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12 de julho de 2016

Aquele texto no qual não consigo esconder a nostalgia em ver uma (quase) volta do Black Drawing Chalks


Zé Celso Martinez para atrás de nós e pergunta se estamos esperando um táxi. Chico César passa ao fundo com sua equipe. Aeroporto movimentado por causa da Virada Cultural de BH que começaria no dia seguinte. Os integrantes do Black Drawing Chalks comentam a morte do Baixo Astral enquanto penso em como seria uma selfie unindo a banda aos artistas ao nosso redor. Um encontro inusitado que remete à época em que o quarteto goiano era um dos grupos que mais circulava pelo underground brasileiro e nos encontrávamos de tempos em tempos em festivais como o Calango, em Cuiabá, e o Bananada, em Goiânia, e também em cidadezinhas do interior. Ao lado do Macaco Bong, é uma das bandas que definiu o rock alternativo brasileiro no fim da década passada. Até o Rogério Flausino se dizia fã deles.

Lá se vão quase 10 anos desde a primeira vez que os vi ao vivo (já comentei isso em outro momento). Pensar na história do Black Drawing me faz pensar no processo de desenvolvimento deste blog e da cena em que estamos envolvidos. Em 2009, foram uma das primeiras bandas a tocar em uma festa do Meio Desligado e enquanto estavam hospedados na casa dos meus pais eu acompanhava o Victor e o Douglas desenhando o que viria a ser o clipe de "My favorite way", hit da banda. Além de converter uma grande leva de ouvintes ao rock alternativo brasileiro (roqueiros ortodoxos que não acreditavam que pudesse existir boas bandas nacionais cantando em inglês), o BDC definiu uma estética visual marcante que contribuiu para catapultar a carreira (internacional) do estúdio Bicicleta Sem Freio, de seus integrantes Douglas (baterista) e Victor (vocalista e guitarrista, mas que atualmente atua como tatuador).

Em um semi-hiato desde meados de 2014, o Black Drawing Chalks voltou a BH dia 8 de julho, dentro da programação da mostra Música Quente, depois de dois anos. Período este em que seus conterrâneos do Boogarins alcançaram uma exposição internacional que provavelmente já ultrapassa os feitos do CSS, até então o grupo indie brasileiro de maior presença no exterior nos anos 2000. Não por acaso, o Boogarins tem como baterista Ynaiã Benthroldo (ex-Macaco Bong) e Renato Cunha, guitarrista do Black Drawing, como técnico de som. Retroalimentação e continuidade. Douglas, o baterista, não participou do show de BH por estar em Las Vegas em um trabalho do Bicicleta Sem Freio para o UFC. Em seu lugar, Rodrigo Miranda, do MQN - "tios" do BDC. "O Douglas começou a tocar por sua causa", alguém diz ao Miranda em determinado momento. Retroalimentação e continuidade.

Contextualizações à parte, o efeito ao vivo continua o mesmo de outrora. Energia crua e direta, aquela descarga barulhenta que aos poucos acaba com nossa audição e resulta em uma pulsão de morte que se transforma na vontade de destruição expressa fisicamente por moshs, cabeças inquietas e saltos do palco. Catorze músicas foram pouco. Focado no segundo disco da banda, Life is a big holiday for us (tocado na íntegra com exceção de uma das minhas favoritas, "Finding another road"), o repertório ainda teve "Cut myself in 2"e "Simmer down", do No dust stuck on you (terceiro e mais recente álbum), "Red love", presente apenas no disco ao vivo Live in Goiânia e somente uma do disco de estreia da banda (um crime!), a essencial "Big deal" (que dá nome ao álbum). A boa notícia é que, a julgar pelo crowd surfing dos integrantes durante o show e pela expressão em seus rostos mais tarde, tudo vai ficar bem e não deve demorar muito pra que mais pessoas voltem a ter essa experiência (e, torço, com mais músicas do primeiro disco inclusas). Help me.


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