Pesquisar nos arquivos

21 de janeiro de 2012

Graveola e o Lixo Polifônico, o hippie universitário, a world music cosmopolita e a não-cobertura de um show

Escolha uma vida. 
Um tipo de parceiro.
Uma profissão.
Uma cidade.
Uma casa. 
Escolha rótulos nos quais se encaixar. 
Escolha compartilhar ou reter.
Ou mantenha-se aberto às possibilidades, indefinido. Flexível no gênero, nômade física e intelectualmente. É preciso ter esse pensamento aberto, de escolhas múltiplas e instáveis, para se entender a Graveola e o Lixo Polifônico, banda que acaba de gravar, há pouco mais de 30 minutos, seu primeiro DVD ao vivo em sua cidade natal, Beverly Hills Belo Horizonte.

Banda ímpar na cidade (e provavelmente no cenário nacional), a Graveola congrega ao seu redor um forte grupo de criação e articulação artística. Como gostam de se apresentar, Graveola é também um coletivo. É o resultado da energia e de certa esperança pueril de que tudo pode ser feito de outra forma, de que existem opções e que é possível ser mais livre. Algo que, sintetizado porcamente, se assemelharia a um "hippie universitário": politicamente consciente, amante das culturas regionais e da natureza, sensível para a diversidade das manifestações artísticas e pseudo-libertário.

Imagens sobrepostas do público do show da Graveola em BH

Na música do Graveola, essse espírito se transforma em um saudosismo experimental que não tem medo ou dó de desvirtuar suas referências e influências, de resignificar e emular e, assim, criar suas obras. A música popular brasileira e o rock nacional, ambos sessentistas/setentistas, são a base, mas limites e preconceitos não são bem-vindos. O tal "caldeirão multiétnico" toma forma e constroi uma world music cosmopolita. No meio disso tudo, momentos em que se encontra um Pato Fu bucólico e orgânico, doido de ácido; hermanos bossa-novísticos apaixonados; netos dos Mutantes que trocaram os psicotrópicos e se drogam pelo excesso de informação - misturada no liquidificador.

A riqueza de timbres e de arranjos, a esperta construção de letras, as apropriações de temas alheios e a técnica dos músicos são alguns dos pontos que justificam o fato da Graveola ser uma banda literalmente adorada por um público crescente e que, hoje, praticamente lotou o Grande Teatro do Palácio das Artes (pouquíssimas poltronas vazias). Público cuja empatia aflora nas baladas; que dança e se perde nas quebras de ritmo, mas mesmo assim continua o movimento; que grita histericamente demonstrando a relação sentimental com a banda e que repete o maior clichê da geração da "felicidade de Facebook" (onde, mais do que nunca, a felicidade e a beleza despontam como definidores do capital social): subir ao palco, pular e abraçar uns aos outros - estética e aprofundamento sentimental de um comercial.

Tudo isso é parte do que deverá ser visto no DVD gravado hoje, parte do projeto da banda realizado através do programa Natura Musical - lembrando que, em 2011, a Graveola também teve seu projeto de circulação patrocinado pelo Conexão Vivo, prova de que, além do público em geral, a banda também tem despontado interesse no setor privado. Além da gravação, a noite foi momento de lançamento do vídeo da música "Farewell love song", que assim que disponibilizado no perfil da banda no Youtube será compartilhado por aqui (atualização: vídeo abaixo).




 Complementos: 


1. O mais recente CD da banda, Eu preciso de um liquidificador, estava disponível para download no Megaupload, site que foi tirado do ar em uma operação internacional supostamente em defesa dos direitos autorais. Fica a sugestão para que as bandas brasileiras deixem de usar serviços desse tipo e publiquem seus trabalhos autorais para download no Overmundo, iniciaiva sensacional focada na cultura livre e na criação colaborativa.
Felizmento, o álbum da Graveola também está no Soundcloud.



2. Juliana Perdigão e Luiz Gabriel Lopes, membros da Graveola, possuem trabalhos solo recentes. O CD de Luiz (Passando Portas) pode ser baixado no Mediafire. O de Juliana (Desconhecido) também estava disponível para download no Megaupload...

3. Em clima de reapropriações, o início do texto faz referência a abertura do filme Trainspotting (cujo meu DVD ainda está com o Reiler - me devolva!)

Arquivos do blog