Entrevista realizada com o jornalista Bruno Nogueira no dia 15 de novembro de 2006, sobre o controle das gravadoras sobre a música pop.
Bruno escreve para o caderno de cultura da Folha de Pernambuco, é representante do Estado de Pernambuco no Overmundo, atualmente faz pesquisa sobre indústria fonográfica e internet para seu mestrado na Universidade Federal de Pernambuco, onde também da aula, e mantém o site Pop Up!, sobre cultura pop.
Fala-se muito nas possibilidades geradas pela internet para que os artistas independentes divulguem seus trabalhos e na "morte das gravadoras". Porém, ao se analisar a programação das rádios, é possível perceber que a maioria dos artistas veiculados são contratados de grandes gravadoras. Na sua opinião, é correto afirmar que no Brasil as gravadoras ainda controlam a música pop?
A música - e o mercado de música - no Brasil é tradicionalmente atrasado. Para ter uma idéia, a produção efetiva de música só chegou aqui no século XVII, com a vinda da família real. Quando o Brasil começou a desenvolver suas próprias características, a ditadura militar fez um grande bloqueio no acesso a informação.
O que a gente vive é um reflexo disso. É correto afirmar que as gravadoras controlam a música pop sim, porque é um formato antigo e o Brasil não se adaptou ainda.
Os últimos anos na Europa foram marcados pelo movimento das bandas que primeiro se tornam famosas na internet, de forma independente, para então assinarem com uma grande gravadora. No Brasil, o movimento contrário ocorre já há alguns anos, com artistas consagrados abandonando as majors. Qual seria o fator (ou fatores) determinante(s) para essas realidades díspares?
Lá fora, os artistas se lançam independentes, mas assinam com uma major sim. Lilly Alen foi assim, Franz Ferdinand e Interpol também foram assim.
O que não existe ainda, no Brasil, é esse olhar para a Internet. Exceto recentemente, quando o Moptop foi contratado pela Universal. Tirando esse novo caso, historicamente nenhum artista se deu realmente bem por ter se lançado online. O Cansei de Ser Sexy entrou na Trama, mas a Trama ainda é uma gravadora muito pequena.
Sites como Trama Virtual e Fiberonline, apesar dos milhares de artistas cadastrados, ainda não catapultaram nenhum nome para o sucesso junto ao grande público. Isto pode ser considerado um reflexo dos veículos de massa e da mídia do entretenimento, viciados e preguiçosos? Ou falta qualidade à produção independente nacional?
É um reflexo dessa mediações sim. Dizer que é porque são viciados e preguiçosos, no entanto, é arriscado demais. A questão é que o processo natural da música é bem lento, enquanto esse suporte digital é rápido demais. Ficamos querendo olhar para a esquina e ver o novo Chico Science. Lendo atentamente o que é publicado sobre música nos jornais e revistas, todos têm tendência de escrever como se tal artista fosse o novo definitivo. Quando não é assim.
Demorou para Chico Buarque chegar onde está. Demorou para Chico Science também. Nenhuma banda vai atingir o mesmo status com cinco anos de estrada, um disco e uma demo gravados. Precisa mais. Esses artistas que aparecem lá fora por causa da Internet, aparecem porque vivem num contexto social e econômico totalmente diferente do Brasil. Se olhar com calma, os veículos de mídia lá fora são tão "preguiçosos e viciados" quanto os nacionais.
foto: flickr do bruno nogueira