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26 de setembro de 2013

Savassi Festival NY: impressões

Por Lucas Mortimer

Recém-chegado aos Estados Unidos para uma temporada de 10 meses de estudos, tive a oportunidade de presenciar alguns momentos do Savassi Festival NY. Realizado em Belo Horizonte desde 2003, o festival levou à sua primeira edição internacional uma série de shows e workshops focados na música instrumental brasileira e ocupou diversas casas de show e universidades da "grande maçã" de 16 a 25 de Setembro de 2013. Participei de dois, dos cinco workshops, e assisti a cinco dos 16 shows.

No dia 18, participei do workshop de Rafael Martini sobre a música popular contemporânea brasileira realizado na NYU. Rafael e os excelentes músicos de seu sexteto apresentaram e demonstraram alguns ritmos populares brasileiros como baião, maracatu, bossa nova e também ritmos sul-americanos como a chacarera, descrevendo e relacionando a influência destes na música contemporânea moderna. Uma bela aula sobre música brasileira em uma das principais universidades de Nova York, destacando artistas como Hermeto Pacoal e Egberto Gismonti, além de novos talentos.

Em seguida, compareci ao clube The Bitter End para os shows de Joana Queiroz Quarteto (que contou com a participação de uns 10 músicos) e de Andre Vasconcelos Quintet. A casa estava cheia e o show de Joana Queiroz começou ofuscado pelo volume das conversas nas mesas. Aos poucos os músicos foram conquistando o público: Felipe Continentino e sua firmeza rock/jazz na bateria; Rafael Martini e sua sutileza no piano; Vítor Gonçalves e sua agilidade no acordeon; Fred Heliodoro e sua segurança no baixo; Alexandre Andrés e sua bela sintonia com Joana; Antonio Loureiro e sua serenidade na bateria; Sergio Krakowski e sua sensibilidade no pandeiro; e Tatiana Parra e sua força e presença na voz. Um belo time muito bem orquestrado por Joana Queiroz, ovacionada de pé por todos ao final do show.


André Vasconcelos subiu ao palco em seguida mostrando grande habilidade e sentimento na guitarra, apresentando belas versões jazzísticas de músicas brasileiras. Sem conseguir, no entanto, segurar o público que se dispersou aos poucos. Vale a pena conferir o trabalho do moço e do excelente pianista Evan Waaramaa na banda Crosswalk Anarchy.

No dia seguinte (19), foi a vez de Rafael Martini apresentar seu show no Shapeshifter Lab no Brooklyn. Para quem não sabe, o Brooklyn é uma outra cidade que compõe a Grande NYC, juntamente com Queens e The Bronx. Embora no mapa do metro não pareça, a área do Brooklyn é bem maior que Manhattan e alguns bairros vem aos poucos se tornando alvo de ocupação de artistas gentrificados e se tornando culturamente ativas. Talvez por ainda estar nesse processo, a casa estava um pouco vazia. Mas isso não foi suficiente para abalar os músicos. A sonorização da casa era excelente e ajudou os músicos a fazerem um show intimista de muita expressividade. Quase a mesma trupe do show da Joana Queiroz, com Trigo Santana no baixo e Jonas Vítor no sax tenor. Ponto alto para a participação de Tatiana Parra, que fez um duo belíssimo com Rafael em "Consuelo", música do disco de estreia de Martini, Motivo.


Um parênteses para mencionar que Rafael Martini foi contemplado pelo Edital de Intercâmbio do Programa Música Minas, que concedeu as passagens aéreas para o artista apresentar seu show e sua oficina no Savassi Festival NY. Como contrapartida, o artista deverá realizar essas ações também em Minas Gerais, em formato solo. Vale a pena ficar ligado para conferir.

No domingo (22), foi a vez de Sérgio Krakowski apresentar seu "Carrosel de Pássaros" com participação especial de Túlio Araújo. The Cornelia Street Cafe foi uma bela escolha para receber o show. No ambiente onde os shows são realizados, no porão da casa, as luzes são reduzidas na hora da apresentação e todo o público fica em silêncio para poder experienciar a música. Krakowski consegue extrair diversas sonoridades do pandeiro com uma variação dinâmica impressionante. O pianista Vítor Gonçalves dá a base para que Sérgio, o guitarrista Todd Neufeld e o saxofonista John Elis improvisem a vontade. Túlio Araújo entrou e ajudou a dar o groove que às vezes falta no show de Sérgio. Ao fim do carrosel, uma longa salva de palmas da plateia que ficou imersa durante uma hora de show.

Saldo muito positivo do festival, realizado com excelência por Bruno Golgher, que confessou estar planejando essa ação em NY há 3 anos. Fica a expectativa para que essa ação possa se desdobrar e outros artistas mineiros e brasileiros possam desfrutar do caloroso público nova-iorquino.

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