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8 de dezembro de 2011

Blink: estudando o inconsciente, a tomada de decisões e a formação de opinião

Apesar do título no clássico estilo de auto-ajuda (reforçado no subtítulo original, The power of thinking without thinking, ou, em tradução literal, "o poder de pensar sem pensar"), Blink, segundo livro do inglês Malcolm Gladwell, se aproxima mais da psicologia e sociologia. Nele, o autor analisa a formação de nossas primeiras impressões em relação a algo e as formas através das quais são tomadas importantes decisões em curtos espaços de tempo - muitas vezes em situações de estresse e grande pressão. A base do livro é estudar o poder da cognição rápida,  sua relação com nossos pensamentos inconscientes e o que chamamos de intuição.

A todo momento somos obrigados a tomar decisões de diferentes graus de importância sobre assuntos e pessoas que muitas vezes não temos conhecimento profundo ou sobre situações sobre as quais não temos total controle - o mais recorrente. Em Blink, Gladwell apresenta pesquisas e acontecimentos que ajudam a entender melhor o processo de tomada de decisões rápidas e como isso pode resultar em ações mais construtivas.

Estamos sempre executando diversas tarefas simultâneas, mas muitas delas são realizadas inconscientemente, no "piloto-automático", para não nos sobrecarregar. Enquanto você lê esse texto, provavelmente seu corpo fez uma série de pequenos movimentos que não foram friamente calculados e aconteceram porque seu inconsciente o levou a isso, como se ajustar na cadeira ou movimentar a perna para se sentir mais confortável. Isso acontece para que o cérebro se concentre em executar a ação principal naquele momento: ler e interpretar o texto.

Segundo Gladwell, ao tomarmos decisões muito rápidas, em questão de poucos segundos, somos levados por nosso inconsciente, que se baseia em experiências anteriores, em associações implícitas. Um dos experimentos descritos no livro é simples. A pessoa se senta em frente a um computador e momentaneamente lhe é exibido o rosto de uma pessoa branca ou negra. Na sequência é exibido, durante 200 milésimos de segundo, a imagem de uma arma de fogo ou de uma chave inglesa. Quando tinham visto primeiro a imagem do homem negro, a maioria das pessoas identificou mais rápido a arma e também aumentou a porcentagem de pessoas que confundiu a chave inglesa com um revólver. São as associações implícitas feitas pelo subconsciente.

Outro exemplo se refere a pessoas que recorrem a empresas para encontrar parceiros amorosos. Quando perguntadas sobre os tipos de parceiros elas querem, fazem uma descrição X. No entanto, ao participarem dos encontros coletivos, elas rapidamente se interessam por pessoas com descrições bastante diferentes. Isso acontece porque há uma diferença entre o que sentimos, consciente e inconscientemente, e o que conseguimos expressar conscientemente. Quando você ouve uma nova música ou assiste a um curto comercial, sabe logo nos primeiros momentos se gosta ou não naquilo, mas se for perguntado do motivo de sua escolha, muitas vezes terá problema em se expressar.

Um dos fatores que deve diferenciar o jornalista cultural/crítico do leitor/público é essa capacidade. Não é obrigatório que o público consiga expressar claramente cada ponto que o atrai em um produto cultural. Ele deve, essencialmente, sentir aquela obra. Já o crítico, em sua função clássica, deve ser capaz de sintetizar o que lhe é apresentado e repassar ao público.

O livro possui muitos casos e pesquisas científicas que permitem compreender melhor o que o autor propõe e talvez seja difícil compreender em poucos exemplos. Fecharei com apenas mais um caso, agora aplicado à indústria cultural. Em Blink, há o caso de uma nova cadeira (Aeron, da Herman Miller), resultado de anos de pesquisa em ergonomia e materiais. Nos testes com o público ela se mostrou extremamente confortável, mas ganhava péssimas notas em relação a aparência. Essa situação se repetiu com diferentes grupos de pesquisa, mas mesmo assim, tempos depois, o fabricante decidiu lançá-la. O resultado foi que no início as vendas foram baixas mas depois ela se transformou em um estrondoso sucesso, a cadeira mais vendida da companhia. 

Como isso se aplica a indústria cultural? A cadeira foi mal junto aos grupos de teste no quesito estética por ser totalmente diferente, visualmente, das cadeiras comercializadas até então. Assim, nos testes, as pessoas não tinham parâmetros para compará-la, não tinham experiências que se aproximassem daquela experiência estética e o resultado inicial era simplesmente o desgosto. Na música e nas artes o processo é semelhante. Artistas de vanguarda dificilmente agradam ao grande público e um dos motivos seria que, ao ter um primeiro contato, a pessoa não estaria "preparada", o desgosto pode ser apenas resultado de algo que você desconhece e não consegue relacionar às suas experiências anteriores. Por isso a necessidade de ouvir melhor determinados CDs que em um primeiro momento parecem estranhos, porque em um primeiro momento você não foi capaz de fazer ligações suficientes que determinassem se aquilo lhe agrada ou não. 

O interessante nisso tudo é pensar como os julgamentos e opções que fazemos diariamente muitas vezes não podem ser explicados claramente por nós mesmos. Entender o motivo disso e treinar o "inconsciente adaptável", onde construímos nossas conclusões antes de ter consciência das mesmas, parece ser pertinente. Não é um livro "obrigatório", mas pode influenciar nas suas relações interpessoais e no modo como você toma decisões.

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