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3 de dezembro de 2014
BH Music Station 2014 - como foi
A premissa do BH Music Station é ótima: um festival musical que acontece em estações de metrô e dentro dos próprios vagões, fora do seu horário de funcionamento. O ambiente diferenciado e a produção impecável proporcionam ótimas experiências, mas em 2014, na sétima edição do evento, faltou um elemento essencial: uma programação musical mais atraente.
Diferentemente dos últimos anos, quando a programação do festival geralmente se dividia por três ou mais dias com shows em três estações do metrô, em 2014 o festival concentrou seus palcos na chamada "Estação Oficina" (localizada após a estação final do metrô, onde é realizada a manutenção dos vagões), no dia 29 de novembro. Lá, se apresentaram Rodrigo Amarante, Orquestra Imperial, Mustache e Os Apaches e os DJs da festa Geleia Geral. Apesar da redução no número de dias em relação aos outros anos do festival, foi uma programação fraquíssima se comparada com os artistas que se apresentaram em 2008 (Arnaldo Antunes, Nação Zumbi, Tom Zé, Fino Coletivo, Móveis Coloniais de Acaju, entre outros), 2009 (Vanguart, Lenine, Cordel do Fogo Encantado, Zeca Baleiro, Mart'Nália e a própria Orquestra Imperial, entre outros) e 2011 (Paralamas do Sucesso, Marcelo Camelo, Céu, Nação Zumbi - de novo, Roberta Sá, Lobão e Tiê, entre outros).
Outros pontos pioraram a situação:
- Rodrigo Amarante e Orquestra Imperial atraem praticamente o mesmo público e, no dia da realização do Music Station, acontecia em BH a estreia da Banda do Mar na cidade, atingindo o mesmo público e com o peso de ser uma novidade, ao contrário de Amarante e da Orquestra (que realizaram bons shows, inclusive, apesar do trabalho do Amarante ser intimista demais para o formato do festival - por vezes a altura das conversas do público tornava difícil conseguir indentificar o que ele cantava);
- Quando foi lançar Cavalo, seu primeiro disco solo, em BH, Amarante teve duas noites agendadas na casa de shows Granfinos, onde a capacidade é de cerca de 600 pessoas. No entanto, a venda de ingressos foi tão ruim que uma das noites foi cancelada e a outra sequer teve os ingressos esgotados. Ou seja, o headliner do BH Music Station 2014 não encheu uma casa com capacidade para 600 pessoas e foi a principal atração de um festival que nos anos anteriores recebia milhares de pessoas. O resultado? A edição mais vazia do BH Music Station de que se tem notícia. Contribuiu também, é claro, o fato da entrada custar R$ 120 (inteira). Mesmo com os custos de se realizar um festival desse nível no metrô, envolvendo uma grande equipe, é um valor muito alto para o ingresso, ainda mais levando em consideração que o patrocínio do evento é de R$ 432.250,00 via Lei Estadual de Incentivo à Cultura e que os cachês dos artistas que se apresentam dentro dos vagões é baixo (me lembrei dessa piada sobre os cachês das bandas indie no Lollapalooza).
E por falar nos shows que acontecem dentro dos vagões, vale destacar que, nesse sentido, a programação de 2014 foi a melhor de todos os tempos. Como a entrada no festival é centralizada na Estação Central, o público percorria um longo caminho até a estação na qual o palco principal havia sido montado. Por isso, shows alternativos, em sua maioria semi-acústicos, acontecem dentro dos vagões durante esse trajeto. E neste ano a programação contou com uma ótima e diversificada amostra da cena independente belorizontina, com Iconili, O Melda, Barulhista, Madame Rrose Sélavy e novidades promissoras como Minimalista, Pequeno Céu e Peluqueria (única banda esperta pra aproveitar o local inusitado e fazer um vídeo ao vivo), entre outros. Para melhorar, logo na entrada da Estação Central o público se deparou com as intervenções do palhaço-músico-onemanband Mauro Lauro Paulo e o barulho garageiro d'O Lendário Chucrobillyman. Se nos próximos anos o festival cuidar de sua programação principal com a mesma atenção que deu às atrações secundárias em 2014, tem tudo para se firmar como um dos eventos mais legais do país.