weezer, que mesmo antes de serem lançados oficialmente em cd, estavam disponíveis gratuitamente na internet.

Não tem muito o que fazer, em muitos casos o vazamento veio de dentro da própria equipe que circula a banda e tal. Ou até um planejamento pra rolar algum tipo de notícia antes do álbum sair. The Subways, uma banda que está pra estourar logo logo, é próxima do Wry e o disco deles também foi roubado, tudo estava no laptop do Josh (baterista). Foi vazado pra internet, mas não causou tanto grilo; antes que comentem, aqui eles fazem diferença e vendem bastante.
Então, acho que no geral, não tem muito o que se fazer, o dinheiro gasto na captura do computador criminoso acaba sendo mais caro do que vender umas cópias a menos.


Você acredita que bandas como Franz Ferdinand e The Killers seriam tão famosas como são hoje em dia se suas músicas não tivessem sido trocadas em grande quantidade entre os usuários da internet?

Talves as pessoas não saberiam cantar todas as músicas a tempo para a próxima turnê. No caso dessas bandas que você mencionou, a imagem e o grande hit iriam viajar muito longe independente da internet, eles seriam famosos de qualquer maneira, no meu ponto de vista. Mas se você pegar uma banda menos conhecida, no caso, Bloc Party ou Kaiser Chiefs, daí eu concordo, pois os álbuns deles ainda nem saíram por aí e sei que muita gente na net, onde muitos são ligados à música alternativa, já os conhecem e citam suas músicas em cabines de djs de São Paulo à Belo Horizonte. Internet é evolução, é futuro.
Agora, não tem como negar as facilidades que isso traz a todos, saca?


Hoje em dia é crucial para os artistas pouco conhecidos disponibilizar algumas de suas músicas gratuitamente na rede?

É claro, você tem que fazer parte, senão fica pra trás. Eu dou mais cinco anos e toda essa evolução tecnológica na música vai triplicar. Como na Bíblia já se diz "você não vai poder comprar nem vender se não possuir um email na rede"...ou era algo parecido com isso. Então é essencial e é mais fácil do que antes, ultra mais fácil.

As leis de direitos autorais tradicionais funcionam com as músicas do Wry? Vocês já ganharam dinheiro pela reprodução, execução ou uso de suas músicas, como visam essas leis?

Algumas de nossas músicas tocaram diariamente, três vezes ao dia até, na 89FM quando era regional, creio que para umas 50 cidades e nunca nunquinha vimos algum centavo entrar nas nossas contas bancárias por isso. Mas acho que é porque somos do meio alternativo e não temos grandes empresários envolvidos no nosso trabalho por aí.
Segundo amigos meus de outras bandas, o negócio até que funciona, devagar, mas funciona. É lógico que eu gostaria que funcionasse assim também para o Wry, mas por enquanto ainda não, vamos ver esse ano como as coisas vão rolar, tudo está indicando um imenso "azul". Gracas a Deus!

Wry - jesus beggar



Entrevista: Bruno Nogueira

Entrevista realizada com o jornalista Bruno Nogueira no dia 15 de novembro de 2006, sobre o controle das gravadoras sobre a música pop.

Bruno escreve para o caderno de cultura da Folha de Pernambuco, é representante do Estado de Pernambuco no Overmundo, atualmente faz pesquisa sobre indústria fonográfica e internet para seu mestrado na Universidade Federal de Pernambuco, onde também da aula, e mantém o site Pop Up!, sobre cultura pop.

Fala-se muito nas possibilidades geradas pela internet para que os artistas independentes divulguem seus trabalhos e na "morte das gravadoras". Porém, ao se analisar a programação das rádios, é possível perceber que a maioria dos artistas veiculados são contratados de grandes gravadoras. Na sua opinião, é correto afirmar que no Brasil as gravadoras ainda controlam a música pop?

A música - e o mercado de música - no Brasil é tradicionalmente atrasado. Para ter uma idéia, a produção efetiva de música só chegou aqui no século XVII, com a vinda da família real. Quando o Brasil começou a desenvolver suas próprias características, a ditadura militar fez um grande bloqueio no acesso a informação.

O que a gente vive é um reflexo disso. É correto afirmar que as gravadoras controlam a música pop sim, porque é um formato antigo e o Brasil não se adaptou ainda.


Os últimos anos na Europa foram marcados pelo movimento das bandas que primeiro se tornam famosas na internet, de forma independente, para então assinarem com uma grande gravadora. No Brasil, o movimento contrário ocorre já há alguns anos, com artistas consagrados abandonando as majors. Qual seria o fator (ou fatores) determinante(s) para essas realidades díspares?

Lá fora, os artistas se lançam independentes, mas assinam com uma major sim. Lilly Alen foi assim, Franz Ferdinand e Interpol também foram assim.

O que não existe ainda, no Brasil, é esse olhar para a Internet. Exceto recentemente, quando o Moptop foi contratado pela Universal. Tirando esse novo caso, historicamente nenhum artista se deu realmente bem por ter se lançado online. O Cansei de Ser Sexy entrou na Trama, mas a Trama ainda é uma gravadora muito pequena.


Sites como Trama Virtual e Fiberonline, apesar dos milhares de artistas cadastrados, ainda não catapultaram nenhum nome para o sucesso junto ao grande público. Isto pode ser considerado um reflexo dos veículos de massa e da mídia do entretenimento, viciados e preguiçosos? Ou falta qualidade à produção independente nacional?

É um reflexo dessa mediações sim. Dizer que é porque são viciados e preguiçosos, no entanto, é arriscado demais. A questão é que o processo natural da música é bem lento, enquanto esse suporte digital é rápido demais. Ficamos querendo olhar para a esquina e ver o novo Chico Science. Lendo atentamente o que é publicado sobre música nos jornais e revistas, todos têm tendência de escrever como se tal artista fosse o novo definitivo. Quando não é assim.

Demorou para Chico Buarque chegar onde está. Demorou para Chico Science também. Nenhuma banda vai atingir o mesmo status com cinco anos de estrada, um disco e uma demo gravados. Precisa mais. Esses artistas que aparecem lá fora por causa da Internet, aparecem porque vivem num contexto social e econômico totalmente diferente do Brasil. Se olhar com calma, os veículos de mídia lá fora são tão "preguiçosos e viciados" quanto os nacionais.
foto: flickr do bruno nogueira

As gravadoras ainda comandam o mercado fonográfico?

Por Marcelo Santiago, Juliana Rocha, Carlos Andrei, Clara Isabel, Clara Guimarães e Carolina Rausch


Mercado musical comercial, mercado musical alternativo. Quem ganha a disputa?


Reflexo da popularização da internet e do avanço das novas tecnologias, a troca de arquivos através da internet acarretou nos últimos anos em uma enorme queda na venda das gravadoras. No Brasil não é diferente, ainda mais tratando-se do país que encontra-se na terceira posição dos países nos quais mais se comercializa CDs falsificados. As vendas que antes ultrapassavam um bilhão, agora estão a R$ 600 milhões de reais.

As grandes gravadoras (majors), estáticas a mais de 20 anos, estão repensando suas estruturas. As pequenas empresas do setor (indies) experimentam um período de crescimento, mesmo em meio à crise. Elas, mais novas no mercado, parecem saber enxergar a sua mudança. Segundo a jornalista Maria Luiza Kfouri, no ano passado, gravadoras independentes, como a Biscoito Fino, a Acari, a Revivendo, a Fina Flor, a Bizarre, a Delira Música, a Dubas, a YB, a Maritaca, a CPC-Umes, a Trama, a Tratore, a Lua Discos, a Visom, a Velas, a Palavra Cantada e o Núcleo Contemporâneo foram responsáveis pelo lançamento de mais de 100 títulos de excelente qualidade de música instrumental e vocal. Segundo dados apresentados pelo Ministro da Cultura Gilberto Gil, as gravadoras indies já representam cerca de 40% do mercado fonográfico brasileiro. Além delas, outros tantos lançamentos foram produzidos independentemente, pelo próprio músico.

Uma das origens da pirataria, o MP3, vem ensinando a indústria que a velocidade da mudança tende a ser mais rápida e que os seus impulsionadores, os consumidores, têm que ser ouvidos.

Em setembro deste ano, a Universal, maior gravadora do mundo, anunciou que disponibilizará todo o seu catálogo para download gratuito, ainda este ano. A atitude foi seguida pela EMI, outra das maiores gravadoras do mundo. Perceber que as maiores gravadoras do mundo estão se rendendo a internet deixa claro que chegamos a um ponto do qual não há volta, e, para conseguirem sobreviver em meio aos novos tempos, terão de mudar.



As marcas da revolução digital

Voltar-se contra a troca de arquivos na internet atualmente, para as gravadoras, é como mover-se em areia movediça. Já não há um grande site para se responsabilizar pela distribuição das músicas, como o Napster ou o MP3.com, no fim da década de 90. Programas de peer-to-peer (pessoa-para-pessoa), como Emule, Kazaa, Shareaza e os diversos controladores de torrent tornam impossível o controle, já que os usuários fazem o download diretamente do computador de outros usuários, em redes criadas em torno destes programas.


Uma alternativa utilizada pelas gravadoras, na tentativa de se desestimular o download ilegal de músicas, é processar o usuário final, a pessoa que faz o download. Mas, como afirma Túlio Borges, sócio do clube Mary In Hell em Belo Horizonte e membro das bandas Esquadrão Atari e Millicents, "esta é apenas uma forma de tentar amedrontar as pessoas". Túlio e seu companheiro de banda, Daniel Werneck, acreditam que as gravadoras podem alterar seus métodos ou falirem. "O compartilhamento de arquivos na internet não deixará de existir, não importa se você acabará com este ou aquele software, sempre aparecerão novos programas, porque a internet é um meio vivo", diz Túlio.


Daniel relembra que "quando surgiram os vídeos cassetes, os grandes estúdios de cinema queriam processar as empresas que produziam estes equipamentos. Só depois é que perceberam que ali se criava um novo nicho a ser explorado". Para os dois, a situação atual é a mesma: as gravadoras brigam, ao invés de se adaptarem à situação. (Assista ao vídeo da entrevista aqui).



A banda americana Clap Your Hands Say Yeah!. A foto só está aqui porque o rapaz que a tirou, Justin Cox, liberou-a pelo Creative Commons

No exterior, a situação é mais extrema. Alguns dos maiores fenômenos do rock e pop da Inglaterra nos últimos tempos surgiram na internet, sem participação alguma de grandes gravadoras. Foi assim com o grupo Arctic Monkeys, que conquistou uma enorme legião de fãs apenas com sua página no site MySpace e fez diversos shows pela Europa sem ter lançado nenhum disco. Ao lançar seu primeiro álbum, por uma gravadora independente, vendeu 150 mil cópias na primeira semana. Com a banda americana Clap Yor Hands Say Yeah aconteceu caso semelhante. De forma independente, apenas com sua a divulgação em sites como o MySpace, conseguiu vender 50 mil cópias de seu álbum de estréia.

Esse mercado alternativo de produção e consumo de música, seduziu também o ministro da cultura Gilberto Gil. Em um fórum realizado na cidade de São Paulo, com o objetivo de discutir o futuro da indústria da cultura em função da convergência digital, o ministro não cansou de ressaltar que é primordial que as grandes gravadoras se adequem aos novos modelos viabilizados pela democratização da internet. Para ele, a internet já se transformou em objeto imprescindível para aqueles que fazem música. Além disso, se instituída de maneira positiva, a venda de músicas na rede pode servir como antídoto contra a pirataria. Porém, o dado mais relevante e gerador de controvérsias foi aquele relacionado ao crescimento de gravadoras independentes no Brasil. De acordo com os dados apresentados por Gil, as indies representam cerca de 40% do mercado fonográfico do país.


Rick Bonadio contesta a estatística afirmando que as gravadoras alternativas não devem representar mais que 5%. "Não sei de onde ele tirou esse número. Basta você ir até uma loja de CD ou escutar uma emissora de rádio para perceber que a informação não confere", diz o dono da Arsenal Music alguns dias antes de negociar seu selo com a Universal. Já Leo Bigode, do selo goiano Monstro Discos, acredita no Ministro da Cultura, mas é mais realista: "Concordo, mas aí entra tudo: gospel, Calcinha Preta...Tudo o que não está nas majors. Se considerarmos isso, concordo com o patrão Gil", afirma Bigode.

Esclarecendo a confusão de Gil

Segundo a pesquisa realizada pela jornalista Andréa Thompson, “As Gravadoras Independentes e o Futuro da Indústria Fonográfica no Brasil”, disponível no site Overmundo, não existe um consenso a respeito do termo “independente”.

Nesse trabalho, a jornalista revela algumas opiniões acerca disso. Para Jerome Vonk, diretor executivo da Associação Brasileira da Música Independente (ABMI), “Independentes são aquelas [gravadoras] que não fazem parte do oligopólio, daquelas quatro empresas históricas que detém 72% do mercado mundial. Pela leitura IFPI (International Federation of the Phonographic Industry52), 72% estaria na mão das multis e 28% na mão das independentes”

As quatro empresas históricas que o diretor executivo da ABMI menciona são a Warner, a EMI, a Sony-BMG e a Universal Music. Estas seriam “as poderosas majors, fruto de um conglomerado internacional que desde os primórdios da indústria fonográfica foi abocanhando o mercado mundo a fora. Do outro lado, estariam os independentes, historicamente mais fracos do ponto de vista econômico”, afirma Andréa Thompson.

Para outros, a palavra independente foi perdendo a sua representatividade original a partir do momento que ocorreu sua popularização e ela passou a designar também artistas (indies) que estão fora da grande mídia e da tendência predominante (mainstream).

O maestro Antonio Adolfo, que em 1977 lançou um disco independente, chamado Feito em Casa, com uma primeira tiragem de 500 cópias, em entrevista à Andréa Thompson, fala sobre o que pensa a respeito disso: “No início, a palavra era utilizada por aqueles selos pequenininhos e por quem se auto-produzia, como eu fiz e como vários outros fazem até hoje. Hoje em dia passou-se a utilizá-lo o termo independente para qualquer gravadora que não faça parte desse conglomerado internacional. (...) Usam o termo porque dá prestígio.”


Majors e Indies

Conhecidas como empresas que produzem e distribuem músicas, as gravadoras são divididas em dois modelos de negócio: major e indie. A expressão major é utilizada para identificar todas as gravadoras transnacionais, grandes conglomerados internacionais que atuam em múltiplos setores e diversificam seus negócios, investindo em cultura e entretenimento. As indies, ou independentes, são as pequenas gravadoras nacionais. Os selos e gravadoras independentes são as empresas que se propõem a tarefa de descobrir os talentos musicais e promovê-los, investindo nisso seus próprios recursos, sem financiamentos ou mecanismos de incentivos específicos.

O Brasil abriga cerca de 80 gravadoras e selos independentes, segundo dados da ABMI ( Associação Brasileira de Música Independente) de 2003. A maior dificuldade enfrentada pelas indies no mercado é a distribuição. Apesar de poder produzir o CD com a mesma qualidade de uma gravadora major, a divulgação e distribuição não é tão fácil como é para uma major, que possui uma média de 20 representantes espalhados pelo país, os quais divulgam e vendem seus CDs para os lojistas, um número impensável para os indies.

O caso de maior sucesso entre as gravadoras independentes é a Trama. Fundada no ano de 1998, a gravadora tem como objetivo lançar e divulgar a música brasileira de qualidade no país e no mundo, buscando a constante renovação, além de apostar na disponibilização gratuita de alguns de seus lançamentos à título de promoção e na distribuição on-line, uma demonstração de utilização da ferramenta que deu origem a pirataria como estratégia de marketing.

Na contramão do crescimento do mercado alternativo tem-se o exemplo da gravadora Arsenal Records. A major Universal Records de propriedade do produtor Rick Bonadio adquiriu o selo Arsenal. Com a aquisição, bandas e artistas como CPM 22, IRA!, NXZero, Hateen, Tihuana, Leela e Supla não pertencem mais ao mundo da música independente. Rick Bonadio porém, segue nas funções artísticas e de marketing.



A pirataria atrapalha o mercado fonográfico?

O Brasil ocupa desde 1999 o 3º lugar no ranking mundial da pirataria, perdendo apenas para a Rússia e a China.

A pirataria não passa apenas pela questão econômica. Se assim fosse as pessoas de baixa renda tenderiam a comprar mais CDs e não é o que acontece, segundo a pesquisa de Romana D'Angelis Ramos dos Santos Leal. A questão também se relaciona ao valor percebido do produto em detrimento de seu valor real.

A compra do CD pirata ocorre em sua maioria devido aos altos preços praticados no mercado. Um outro fator para a compra destes tipos de CDs é a não existência do mesmo lançados por gravadoras oficiais. O não conhecimento do produto ou interesse pelo todo também é apontado como motivo para a compra do CD pirata.

Com o crescimento do mercado ilegal, foram fechados dois mil pontos de venda de discos, houve redução de 30% do número de funcionários das gravadoras e 7% nos lançamentos e diminuição de 18% dos artistas contratados.

A pirataria ocorre através de diversos programas e/ou sites que permitem o download de arquivos musicais. Exemplo disso é o Napster, um sistema de trocas de arquivos musicais, criado em 1999, que avançou quando possibilitou a instalação de uma rede de distribuição musical, até então de exclusividade das majors.

O MP3 e o Napster deram início a um novo formato de negócios: a venda de músicas pela Internet. Segundo Alexandre Agra, diretor de marketing do site iMusica, o Napster determinou uma mudança não controlada pela indústria fonográfica, contribuindo basicamente ao saber dominar a tecnologia disponível e inventando um novo modelo de venda de música.

Criado em 2003, o iTunes da Apple, é um dos modelos mais avançados de venda de música pela Internet. Através de seu cartão de crédito qualquer pessoa pode comprar um arquivo musical, tanto das indies quanto das majors, por 99 centavos de dólar.

Assim, percebe-se que a pirataria é uma das grandes inimigas do mercado fonográfico. Ela se torna um grande obstáculo para as gravadoras, que se preocupam em combatê-la ao invés de pensar no porque de tamanho sucesso e alcance. Um novo modelo de negócio surgiu e cabe às empresas da indústria fonográfica, daqui pra frente, saber explorá-lo para não só recuperar os clientes perdidos como também conquistar novos.


Estratégias para vender

O crescimento e desenvolvimento do mercado alternativo musical obriga as bandas pop que ainda dependem de uma gravadora a adotar estratégias de lançamento de discos. Com a banda mineira, Skank, não foi diferente. Uma das estratégias encontradas pelo grupo para promover seu novo disco, Carrossel, é uma ação voltada para usuários da operadora de telefonia celular Tim. Aqueles consumidores que adquirirem o celular Walkman RW300i levam para casa o novo CD e mais três faixas bônus. As versões ao vivo de "As Noites" e "Amores Imperfeitos", além do videoclipe do single "Uma canção é prá isso". É a primeira vez que um CD completo é lançado em versão para celular no Brasil.

"Para que CD se artistas e fãs já estão conectados"?

As grandes gravadoras exercem ainda grande influência na produção musical, determinam o que será lançado e até aquilo que será tocado nas rádios. Porém, esse fenômeno está relacionado principalmente à música pop, pois, bandas bandas independentes como Cansei de Ser Sexy, Mombojó e Cordel do Fogo Encantado se firmaram como grandes sensações de 2006 sem a ajuda de uma gravadora ou de uma estratégia de marketing eficiente para impulsionar a venda de discos.
Todas elas representam produtos dessa nova cultura musical, baseada no uso da ferramenta internet e até mesmo do antigo "boca-a-boca". Utilizando a mesma estratégia de bandas estrangeiras como a inglesa Arctic Monkeys ou a americana Clap Your Hands Say Yeah!, esses grupos nacionais também lançaram todas as suas músicas na rede, e o melhor sem a ajuda de ninguém.

O único homem do CSS, Adriano Cintra, em show no Lapa Multishow em BH (foto: Marcelo A. Santiago)


O exemplo que melhor comprova a eficácia dessa nova tendência é o da banda paulista Cansei de Ser Sexy. Composta por cinco mulheres e apenas um homem, o grupo fez a mesma coisa que muitas bandas em busca de sucesso fazem atualmente. Colocaram as músicas no TramaVirtual, que é hoje o site de referência da música alternativa, pois acreditavam que era a melhor forma de fazer com que as pessoas as escutassem. A tática deu certo, o grupo começou a fazer shows e em pouco tempo foi convidado pela gravadora alternativa Trama para gravarem um CD. O pessoal da banda nem esperava por isso, argumenta a guitarrista da banda Ana. "Na época não pensávamos em lançar disco, mas depois quando ficou sério, começamos a gravá-lo com versões diferentes das que estão online". O sucesso das meninas (ops, tem um cara também), foi tamanho que eles foram contratados em pela SubPop, gravadora que revelou grandes nomes do grunge como Nirvana e Mudhoney e seguem hoje em turnê nos Estados Unidos e Europa. A banda ganhou mais destaque em diversos jornais e revistas americanos especializados em música do que a também brasileira Mutantes que voltou com uma nova formação e se apresentou nos EUA no mesmo período que o Cansei de Ser Sexy. Indagadas se elas acreditam que estamos hoje caminhando para uma época na qual as bandas viverão apenas de shows, elas respondem que sim, e que isso é muito positivo.

"Achamos que há uma nova ordem, mais democrática na indústria, e que isso é muito bom, porque o mundo da música não é mais dominado por meia dúzia de grandes gravadoras", afirmam. Além disso elas reconhecem que o sucesso que elas têm hoje é fruto dessa nova alternativa de divulgação de música.

Outra banda que se privilegiou com a estratégia, foi a pernambucana Mombojó. Formada em abril de 2001, a banda já em 2002 se apresentou na décima edição do Abril Pro Rock ganhando diversos elogios da crítica local. Em 2003 eles gravaram seu primeiro CD "NadadeNovo" após serem contemplados com recursos do Sistema de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Recife.



Mombojó no Conexão Telemig Celular, em Belo Horizonte. O público adorou (foto: Marcelo A. Santiago)

Eles disponibilizaram o CD na íntegra no site da banda: www.mombojo.com.br. E caíram no gosto da galera da cena alternativa nacional. Esse ano eles lançaram seu segundo disco "Homem-Espuma" e já são conhecidos do público mineiro. Só em 2006 eles se apresentaram em Belo Horizonte três vezes. Esgotaram os ingressos para as três apresentações. O Mombojó é hoje a banda que melhor representa a nova MPB.

Para especialistas no assunto como o advogado e um dos fundadores do site Overmundo, Ronaldo Lemos, essa nova tendência não favorece apenas o artista, mas também seu fã. Segundo ele, a internet começou como um ótimo lugar para distribuir música, porém, hoje ela se torna também um canal perfeito para o marketing feito pelos próprios fãs. Pode ser encaixado como exemplo disso a banda Cordel do Fogo Encantado. O grupo pernambucano só fez sucesso graças aos fãs que passavam e trocavam as músicas através de mp3. Sem uma grande gravadora, a banda conseguiu vender 15 mil cds.

Na mesma onda, está o website MySpace, uma espécie de Orkut que permite que seus amigos sejam suas bandas preferidas.

Ronaldo Lemos é enfático, "Para que CD se artistas é fãs já estão conectados"?


Jabá e gravações independentes

O músico Mário Moura acredita que viver de música depende da entrega. “Tem muito artista bom, que faz um trabalho ótimo que não está na mídia. Dá para sobreviver - sem muito luxo, é verdade”, comenta. Sambista mineiro, com veia carioca, Moura vive e acompanha as transformações que a música – e os músicos – têm sofrido.

A facilidade com que se grava hoje em dia faz com que artistas desconhecidos possam divulgar o trabalho de maneira mais eficiente do que se fazia há algum tempo. O problema, de acordo com Moura, não é gravar e, sim, distribuir o produto. “Hoje a tecnologia permite o acesso fácil à gravação, mas aí depois que a pessoa grava não tem como distribuir. Tinha-se que pensar em uma solução, um subsídio cultural, correios com taxas mais baratas. O governo tem que ajudar”, diz o músico.

Para a cantora e estudante de psicologia Luciana Bekerman, no entanto, é fácil gravar, mas em geral as gravações não são de boa qualidade. “Fica tudo muito caseiro, amador. E a gravação profissional requer um investimento inicial maior, que é uma quantia alta para muita gente”, reflete.

Luciana considera também ser difícil “viver de música”. “É difícil porque não tem mercado e dependendo do estilo de música é mais difícil ainda! O que se pode fazer é tocar em barzinho, que paga pouco. Além disso tem que estudar e trabalhar com outra coisa, para poder investir em uma formação, que é cara”, observa.

Independente das dificuldades encontradas para gravar, distribuir e viver bem através da música, a paixão acaba sempre imperando entre os músicos. Tanto é que o tom muda quando se fala em jabá, ou o dinheiro que as grandes gravadoras pagam às rádios para tocar músicas de artistas específicos. Moura acredita que tem que haver punição para este tipo de ação. “É um absurdo! Funciona como um caixa dois, é corrupção como qualquer outra. As gravadoras já têm um público grande, se não quer investir nos independentes, tudo bem, mas invadir o espaço do rádio dessa forma é crime”, critica.

As rádios deveriam funcionar como um espaço democrático de comunicação, que toca músicas de todos os tipos, permitindo ao ouvinte conhecer novos talentos, produções desconhecidas, assim como tudo que está freqüentemente na mídia. “O cara bom que não tem gravadora não é ouvido, isso é uma palhaçada”, reclama Luciana. A cantora completa: “A manipulação que ocorre com o jabá é terrível, as gravadoras não podem decidir o que o público vai ouvir”.


A situação dos artistas, Mário Moura e Luciana Bekerman, são exemplos de um grande número de músicos brasileiros que ainda aguardam uma oportunidade maior para deslanchar suas carreiras. Um dado revelado por Ronaldo Lemos, em palestra realizada em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, dia 24 de Outubro, dá o tom da realidade para os artistas nacionais. Segundo Ronaldo, atualmente, a gravadora Sony-BMG possui apenas 52 músicos brasileiros contratados.



O "Udora"

O caso da banda mineira, Udora, que já se chamou Diesel é um pouco curioso. O grupo ganhou o festival Escalada do Rock o que culminou com a apresentação no palco principal do Rock in Rio 3 e na promessa de gravação de um CD pela gravadora Trama. Porém, o lançamento do CD nunca se concretizou, porque a banda nunca aceitou cantar em português. "Não assinamos com ninguém no Brasil porque nunca abrimos mão de cantar em inglês", afirma Gustavo Drummond, vocalista e guitarrista da banda.

No mesmo ano o grupo decidiu sair do Brasil e voar para Los Angeles a fim de tentarem uma carreira internacional. A banda conseguiu contrato com a gravadora J Records, porém o disco foi arquivado por "não ter viabilidade comercial". Lançaram então, em 2005, um disco independente intitulado Liberty Square. O CD vendeu dez mil cópias e eles se apresentaram mais de 150 vezes em território americano. Porém, ironia do destino ou não, o Udora, está de volta ao Brasil e - pasmem!- cantando em português. Algumas músicas em português já podem ser ouvidas no site do Trama Virtual.



Lobão versus Skank

Dois artistas de peso no cenário musical defendem opiniões opostas na mídia. Por um lado, Lobão, cantor, compositor e criador da revista Outracoisa, acredita que a as gravadoras estão com os dias contados. Do outro lado, Skank, umas das maiores bandas do rock / pop do país, com milhares de discos vendidos, diz que o poder ainda é deles.

Por mais polêmico que possa parecer aos olhos dos desatentos, Lobão é sim, uma das figuras mais importantes da música no Brasil. Não por sua obra especificamente, mas por sua briga contra as gravadoras e pelo seu trabalho frente à Revista Outracoisa.

A Revista Outracoisa foi criada em 2003 tendo como mote a cultura alternativa e com um grande truque na manga: em cada edição é lançado um CD inédito de um artista independente. Já foi distribuído CDs de artistas como BNegão (ex Planet Hemp), Cachorro Grande, Arnaldo Baptista (ex Mutantes), Plebe Rude, Bidê ou Balde, do próprio Lobão, entre outros. Além da revista, Lobão ainda conseguiu através de articulação política aprovar a lei da numeração dos discos e encabeça a campanha a favor da criminalização do jabá.

Em entrevista ao site Rock em Geral Lobão diz que é uma questão de tempo para os independentes dominarem o mercado e diz que as gravadoras estão falidas e que ainda as mantém em pé é a pratica do jabá: “E você vê bem, o que hoje em dia essas majors são? Não têm dinheiro, estão falimentares e qual é o trunfo que elas têm? Elas são um monopólio de agenciamento para as rádios. Então é uma formação de quadrilhas, aqueles caras, meia dúzia de três ou quatro que estão ali. Tem que acabar com esses caras.”

Do outro lado da moeda, está o Skank. Completamente inserido no mainstream o quarteto mineiro é um fenômeno de vendas de discos no meio dessa suposta crise. As rádios tocam suas músicas em exaustão, seus novos clipes são exibidos diariamente nos programas musicais e suas músicas são hits de novelas. São autores de grandes sucessos e músicos talentosos. E, por essas e por outras, defenderam as majors em entrevista ao site do Programa Alto Falante: “A gente tá vendo que eles estão meio moribundos, mas ainda tem muito poder. (...) Pros profetinhas de plantão, se eles estão anunciando que as gravadoras morreram, então venham tirar o morto da porta, porque eles não estão deixando ninguém tirar o morto da porta, não estão deixando ninguém passar (risos). Os caras ainda detém um poder mesmo. Tem uma ordem nova que não se estabeleceu por completo e tem uma velha que não morreu ainda.”

Claro que essa discussão vai durar muito. As gravadoras ainda têm uma relevância dentro do cena musical, no entanto a cena independente lança mais artistas e seus discos que as majors. Há uma carência sentida tanto pelo público quanto pelos artistas de novos nomes no mainstream. A impressão que dá é de um eterno déjà vu. Os velhos conhecidos em novas embalagens e os recém-chegados com suas velhas fórmulas. A época é transição e ninguém perde por esperar para ver (e ouvir) o que vai acontecer.

(você pode perceber algumas variações na formatação desta matéria, mas estas são devidas ao fato de ter sido escrita de forma colaborativa através do Google Docs, para a disciplina Cibercultura e Jornalismo Digital. A formatação original dos autores de cada trecho foi mantida, corrigindo-se apenas os eventuais erros ortográficos. A matéria também foi publicada, com destaque na capa, no site da PUC Minas.)

17 de dezembro de 2006

show de retorno da Udora

Cinco anos após o exílio nos Estados Unidos, com novo nome (antigamente se chamavam Diesel), o álbum Liberty Square na bagagem, iniciando uma nova fase com canções em português e metade da formação original, a Udora fez seu grande show de retorno em Belo Horizonte na última quinta-feira, dia 14 de dezembro.


Logo no início, com a ótima “pieces”, a banda deixou clara a razão pela qual fez tanta falta nos últimos anos: canções fortes e com punch, bons refrões e músicos que sabem tirar o máximo de seus instrumentos são marcas registradas tanto da fase Diesel quanto da Udora.



O público que lotou o Lapa Multshow cantava todas as músicas, surpreendendo nas mais recentes, em português, disponíveis apenas na Trama Virtual, das quais boa parte da platéia também sabia as letras.


Havia certa apreensão no ar quando o vocalista e guitarrista Gustavo Drummond apresentou a primeira canção em português do show, “mil pedaços (lá, lá, lá)”, mas não era necessária. A nova fase da banda parece estar sendo bem recebida, apesar do termo “emo” surgir em uma freqüência semi-preocupante para descrever as novas músicas.


O que se percebe é um aprofundamento na veia pop da banda, já explorada no álbum Liberty Square, mas as letras em português ainda precisam ser trabalhadas. A própria “mil pedaços”, por exemplo, apresenta um excesso de rimas e algumas frases, digamos, desnecessárias, como “estrela guia no céu prometia brilhar e nos sepultou no escuro”. É algo que se espera do Fresno, mas que em se tratando de Udora, é aceitável pelo pelo fato de sabermos que as novas canções ainda estão em desenvolvimento.




Mas, como não podia deixar de ser, é óbvio que as músicas do Diesel tiveram um lugar especial no show. A primeira delas, “burn my hand”, provocou tal estado de nostalgia-recente que causou arrepios.
Ouvindo comentários e lendo sobre o show por aí, tenho certeza de que não fui o único a sentir isto. Aliás, os próprios Gustavo e Leonardo Marques, o outro guitarrista e também da formação original, deviam sentir o mesmo.
Foi prazeroso e, de certa forma, engraçado, ouvir mais uma vez músicas como “drain” e “plastic smile”, uma das minhas favoritas do Diesel, com todo o peso e clima grunge que as caracterizam. E o que dizer de “4d”, um dos maiores hits da banda? Simplesmente fóda.


Vídeo de "burn my hand" no show em BH, 14.12.06




Anunciada como “a música tema da Copa do Mundo da ESPN americana”, “the beautiful game” ao vivo lembra ainda mais Silverchair (fase Diorama) do que em estúdio, e isso não é nem de longe um mal sinal. Do álbum Liberty Square também foram tocadas “faith and reason”, “breathing life”, a balada “when it ends”, o single “fade away” e “liberty square”, esta última, no bis. Todas muito boas, funcionando incrivelmente bem ao vivo.


Se algo deixou a desejar, ao menos um pouco, foram as novas canções em português. Com exceção de “perdas e danos” (que anteriormente atendia pelo péssimo título “a volta dos que não foram”), que tem tudo para se tornar um grande hit, algumas das novas músicas soam próximas ao lugar comum do rock/emo americano e dos sons “mtvescos brazilis”.
Torço para estar errado, mas a sensação é a de que a banda se afasta aos poucos do instrumental bem trabalhado , empolgante e pesado de antes.


É fácil comparar as 3 fases da banda. Se na época Diesel, Alice In Chains era referência constante; se percebia influência de Faith No More em músicas como “4d”; e boa parte de Liberty Square remete a Silverchair pós-Freak Show, a nova fase, em alguns de seus melhores momentos, lembra Panic! At The Disco.
Perda e danos” é ótima, concordo. Mas é preciso admitir que poderia fazer parte do álbum da turminha de Las Vegas (se fosse em inglês, claro).
Resta saber para qual lado a balança irá pender até o lançamento do álbum em português, atualmente intitulado Goodbye Alô (uh?).


Udora - perdas e danos



Em uma sábia escolha, deixaram fora do repertório músicas fracas da nova fase, como “por que não tentar de novo” (indiscutivelmente emo), “dia da independência” e “guerrilheiro só”, esta última, uma espécie de Leela com Polegar (ic!) e letra escrita por um moleque de 13 anos.
Ao longo da apresentação os novos membros, o baterista PH e o baixista Daniel Debarry, também não fizeram feio e se mostraram competentes, com poucos erros.


No mais, “o carnaval morreu” (difícil ouvir esta letra e não imaginar a quem ela se refere), “refém do tempo” (uma das melhores incursões pelo pop feita pela banda) e “velho lugar” (com riff chupado de "dope nose", do Weezer) são promissoras, mas é preciso que a banda não se deixe levar pela babação de ovo dos amigos hiper-empolgados com o retorno e mantenha os pés no chão, seguindo seu objetivo, seja ele qual for.


O futuro da Udora é incerto, mas contanto que seja divertido, não irei reclamar.

11 de dezembro de 2006

53 HC Fest - dia 2

Admito: o primeiro dia foi tão fraco que não nos animamos a ir ao segundo dia do festival. Mesmo sendo uma noite mais voltada para o punk e bandas mais pesadas, as atrações não foram suficientemente empolgantes.

Tudo bem, a estréia do Porcos Cegos em Belo Horizonte, antigo Blind Pigs, parecia interessante, mas é preciso ter muito ânimo (ou paciência) para este punk rock simplista de letras idem. O mesmo pode se dizer do Calibre 12, porém com instrumental mais pesado.


No mais, um monte de bandas desconhecidas, como Strike (MG), Capotones (DF), The Folsoms (MG), Eight Microwave (RJ) e Enne (MG), esta última, uma cópia do antigo Diesel que vem evoluindo consideravelmente nos últimos tempos.

O fato de não conhecer a maioria das bandas seria na verdade um incentivo para irmos ao festival, porém, uma rápida lida nos releases destas mesmas bandas, era desanimadora. Entende o que digo com “clichê”? Ou será que “mesmice” soaria melhor?


Uma pena, já que mais uma vez perdemos a oportunidade de ver ao vivo o divertido Zumbis do Espaço (SP), com seu punk death figuraça de "clássicos" como "espancar e sangrar" e "enquanto eu defecar".



Zumbis Do Espaço
- satan chegou


10 de dezembro de 2006

53 HC Fest - dia 1

Enquanto pensava em como este blog seria e definia uma mínima linha editorial, uma das coisas que me pareceu clara, era que não seria muito interessante gastar tempo escrevendo sobre bandas ruins. É muito mais importante que as pessoas conheçam novas boas bandas, do que reforçar a idéia de que "tal" banda é péssima. E, de qualquer forma, como você irá perceber, todas as bandas citadas aqui poderão ser ouvidas no próprio blog (em breve), de forma que você tire suas próprias conclusões (e pense).
Tendo explicado isso, posso finalmente escrever sobre o 53 HC Fest, realizado pela loja/selo 53 HC em Belo Horizonte nos últimos sexta e sábado, dias 8 e 9 de dezembro, no Lapa Multshow.

Primeira consideração: Público.
* Formado principalmente por menininhos e menininhas de franjinha no rosto, cintos de tachinhas, tênis Vans e All-Star e muitos, muitos bonés. Comentário do camarada do bar com o Bart (organizador do evento): "Porra, velho, esse show seu só tem moleque! É fóda!". Tanto que, na hora de comprar bebida, pela primeira vez no Lapa vi as pessoas tendo que mostrar a identidade. Mas isso não adiantava muito, ainda mais se levarmos em consideração que esse povo fica bêbado com duas latas de Kaiser e depois tenta vomitar com classe pra não atrapalhar o penteado. Tsc.
* Em um festival de hardcore, qual foi a música tocada pelo dj que mais animou o público? Adivinhe... "last nite", do Strokes. Sim. E enquanto tocava The Clash e Dead Kennedys, simplesmente não havia reação. "Meu Deus em quem eu não acredito, eles não conhecem esses sons!". Sim, é verdade. E o que dizer quando o dj teve a boa vontade de mostrar algo de bom e acessível, tocando "bigmouth strikes again" do The Smiths ou "rock and roll queen" do hype esperto The Subways? Ooooh. Nada. E por incrível que pareça, algumas pessoas me disseram que o público parecia mais animado durante o som mecânico do que durante os shows. Pudera...

Os shows
O início estava marcado para as 17 horas, cheguei às 20 e perdi Sonary e Monno (ambas de MG). Senti apenas por causa da Monno, é uma ótima e promissora banda, apesar de ainda soar melhor em estúdio do que ao vivo. Em um futuro post você poderá ler mais sobre eles.

Voltinhas pelo Lapa, observando a tietagem underground (porque isso existe, e muito), até começar a fraca apresentação da capixaba Volume 7, nova banda do Murilo, ex-Dead Fish. Péssimo nome, som idem. A não ser que você seja um super fã de CPM 22 e Dead Fish fase atual. Se fosse uma banda instrumental, seria aceitável. Fala do vocalista para o público: "isso aqui não tá parecendo um show de hardcore". Concordo.

Antemic - ainda aqui


Mais pausa e depois, Antemic (ES). Detalhe: na Trama Virtual, eles descrevem seu som como post rock. Ha ha ha ha. Sim. E aquele barulho que faço quando estou cagando com diarréia eu chamo de grindcore.
Esquecendo esta tentativa ridícula de maquiar seu hardcore emo de algo mais interessante, o som, em alguns poucos momentos, é quase aceitável. Eu disse quase. Uma espécie de wannabe Jimmy Eat World, mas sem a manha para fazer hits punk pop descartáveis e que acaba soando às vezes como ForFun (sic). Parece que a vontade de ser um novo CPM 22 é uma das coisas que mais afetam a atual cena hardcore teen, que alguns anos atrás rendia tantas bandas engraçadas de ruins, mas ao menos toscas, sujas e com letras idiotas cantadas naquele inglês errado. Ao menos eram divertidas. Agora, a maioria continua ruim, com a diferença de que são letras bobinhas (de novo) aos montes em português e melodias pop misturadas à distorção. E claro, tudo nem um pouco original.
E mais um ponto negativo para a banda: no MySpace, eles disponibilizaram apenas UMA música para download, deixando as outras duas disponíveis apenas para audição. Enquanto até as bandas alternativas tiverem este tipo de pensamento imbecil e retrógrado, relutando em tornar suas músicas o mais próxima possível do público, elas continuarão a se fuder.

LudovicCalma, calma. Finalmente chegou o momento do melhor show da noite. Ludovic (SP). Famosos pela energia de seus shows, o quinteto paulistano mostrou a razão pela qual são tão falados em meio à cena alternativa brasileira.
Desde o início, com a ótima "boas sementes, bons frutos", a banda despejou sobre a despreparada platéia uma massa sonora pós punk, remetendo a Sonic Youth e Joy Division, e completada pelas boas letras da banda. Uma pena que o equipamento disponível não estivesse à altura do que eles merecem, o que prejudicou principalmente o entendimento das letras (parte crucial do Ludovic).

LudovicO vocalista Jair lembra Ian Curtis e Johnny Rotten ao mesmo tempo, sem parecer forçado. E, quando diz ao microfone que a platéia ali presente é imbecil, e o festival, uma merda (não exatamente com estas palavras, mas extremamente próximo disso), um sorriso no rosto de quem ainda tem cérebro é inevitável. Aos outros, restaram gritinhos ao estilo "eu sou emo mesmo, e daí?", como os vindos da menina à minha frente, puta pelo vocalista ter utilizado a expressão "bobagens emo".
Parafraseando o próprio Jair, "azar o seu querida".



Gramofocas (DF - foto) foi difícil de aturar. Punk rock banal, som ruim, vocal idem = chato, chato. Aquele tipo de banda que toca para roqueiro do interior encher a cara e dizer que "esses cara são muito lôco". Nem o bom-humor na hora de nomear as músicas ("country song (nofx should listen more ramones)", "você é meu rolinho parmalat") e nas letras ("sempre que eu fico feliz eu bebo / e se eu fico triste eu bebo também") consegue salvar.

Gramofocas - sempre que eu fico feliz eu bebo


Carbona (RJ) foi a próxima e, da mesma forma, difícil de aguentar. Tão difícil que fui embora logo após as três primeiras músicas. Sabe aquela bandinha punk que seu ex-colega de escola montou e que até tem algumas músicas "legaizinhas", porém descartáveis, e todas parecem ser a mesma? Carbona.

E sobre o Aditive (SP), que fechou a noite e foi talvez a maior responsável pelos emos presentes? Escute Fresno, Hateen ou NxZero e saberá do que se trata.

[Ps1.: fotos Ludovic: marcelo a. santiago / foto Gramofocas: divulgação.
Ps2.: faça o download das músicas acima aqui]

6 de dezembro de 2006

o que é "meio desligado"


A proposta é relativamente simples: uma página sobre a produção musical brasileira alternativa, especificamente, a cena indie / rock.

A cena alternativa do país cresceu muito nesta década, as bandas independentes já têm um considerável espaço em blogs e páginas diversas, mas não há um espaço exclusivo sobre o que acontece nesta cena. Ou melhor, não havia.


O meio desligado pretende ser não apenas um
blog com dicas sobre bandas e músicas, mas realmente uma espécie de guia, com informações úteis sobre o que acontece no cenário alternativo do país. Críticas de álbuns, resenhas de shows, reportagens e matérias especiais, fotos, entrevistas, dicas, downloads, vídeos, podcasts, etc. Sempre buscando a qualidade da informação, com espaço e interesse para a experimentação jornalística.

A escolha de criar um blog, e não um site, foi proposital. Boa parte do crescimento da cena alternativa no Brasil ocorreu devido à internet e, principalmente, às opções gratuitas para se divulgar os trabalhos das bandas: seja na Trama Virtual, no Fiberonline, Overmundo, MySpace, criando comunidades no Orkut, fotolog, grupo no Flickr, YouTube, blog, etc. Tudo de graça.

E por que a cobertura disto tudo seria realizada em um site? Gastando dinheiro com hospedagem e outras coisas? "Faça você mesmo", alguém disse uma vez. Agora (ainda mais se levarmos em conta a realidade econômica do nosso país) podemos acrescentar "e sem gastar dinheiro, alcançando o maior público possível". Um blog é mais dinâmico e mais próximo do que é ser independente.

Não se reprima. Interaja, mostre seu conteúdo e suas idéias. Faça. E com o tempo, aprimore, sempre de acordo com seus ideais. Chega de mais do mesmo, de passividade, de seguir padrões.
É mais ou menos assim que pensamos e pretendemos agir. Aos interessados, o caminho está aberto.

Esse é um pensamento mais amplo que não se restringe apenas à música ou à cultura e esta é apenas uma de suas aplicações.
Se você estava meio desligado em relação ao que acontece de novo na música brasileira, esta página é especialmente para você.

Aproveite.

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