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18 de novembro de 2014

Sobre música independente, festivais, Transborda e sentir-se falando como um tio ("naquela época...")

Primeiramente, uma foto estilosa. Porque texto longo sem foto estilosa assusta a garotada.

Foto estilosa pq texto sem foto estilosa assusta a garotada

Pronto. Agora começamos.


Em 2000, naquele que provavelmente foi o primeiro show alternativo ao qual fui, havia exatamente uma pessoa parada no meio do local assistindo à banda com atenção. O local em questão era um campo de futebol em Sabará e quem estava no palco era a Moan, banda belorizontina de indie rock depressivo (ou emotional hardcore, como diziam anos atrás). Quase dez anos depois, na mesma Sabará, à poucos quarteirões daquele campo de futebol, cerca de 10 mil pessoas compareceram aos shows, também alternativos, do festival Escambo (catorze anos depois daquele primeiro show eu encontraria o mesmo espectador solitário, agora já um velho amigo, em Nantes, onde veríamos juntos um show histórico do Black Rebel Motorcycle Club - banda conhecida durante o período descrito nos próximos parágrafos).

Os indies não se reproduziram como gremlins nesse período, mas a ampliação do público envolvido com a cena musical alternativa na última década me veio à mente durante o festival Transborda, cuja terceira edição aconteceu entre o fim de outubro e o início de novembro de 2014. Assim como o Escambo, o Transborda está diretamente ligado à experiência de quem viveu o início da popularização da internet e da troca de arquivos. Aqueles anos de internet discada, Napster e Soulseek, que resultaram em uma aproximação até então inédita com um enorme volume de novos artistas, culminando, alguns anos depois, na criação da TramaVirtual - a meca do indie brasileiro (ao menos por algum período).

Pela primeira vez se podia ouvir com facilidade (e de graça) gravações de bandas independentes nacionais. O passo seguinte era vê-las ao vivo. Afinal, eram artistas brasileiros, alguns deles residentes em cidades próximas. Então, durante algum show do Garage Fuzz, Mukeka di Rato ou algo do tipo, você poderia pensar "caralho, como é bom ouvir ao vivo o que escuto em casa". E assim por diante, semana após semana.

Desde então, a cena cresceu e foi perdendo a inocência. Foi se profissionalizando e, dependendo do ponto de vista, encaretando, ficando formatada demais. Em meio a isso tudo, um debate do Transborda com os produtores culturais Fabrício Nobre e Anderson Foca chamou atenção para um ponto: por mais que existam problemas, o mercado musical independente está dando certo. Nobre fez a provocação. Em uma sala com cerca de 20 pessoas, pediu que todos aqueles que tivessem a cultura como principal ou exclusiva fonte de renda levantassem a mão. Quase toda a plateia estava de braços erguidos. Segundo ele, 10 anos atrás essa situação seria impossível. Concordo.

E onde entra o Transborda nessa história? Ele é exemplo da transformação e do desenvolvimento da cena como um todo. Suas edições refletem os momentos do mercado, suas dificuldades e mudanças. Se na década passada a grande maioria dos festivais de música independente buscava headliners que atraíssem um maior número de pessoas para os shows (e para isso precisavam de patrocínios cada vez maiores), atualmente a formação de público é mais orgânica e em menor escala. As duas primeiras edições do Transborda levaram milhares de pessoas às ruas e ocuparam diversos espaços de BH. Mesmo assim, houve um hiato de três anos em sua realização e foram necessários alguns passos atrás para que o festival retornasse mais conciso e próximo do seu público alvo. O resultado? Casa lotada, artistas e público satisfeitos e sustentabilidade (podem esperar mais shows produzidos pela mesma galera em 2015).



Patrocínios e mecanismos públicos de incentivo à cultura continuem extremamente importantes, mas, além disso, transformações como a do Transborda 2014 apontam um caminho promissor. Principalmente quando se tem uma programação com algumas das bandas de rock mais interessantes da nova cena brasileira (Apanhador Só e Boogarins), um representante digno do "indie clássico" como há muito tempo não se ouvia (Câmera) e novidades promissoras (Hotel Catete, Red Boots, Mahmundi - os últimos, nem tão novidade assim, mas nem por isso menos promissores).

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