Qual a sua definição de sucesso? Na maioria das profissões, é uma mistura de altas remunerações e elogios sobre o trabalho realizado (o tal do "reconhecimento"). Na música independente brasileira, seguindo esse ponto de vista, seriam pouquíssimos os casos de sucesso. Para facilitar e ser mais realista, as altas remunerações poderiam até dar lugar a "remunerações que permitam a independência financeira". Por "independência financeira", segundo o site O Pequeno Investidor, muitos brasileiros podem entender "ter a casa própria e um emprego que pague as contas". Aí complica novamente. Quantos músicos independentes conseguiram comprar suas casas e pagar suas contas através da música? Vamos cortar a parte da casa própria e nos contentar apenas com a parte de pagar as contas. Ainda assim, aposto que não apareceram em sua mente muitos novos exemplos de músicos bem-sucedidos atuando no underground tupiniquim (aliás, adoro essa palavra, que remete à primeira tribo indígena encontrada por Pedro Álvares Cabral em 1500 - ou seja, os primeiros a se fuder).
Sucesso na música independente brasileira, então, se aproximaria de um pinto com mais de 20 cm: 1) você sabe que existe, mas poucos têm 2) muitos fazem de tudo para convencer aos outros de que o tem, apesar de terem noção de que é uma mentira relativamente difícil de manter 3) em ambos os casos, muitos gastam grandes quantias tentando obtê-lo.
Mas falemos menos de falos.
Análise de mercado, investimento, planilha financeira, cronograma, projeto, estratégia de divulgação, planejamento, fluxo de caixa, stakeholders... Termos da rotina empresarial mas que estão cada vez mais presentes no dia a dia das bandas. Se por um lado demonstram uma busca por profissionalização no mercado musical, também representam uma perigosa caminhada rumo à mercantilização excessiva da música independente/alternativa, supostamente mais sincera e original do que a produção mainstream justamente por não se basear nas necessidades mercadológicas.
A vontade de obter repercussão e dinheiro (sucesso?) faz com que bandas e artistas gastem cada vez mais tempo com planejamento. Os resultados positivos mais óbvios são o crescimento de público e uma bem-vinda profissionalização que se expande pela cadeia produtiva do setor. Por outro lado, cresce também a padronização na execução das carreiras artísticas e, pior, na produção resultante. Mesmo na cena indie.
Nesse cenário pasteurizado, um tipo de artista passa a ser ainda mais crucial: aquele por vezes marginalizado e taxado como "sem futuro". Esses artistas, conscientemente ou não, são atores essenciais. Eles não fazem planos de largar seus empregos e contratar assessores de imprensa. Ao mesmo tempo em que diminuem as chances de se decepcionarem com os rumos de suas carreiras, permanecem fieis ao que os motivou a montar uma banda. Caso não tenha percebido, estou me referindo à música.
Essa deveria ser a essência do underground, um grande espaço de liberdade de criação no qual o futuro é uma incógnita - e isso é um grande ponto positivo. Um dos aspectos mais interessantes do punk/hardcore são justamente os limites de ambição inerentes ao gênero. Ninguém cria uma banda de hardcore almejando se tornar milionário. A música, o contato com as pessoas, a necessidade de se expressar, junto de outros elementos, vêm antes do "sucesso". E, claro, transformar tudo isso em uma atividade sustentável é uma boa meta.
Não existe nada de errado em querer viver da sua música. Mas, antes de ser um produto ela é sua forma de expressão, capaz de provocar as mais diversas reações e sentimentos nas pessoas por todo o planeta. Se ao pensar nas possibilidades da sua criação artística ela ainda não estiver em primeiro lugar nos seus planos, talvez você devesse, sim, repensar o seu futuro.
Essas bandas podem não ter um futuro comercial relevante, mas são essenciais para o futuro da música. Se todos estiverem preocupados especificamente em obter remunerações que os sustentem, haverá cada vez menos espaço para as manifestações artísticas mais experimentais, mais ousadas. E quem também perde nesse cenário é o público.
Parte do ponto de vista é: muitos nunca vão ganhar grandes quantias com seus trabalhos artísticos e, paralelamente, também podem gastar quantias significativas, e é preciso ter isso em mente. O que é diferente também de ter a música como um hobby eventual.
A sensação, conversando com músicos de diferentes cidades, é que existe um clima de insatisfação e certa decepção com o mercado, mas talvez isso seja fruto de ambições exageradas. A internet criou a imagem de que todos podem ter o tal sucesso (assim como alguns acreditam na história do "aumente seu pênis"), mas a realidade é dura e nem todos estão preparados para a cauda longa (ou para o pinto curto - não resisti ao trocadilho).
Da mesma forma que a ausência de um pau enorme pode ser compensada de diversas formas (inclusive, ficando claro que tamanho, definitivamente, não é o mais importante), a concepção de sucesso deve ser retrabalhada. Às vezes, tocar para 50 pessoas em cada cidade visitada pode ser umexcelente bom resultado. Depende de como você se prepara (seus gastos, quais produtos complementares você tem a oferecer etc) e como você lida com isso. E frente ao poder de publicitários, pesquisadores de tendências, jornalistas desinformados e outros seres abomináveis que costumam contribuir para o sucesso ou não de algo, não ter um futuro pode ser uma boa opção.
Essa deveria ser a essência do underground, um grande espaço de liberdade de criação no qual o futuro é uma incógnita - e isso é um grande ponto positivo. Um dos aspectos mais interessantes do punk/hardcore são justamente os limites de ambição inerentes ao gênero. Ninguém cria uma banda de hardcore almejando se tornar milionário. A música, o contato com as pessoas, a necessidade de se expressar, junto de outros elementos, vêm antes do "sucesso". E, claro, transformar tudo isso em uma atividade sustentável é uma boa meta.
Não existe nada de errado em querer viver da sua música. Mas, antes de ser um produto ela é sua forma de expressão, capaz de provocar as mais diversas reações e sentimentos nas pessoas por todo o planeta. Se ao pensar nas possibilidades da sua criação artística ela ainda não estiver em primeiro lugar nos seus planos, talvez você devesse, sim, repensar o seu futuro.
Essas bandas podem não ter um futuro comercial relevante, mas são essenciais para o futuro da música. Se todos estiverem preocupados especificamente em obter remunerações que os sustentem, haverá cada vez menos espaço para as manifestações artísticas mais experimentais, mais ousadas. E quem também perde nesse cenário é o público.
Parte do ponto de vista é: muitos nunca vão ganhar grandes quantias com seus trabalhos artísticos e, paralelamente, também podem gastar quantias significativas, e é preciso ter isso em mente. O que é diferente também de ter a música como um hobby eventual.
A sensação, conversando com músicos de diferentes cidades, é que existe um clima de insatisfação e certa decepção com o mercado, mas talvez isso seja fruto de ambições exageradas. A internet criou a imagem de que todos podem ter o tal sucesso (assim como alguns acreditam na história do "aumente seu pênis"), mas a realidade é dura e nem todos estão preparados para a cauda longa (ou para o pinto curto - não resisti ao trocadilho).
Da mesma forma que a ausência de um pau enorme pode ser compensada de diversas formas (inclusive, ficando claro que tamanho, definitivamente, não é o mais importante), a concepção de sucesso deve ser retrabalhada. Às vezes, tocar para 50 pessoas em cada cidade visitada pode ser um
Ps: dispenso o mimimi de quem interpretar o texto como sendo um incentivo à não-remuneração dos músicos, beleza? E opinião, afinal, é tipo herpes: quase todo mundo tem, mas só alguns manifestam.