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27 de setembro de 2010

A cena de BH fervilha e Transborda

Salgado (do 4instrumental, atração do Transborda), após fazer a dança da galinha, carregando pirralho hiperativo encontrado sozinho na porta do banheiro durante o festival

Primeiro, um ponto negativo: o festival Transborda gerou uma enxurrada de trocadilhos horríveis nos títulos das matérias sobre o evento, como esta.

Por outro lado, talvez tenha sido o festival mais importante a ser realizado na capital mineira nos últimos anos. "Puff...", ouvi você fazer com a boca e pensar "que moleque idiota". Sem problemas, às vezes até concordo com isso, mas deixe-me explicar: o Transborda - Festival de Artes Transversais não teve grandes artistas internacionais, não teve uma programação imperdível e não bateu recordes de público, mas foi (e continua sendo) importante, acima de tudo, pelo que representa. E o que ele representa é um grande soco na cara (eu escreveria "um chute no saco", mas não sou machista e o "soco na cara" é extensível as mulheres também) de um cenário artístico bunda-mole e reclamão, que adora apontar os (muitos) dedos para todos os lados e não tomar atitudes para mudar.

Lembro-me bem de como tudo isso começou. Era 2008 e o festival Stereoteca (no qual eu trabalhava na produção) realizou o 1° Seminário Prático da Música (no qual eu e minha timidez, velha amiga, fomos mediadores em uma das mesas). O Seminário foi o ponto de partida para que o Lucas Mortimer, até então um mestrando em educação física e baterista nas horas vagas, incitasse a turma com o já famoso email intitulado "CRIAÇÃO E FORTALECIMENTO DA CENA DE ROCK INDEPENDENTE DE BELO HORIZONTE" (reproduzido ao fim deste texto).

Monograma (participação especial Mc Lucas Mortimer & As Peguetes)

Enquanto alguns nomes que até então se julgavam os fodões da cena esnobaram a ideia, pessoas até então totalmente desconhecidas se uniram e aos poucos foram desenvolvendo propostas, discutindo, convidando amigos e abandonando o barco, inclusive. Dois anos depois, a realização do Transborda pelo coletivo Pegada, com R$ 160 mil de verba pública, é resultado do trabalho desenvolvido nesse período, a prova de que se acomodar é a pior coisa quando se quer transformação, de que receber críticas e enfrenta-las apenas reforça seu caráter e empenho, de que nem tudo pode dar certo, mas a tentativa pode valer (e muito) a pena.


Sobre o festival em si, que aconteceu entre os dias 13 e 19 de setembro em BH com shows e oficinas, principalmente, posso dizer que:
- a noite de abertura da programação de shows foi uma das coisas mais bonitas que vi nesse ano, com a banda instrumental local Dibigode fazendo uma ótima apresentação no Auditório do Centro Cultural da UFMG enquanto atores e atrizes (jovens e idosos) realizaram performances em meio à platéia
- Fusile e Lucas Santanna fizeram shows incríveis na Praça da Estação, levando parte do público a saculejar desleixadamente com toda a malemolência e charme, no caso das mulheres (durante o show do Lucas Santanna) e a realizar trenzinhos e a nefasta dança da galinha (um tipo de dança em os braços são jogados pra trás e se movimentam do cotovelo ao ombro, lateralmente, enquanto o tronco é jogado pra frente, durante o show do Fusile).


E aqui, na íntegra, o email do Lucas em 7 de junho de 2008:

"Olá pessoal,

Participei essa semana do 1º Seminário Prático de Música, realizado pela Casulo e Rádio Inconfidência e com vários apoios. Inicialmente, estava apenas interessado em ver o show do Monno no Steroteca que acontece às quartas no Teatro da Biblioteca Pública, no entanto, vi que seria realizada uma palestra antes do show e decidi participar. Saí de lá no primeiro dia muito empolgado e com vontade de botar a mão na massa e fazer com que meu projeto musical fosse pra frente. Também percebi que o rock independente está aí com várias bandas boas e também com muita vontade. Mas mais do que isso, descobri que para conseguirmos realmente criar uma CENA DO ROCK INDEPENDENTE DE BELO HORIZONTE, a exemplo de Goiânia, teriamos que nos unir, organizar e movimentar.

Percebo que esforços para isso já vem sendo feitos. Tomemos o exemplo do OUTROROCK e do BH INDIE MUSIC. São dois festivais que estão reunindo as principais bandas independentes de Belo Horizonte e mostrando as caras. Fico muito feliz de estar participando dessa movimentação, mas quero mais.

Uma das propostas do 1º Seminário Prático de Música era de que, quem participasse em todos os dias do evento, enviasse um Projeto para pleitear a uma consultoria de três meses com um dos palestrantes, para ajudar na formulação e adequação de seu projeto (a consultoria será administrada pelo Sebrae). A lista dos palestrantes está no site da Stereoteca (www.stereoteca.com.br). Uma fala que foi muito recorrente entre os palestrantes é de que quanto mais unido e organizado for o movimento, maior será a atenção dada a este. Pensei então se escreveria um projeto para a produção de um CD da minha banda. Mas pensei: só fazer um CD não faria com que minha banda fosse ouvida e nem abriria espaços onde eu pudesse tocar com ela. Percebi então que a necessidade de abrir espaços para o rock independente e atrair a atenção do público só pode ser suprida através da união das bandas e da criação de uma CENA forte em Belo Horizonte.

Para isso, venho sugerir a vocês que façamos o pleite à consultoria com um projeto intitulado, por exemplo: "CRIAÇÃO E FORTALECIMENTO DA CENA DE ROCK INDEPENDENTE DE BELO HORIZONTE". Uma pessoa que estava presente no Seminário e também pensou nisso é o David da banda As Horas. Mas várias outras pessoas estavam presentes e imagino que todos tenham saído de lá com um pouco do sentimento que me domina agora. Vou citar algumas pessoas que vi lá: César (Carolina Diz), Bruno (Monno), Silvio (produtor do Udora), Luciano (Enne) e várias outras pessoas com rostos familiares. Quem mais estava lá?

O projeto é simples. Apenas uma lauda explicando um pouco do projeto e porque quer pleitear à consultoria. E escolher um ou mais palestrantes para ajudar e porque da escolha do palestrante. Eu pessoalmente me interessei muito pela ajuda da Maria Juçá (Circo Voador) que foi quem mais ressaltou que o espírito de união é determinante para o sucesso, provado ainda pelo trabalho do Circo Voador no Rio. Uma outra pessoa que poderia ajudar muito na organização de, por exemplo, um festival anual (estilo Bananada p.ex.) seria o Malab, grande produtor aqui de BH, fundador do Eletronika e que irá realizar o Pop-Rock Brasil este ano. Além do Reginaldo (Eletrodiscos) e Silvio (Tratore) que parecem ser pessoas super competentes. Ainda tem o Luiz César que é um cara super influente no MySpace.

Enfim, esta é uma idéia. Estou compartilhando-a e gostaria que todos comentassem.

Se gostarem da idéia, já sugiro nos encontrarmos dia 10 (terça-feira desta semana) no Matriz, logo após a coletiva de imprensa do BH Indie Music (que terá início às 10hs) para discutirmos e redigirmos a proposta.

Abraços e VAMOS AGITAR GALERA!"

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