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13 de outubro de 2007

Manual para divulgação de bandas independentes na internet

Nos últimos anos, a evolução tecnológica provocou grandes alterações em nossas vidas. A internet, fruto dessa evolução, passou a ter papel crucial no modo como vemos e interagimos com o mundo. Um dos maiores benefícios dessa evolução foi o desenvolvimento de novas formas, mais eficientes e rápidas, de acesso à cultura e troca de informações. Transpondo esta situação para o cenário musical, temos uma verdadeira revolução, inimaginável no início dos anos 90, por exemplo, na qual nunca foi tão fácil conhecer novos artistas e, no caso dos músicos, mostrar seu trabalho para o mundo e atingir milhares (até milhões) de pessoas.

evoluçãoAssim como a difusão de tecnologia provocou uma considerável democratização das ferramentas de produção (softwares de edição e criação de áudio, teclados controladores, etc), resultando em saltos gigantescos no volume da produção musical, a internet passou a exercer a função crucial de armazenar, organizar e distribuir todo este conteúdo, fazendo com que o processo de divulgação e distribuição da música independente (e também da música pop) se alterasse, deixando para trás rádio e tv.


Apesar da crise das grandes gravadoras, nunca se consumiu tanta música quanto atualmente. Basta pensar na quantidade de músicas que circulam pelos milhões de tocadores de mp3 por todo o mundo e enchem HD's de computadores em casas e nos escritórios. A música está em todos os lugares e as bandas alcançaram um nível de independência até então inédito. Uma ótima divulgação pode ser feita pela internet utilizando ferramentas gratuitas e até mesmo custos de gravação das músicas podem ser reduzidos, graças aos estúdios caseiros e seus softwares de produção e edição.

Exemplificando o parágrafo acima, temos aquela já batida história sobre o Arctic Monkeys, primeiro famosos no MySpace, depois em todo o mundo; Cansei de Ser Sexy, de hype no TramaVirtual para os palcos americanos e europeus; e também o Bonde do Rolê seguindo o mesmo caminho do CSS. São fenômenos impensáveis sem a internet. No caso do Bonde, servem também como exemplo da produção caseira. Até mesmo em seu álbum de estréia, With Lasers, as guitarras foram gravadas no apartamento do produtor Chernobyl, como o mesmo revelou em seu blog. O recente lançamento do álbum In Rainbows, do Radiohead, um dos maiores grupos do mundo, acaba com as dúvidas quanto a eficácia da internet como um meio de distribuição e divulgação: permitindo que os próprios fãs escolhessem quanto pagariam pelo álbum e disponibilizando-o primeiro na internet, estima-se que mais de 1 milhão de pessoas tenham feito o download nos dois primeiros dias após seu lançamento, resultando em cerca de £5 milhões para a banda (quase R$ 20 milhões).

Tendo em vista esse panorama, o "Manual para divulgação de bandas independentes na internet" é uma tentativa de contribuir para o desenvolvimento dos artistas independentes, através de uma melhor divulgação de suas obras, de modo que seja mais fácil para o público encontrá-las e que as próprias bandas possam crescer e se tornar auto-sustentáveis através da música (sendo beeeeem otimista).

Afinal, se a internet passa a ser a principal ponte entre artistas e público, é importante que este meio seja bem utilizado, explorando todas as suas possibilidades.

É justamente por isso que abaixo você encontra sites/serviços web que possibilitam o armazenamento e divulgação de todo o material produzido pelas bandas, sejam músicas, vídeos, fotos ou qualquer outro arquivo digital, diminuindo o hiato entre o momento de criação e a apreciação por parte do público. Outro elemento importante proporcionado por estes serviços é a interatividade, tornando banda e ouvintes muito mais próximos, em alguns casos, até mesmo eliminando essas barreiras (como nas produções coletivas e abertas).

E como não poderia deixar de ser, é tudo de graça.

Mas o mais importante, e muitas vezes esquecido, é a própria música. Ela é o que importa. Pense na música. Pense na música.

Não diga que não avisei: não adianta ter uma bandinha medíocre.


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Músicas
Criar sua página no MySpace e no TramaVirtual, para as bandas nacionais, é praticamente o básico. MySpace é a maior comunidade mundial, já consolidada, através da qual é possível entrar em contato com pessoas e bandas de todo o mundo (inclusive com as próprias bandas que servem de influência). O TramaVirtual é o maior e melhor site do estilo no Brasil e também o que dá maior visibilidade. É nele que você encontra as melhores bandas da música alternativa brasileira atualmente.

Ambos os sites possibilitam que as bandas adicionem fotos e mantenham blog, sendo que no MySpace há maior abertura para personalização da página e adição de vídeos. Por outro lado, o MySpace permite o upload de apenas quatro músicas, enquanto na TramaVirtual o limite é tão grande que eu simplesmente não sei qual é (sério) e existe o sistema de "download remunerado", através do qual as bandas ganham dinheiro de acordo com a quantidade de downloads feitos das suas músicas.

A menos que esteja sendo irônico, manere o egocentrismo e a megalomania na hora de escrever os releases da banda. Apenas a prepotência irônica conta pontos a favor de uma banda. A reles prepotência imbecil simplesmente deixa claro que você tenta compensar com palavras o que não consegue fazer musicalmente. O mesmo cuidado e atenção vale para o momento de escolher o estilo a ser cadastro. Não escolha aquilo que você QUER tocar, mas sim aquilo que você REALMENTE toca. É incrível o enorme número de bobagens que se encontra (no meu trabalho como organizador de conteúdo de um grande portal de música, vejo isso o dia inteiro e portanto tenho propriedade para falar sobre o assunto). As besteiras vão de bandas emo que acham que tocam grindcore (no mínimo, sem ter a mínima noção do que é isso); bandas de pop rock chulé que acham que fazem indie rock; punk de butique cadastrado como rock de garagem; mais emo cadastrado como punk; e o pior de todos: centenas de grupos banais, cópias do que há de mais sem graça no mainstream, que se dizem "experimentais". Então tá.

Pode parecer reclamação gratuita, mas não é. Pense bem. Se você está atrás de uma banda shoegazer, bem depressiva, para servir de trilha sonora enquanto você "tenta" suicídio cortando os pulsos com a colherzinha de plástico com a qual acabou de tomar Danoninho (delícia!), e encontra uma banda de indie pop, as probabilidades de considerar esta mesma banda um lixo são enormes. Em conseqüência disto, essa banda poderá ir (talvez inconscientemente) para sua "lista mental de bandas de merda da internet" e esta mesma opinião poderá ser transmitida aos seus amigos, leitores do seu blog, etc. Ou talvez você simplesmente aperte stop e continue sua vidinha sem graça.

São muitos os serviços nos quais você pode disponibilizar suas músicas e o ideal é que você utilize todos, aumentando a chance de que seu trabalho seja encontrado. Entretanto, é importante que você defina um ou dois sites para os quais linkar e indicar para as pessoas (normalmente MySpace e TramaVirtual). Desta maneira, os sites escolhidos servirão como vitrine e exibirão melhores resultados do que se você fragmentar sua divulgação entre 10 sites diferentes.

Cada serviço possui suas particularidades e alguns possuem claramente afinidades com determinados estilos (caso do PureVolume com as vertentes mais pesadas do rock e o emo/screamo), então é preciso levar estes elementos em consideração na hora de escolher qual site atualizar com mais frequência e interesse.

Entre os similares do MySpace temos o Virb, PureVolume e imeem. No Brasil, também temos as opções do Fiberonline (voltado para a música eletrônica), Palco MP3, Bandas de Garagem e Busca MP3. Outras boas opções são o iJigg, espécie de YouTube para músicas, e a gravadora aberta Jamendo, na qual as bandas disponibilizam álbuns inteiros para download sobre licenças Creative Commons. Você pode ler mais sobre estes serviços na série "independência 2.0", publicada aqui mesmo no Meio Desligado.

O Overmundo, site dedicado à cultura brasileira, também é uma ótima opção. O banco de cultura do site possibilita o envio de áudio, vídeo, fotos e textos, sendo que, para ser publicado no site, o conteúdo precisa receber um número mínimo de votos dos membros da comunidade. Todo o conteúdo do Overmundo também fica sob licenças Creative Commons.

E fechando a lista de opções para as músicas, temos os serviços de podcast. Como a maioria dos sites determina as taxas de kbps e bit rate (referentes à qualidade do áudio) das músicas a serem disponibilizadas, os podcasts acabam sendo outra alternativa, ideal para publicar versões alternativas, lados-b ou demos. Entre os mais utilizados estão o Odeo (cujos players são bastante utilizados neste blog, incluindo o grande player vermelho disponível na barra lateral) e o Podomatic (feio, mas útil).

Tchauzinho, tv!Vídeos
YouTube, básico. Não é todo mundo que sabe, mas existe a opção de cadastro especial para bandas e de customização da página. O MetaCafe também é bastante utilizado e possui programas de remuneração do usuário, assim como o Revver. Não tão utilizados para a música, mas também interessantes, são o Daily Motion e o iFilm. Um serviço em ascensão em bastante elogiado é o Brightcove.

Grupo para fotos de bandas alternativas brasileirasFotos
A maioria das bandas prefere fazer um Fotolog e divulgar suas imagens por lá, mas o serviço é extremamente limitado e chato. Alternativas muito mais interessantes são o Flickr, no qual a banda pode criar um álbum próprio, um grupo para si ou enviar suas fotos para grupos relacionados (como o indie BR, que reúne fotografias de bandas alternativas brasileiras) e o 8P, que foi devidamente analisado neste texto.

Mas se você precisa de fotos que irá reutilizar em diversas outras páginas, nada como usar um serviço de armazenamento de imagens como o Photobucket. Você faz o upload da imagem e o site já te dá um código "embed", assim como os do YouTube, para você reutilizá-la onde quiser. É uma prática muito comum para fazer propaganda nos comentários do MySpace, por exemplo (e que às vezes enche o saco).

Comunidades
Orkut é bem fútil, mas pode ser bem útil, dependendo de como é usado. As comunidades virtuais podem ser utilizadas para reunir fãs de uma determinada banda e trocar informações sobre a mesma. É sempre mais legal quando alguém que gosta da banda cria uma comunidade, mas não irão lhe crucificar por criar uma para a sua banda. MySpace, Virb e imeem também são formam comunidades virtuais, mas de maneira bem diferente.

Uma comunidade tida como bem mais útil e ampla é a Facebook, que vem crescendo bastante. A Last.Fm também pode ajudar na divulgação, já que possui espaço para cadastramento de shows, músicas, vídeos, fotos e descrições das bandas. Gravadoras também podem se cadastrar na Last.Fm e editar informações de seus artistas.

Blogs
Se você chegou até este ponto, responda a pergunta: para que fazer um site? Resposta: por nada! É muito mais prático simplesmente comprar um domínio .com ou .com.br para sua banda e redirecioná-lo para seu MySpace ou seu blog, onde você pode juntar todo o material relacionado ao grupo. Para isso, serviços como Blogger e Wordpress são os mais populares. Interessados em experimentar também podem tentar o Vox, o tiozinho Live Journal (fraco), entre outros.

Armazenamento
De certa forma, todos os links acima estão relacionados ao armazenamento de conteúdo. Mesmo assim, esta categoria diz respeito aos serviços que funcionam exclusivamente como HD's digitais, nos quais qualquer material digital pode ser guardado. Muitas bandas os utilizam para disponibilizar álbuns inteiros em arquivos .zip ou .rar, poupando o trabalho do download faixa-à-faixa.

O 4shared é interessante por oferecer realmente uma espécie de HD virtual, no qual você pode criar pastas e escolher o que deseja compartilhar ou não. Outros serviços de armazenamento são o Rapidshare, Zshare, Sharebee e Mediafire, todos bem fáceis de serem utilizados.

Outro site que deve ser mencionado é o Archive, que reúne um enorme arquivo de shows, músicas e filmes.

Indefinidos
Mugg. "...o Mugg é um agregador de notícias sobre música, criando assim um canal de informações no qual os próprios usuários definem o conteúdo. Funciona assim: você encontra uma notícia interessante sobre música em qualquer site e, se quiser, a envia para o Mugg, clicando em um link específíco fornecido pelo serviço (e que você pode salvar nos seus favoritos, para facilitar) ou vai até o site e posta o link da notícia. Depois, é só escrever uma chamada para o texto com suas próprias palavras (por causa dos direitos autorais) e pronto. A partir daí sua notícia tem uma semana para receber no mínimo quatro votos e ser publicada no site.

Caso você tenha interesse em publicar um texto de sua própria autoria, também há espaço para isso. Como os próprios criadores do Mugg escreveram no site, essa é uma ferramenta que pode ser utilizada para 'falar sobre sua banda, colocar links para vídeos e downloads, fazer resenhas de shows a que foi, Cds que ouviu', etc."


Twitter. Hype do microblogging. Serviço que permite a publicação de pequenos textos de até 140 caracteres e que podem ser exibidos em outros sites e até recebidos por celular.

Del.icio.us. Exemplo mais conhecido daquilo que é conhecido como "social bookmarking", algo como "socialização de sites favoritos". Serviço através do qual você pode gravar seus sites favoritos, organizá-los através de tags, acessá-los de qualquer computador e dividi-los com o mundo. Pode ser usado para agrupar tudo que sai na internet sobre sua banda, por exemplo. Serviços similares: Furl, Blinklist, Reddit, StumbleUpon e Ma.gnolia.

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É isso. Não é uma panacéia (e nem era a intenção), mas espero que este texto possa ajudar na disseminação da cultura.

Sugestões são bem-vindas!

Foto da TV quebrada: theunionforever
Foto do zé-mané sendo estrangulado: kalebdf


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