Durante a criação de qualquer produto cultural, é sabido que pequenos detalhes podem resultar em alterações drásticas e que o resultado final é, na maior parte do processo, uma incógnita para seu criador.
Músicas deixam de entrar nos álbuns por não serem consideradas boas o suficiente; o produtor adiciona um feito diferente na guitarra e grava o vocal baixo demais; uma palavra é alterada na letra, de última hora; o executivo do estúdio manda o cineasta tirar uma determinada cena; seu amigo acha que falta contraste na foto; e por aí vai...
Todos os acontecimentos citados acima são exemplos de intervenções que acontecem antes de o produto final chegar ao público. No jornalismo não é diferente. São exigências do editor, limitações de tempo, a incansável busca por sinônimos, etc. E em muitos casos, você simplesmente lê tudo aqui em que ficou trabalhando durante horas e se pergunta "mas que merda é essa?" ou tem o famoso bloqueio criativo. Você está escrevendo e...
Trava. Sim. Com a gente não é diferente. Às vezes você tem realmente que começar tudo de novo, a partir do zero, e tentar entender o que estava errado, o que faltou. Imagino que em diversas outras redações a situação seja parecida. Ao menos na redação em que trabalhava era assim.
E para aqueles que não estão acostumados com os bastidores jornalísticos, esse é um post especial, dedicado a alguns textos inacabados ou que simplesmente não chegaram a ser publicados no Meio Desligado.
Aproveite (ou não, afinal, os textos sequer foram publicados devido à dúbia qualidade).
*
Título: o jornalismo bebum picareta de terceiro mundo
Mesmo que você não seja do ramo é bem provável que já tenha ouvido sobre diferentes formas de jornalismo, como o mentiroso dos jornais diários, o literário e o gonzo. Outro estilo jornalístico, bem menos badalado e nem por isso menos praticado, é o jornalismo bebum picareta de terceiro mundo. Algumas de suas características essenciais são os lapsos de memória que ficam evidentes no texto e a alta quantidade de álcool no sangue do autor. As constantes tentativas de desviar a atenção do leitor do assunto proposto, já que, na realidade, o jornalista bebum picareta de terceiro mundo tem pouca condição de se aprofundar no tema, é outra característica marcante.
Pode parecer complicado como ler um texto original do Saussure, mas, no fundo, é bem fácil. Mas antes de chegarmos ao nosso exemplo, vale lembrar uma coisa importantíssima: esta não é uma prática comum a nós do Meio Desligado. Nããão, não. Trata-se de um exercício empírico estilístico experimental xamãnístico sociológico que vem sendo desenvolvido, lentamente, há cerca de quatro anos. Sim, é verdade. Juro pela sanidade mental do David Lynch e pelo puritanismo do Cláudio Assis.
*
Noite de sábado, 7 de julho de 2007. Mais uma Noite Alto-Falante (ainda na ressaca da dupla vitória do programa no Prêmio Toddy de Música Independente), desta vez com shows do monno e Superguidis, que está lançando seu segundo álbum depois de uma bem-recebida estréia.
Público mediano na Matriz (as pessoas preferiram ficar em casa e assistir ao Live Earth?), boa discotecagem, uma grana razoável na minha super-cool paper-hand-made pocket e uma constante alternância entre Bhrama's e Skol's (além do aquecimento em um buteco próximo).
Não querer ser chato pode acabar atrapalhando sua atividade. Os membros do monno e do Superguidis estavam cada um deles entretidos em conversas paralelas, melhor não interromper. "Vamos beber mais um pouco".
Jogo da seleção na tv, conversas sobre algum filme do qual não me lembro e planos mentais sobre minha viagem de 1300 km. Odeio longas viagens de ônibus, acidentes, todas aquelas batidas entre motoristas sonolentos (ou simplesmente tapados), estradas esburacadas... Putz, hora do show do monno. "Tudo bem, vamos pegar umas cervejas e ver o show. Depois conversamos com eles".
Se não me engano, é a terceira ou quarta vez que os vejo ao vivo e a cada show estão melhores.
*
título: UDR
[matéria escrita para a filial imaginária da New Musical Express no Brasil]
Imagine uma banda que:
1. em sua comunidade no Orkut só tem tópicos do nível de "Minha primeira relação com fezes", "ANÃO TRAVECO STRIPPER", "as paraliticas + sexys do mundo!!!" e "Vcs levariam Jesus para casa?", só para citar alguns.
2. seu maior "hit" é intitulado "bonde da orgia dos travecos"
3. crucificou um sujeito durante um show, em pleno palco
4. se auto-denomina como criadora do sub-estilo "funk satânico"
5. tem letras como "é isso menininha, não fique no meu pé / jesus pode te amar, mas só a UDR te quer / fogo do capeta, brava na calcinha / deformo sua buceta e arrombo a tua bundinha"
6. se envolveu em pendengas judiciais por difamar os pais dos integrantes de uma banda curitibana, hype dos últimos tempos
Esses são apenas alguns poucos exemplos do que é a U.D.R...
Músicas deixam de entrar nos álbuns por não serem consideradas boas o suficiente; o produtor adiciona um feito diferente na guitarra e grava o vocal baixo demais; uma palavra é alterada na letra, de última hora; o executivo do estúdio manda o cineasta tirar uma determinada cena; seu amigo acha que falta contraste na foto; e por aí vai...
Todos os acontecimentos citados acima são exemplos de intervenções que acontecem antes de o produto final chegar ao público. No jornalismo não é diferente. São exigências do editor, limitações de tempo, a incansável busca por sinônimos, etc. E em muitos casos, você simplesmente lê tudo aqui em que ficou trabalhando durante horas e se pergunta "mas que merda é essa?" ou tem o famoso bloqueio criativo. Você está escrevendo e...
Trava. Sim. Com a gente não é diferente. Às vezes você tem realmente que começar tudo de novo, a partir do zero, e tentar entender o que estava errado, o que faltou. Imagino que em diversas outras redações a situação seja parecida. Ao menos na redação em que trabalhava era assim.
E para aqueles que não estão acostumados com os bastidores jornalísticos, esse é um post especial, dedicado a alguns textos inacabados ou que simplesmente não chegaram a ser publicados no Meio Desligado.
Aproveite (ou não, afinal, os textos sequer foram publicados devido à dúbia qualidade).
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Título: o jornalismo bebum picareta de terceiro mundo
Mesmo que você não seja do ramo é bem provável que já tenha ouvido sobre diferentes formas de jornalismo, como o mentiroso dos jornais diários, o literário e o gonzo. Outro estilo jornalístico, bem menos badalado e nem por isso menos praticado, é o jornalismo bebum picareta de terceiro mundo. Algumas de suas características essenciais são os lapsos de memória que ficam evidentes no texto e a alta quantidade de álcool no sangue do autor. As constantes tentativas de desviar a atenção do leitor do assunto proposto, já que, na realidade, o jornalista bebum picareta de terceiro mundo tem pouca condição de se aprofundar no tema, é outra característica marcante.
Pode parecer complicado como ler um texto original do Saussure, mas, no fundo, é bem fácil. Mas antes de chegarmos ao nosso exemplo, vale lembrar uma coisa importantíssima: esta não é uma prática comum a nós do Meio Desligado. Nããão, não. Trata-se de um exercício empírico estilístico experimental xamãnístico sociológico que vem sendo desenvolvido, lentamente, há cerca de quatro anos. Sim, é verdade. Juro pela sanidade mental do David Lynch e pelo puritanismo do Cláudio Assis.
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Noite de sábado, 7 de julho de 2007. Mais uma Noite Alto-Falante (ainda na ressaca da dupla vitória do programa no Prêmio Toddy de Música Independente), desta vez com shows do monno e Superguidis, que está lançando seu segundo álbum depois de uma bem-recebida estréia.
Público mediano na Matriz (as pessoas preferiram ficar em casa e assistir ao Live Earth?), boa discotecagem, uma grana razoável na minha super-cool paper-hand-made pocket e uma constante alternância entre Bhrama's e Skol's (além do aquecimento em um buteco próximo).
Não querer ser chato pode acabar atrapalhando sua atividade. Os membros do monno e do Superguidis estavam cada um deles entretidos em conversas paralelas, melhor não interromper. "Vamos beber mais um pouco".
Jogo da seleção na tv, conversas sobre algum filme do qual não me lembro e planos mentais sobre minha viagem de 1300 km. Odeio longas viagens de ônibus, acidentes, todas aquelas batidas entre motoristas sonolentos (ou simplesmente tapados), estradas esburacadas... Putz, hora do show do monno. "Tudo bem, vamos pegar umas cervejas e ver o show. Depois conversamos com eles".
Se não me engano, é a terceira ou quarta vez que os vejo ao vivo e a cada show estão melhores.
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título: UDR
[matéria escrita para a filial imaginária da New Musical Express no Brasil]
Imagine uma banda que:
1. em sua comunidade no Orkut só tem tópicos do nível de "Minha primeira relação com fezes", "ANÃO TRAVECO STRIPPER", "as paraliticas + sexys do mundo!!!" e "Vcs levariam Jesus para casa?", só para citar alguns.
2. seu maior "hit" é intitulado "bonde da orgia dos travecos"
3. crucificou um sujeito durante um show, em pleno palco
4. se auto-denomina como criadora do sub-estilo "funk satânico"
5. tem letras como "é isso menininha, não fique no meu pé / jesus pode te amar, mas só a UDR te quer / fogo do capeta, brava na calcinha / deformo sua buceta e arrombo a tua bundinha"
6. se envolveu em pendengas judiciais por difamar os pais dos integrantes de uma banda curitibana, hype dos últimos tempos
Esses são apenas alguns poucos exemplos do que é a U.D.R...