Pesquisar nos arquivos

23 de março de 2011

Ferramentas de produção colaborativa na internet aplicadas à produção cultural

Um estudo de caso a partir da experiência do festival Grito Rock 

Aproveitando que hoje o festival Grito Rock chega a Nova York, achei propício finalmente publicar por aqui o artigo que escrevi (às pressas) para a conclusão da minha pós-graduação em Produção em mídias digitais, no qual analiso o processo de produção do evento. Esta foi uma das pesquisas que apresentei no final do ano passado no Fórum da Cultura Digital e que até então não estava disponível na internet.

Para saber mais sobre o Grito Rock 2011 sugiro a leitura deste texto e uma boa navegada pelo site oficial do festival. Abaixo, o pdf com o artigo completo está acessível para leitura e download e, na sequência, publico as duas primeiras partes do artigo.

Introdução

Entre janeiro e fevereiro de 2010, o festival musical Grito Rock foi realizado simultaneamente em 82 cidades (78 no Brasil, 4 em outros países da América do Sul: Argentina, Bolívia e Uruguai), envolvendo mais de 500 atrações musicais, cerca de 800 pessoas em sua produção e alcançando público estimado de 25.000 pessoas. A maioria dos shows teve seu áudio transmitido em tempo real através da internet e, posteriormente, foram lançados bootlegs (na maior parte dos casos), e coletivamente através da internet, unindo pessoas de diferentes regiões e que na maior parte dos casos sequer se conheciam pessoalmente.

Desenvolvido pela rede intitulada Fora do Eixo, o Grito Rock é exemplo da execução de um trabalho colaborativo em ambientes digitais através do uso de ferramentas de produção e distribuição de conteúdo com intuito de elaborar ações relacionadas a produção cultural (sendo que por “produção cultural” entenderemos todas as ações e etapas necessárias para a elaboração e execução de projetos e ações culturais). Seu processo de produção ocorre através da troca de informações entre os integrantes da rede Fora do Eixo na internet, baseando-se no uso de ferramentas gratuitas que possibilitem a criação e compartilhamento de conteúdo de forma não-linear e colaborativa.

Para se buscar entender e estudar possibilidades de ação no uso dessas ferramentas para diferentes projetos com fins culturais, através da atuação em rede, é necessário mais do que uma análise das funcionalidades ou características das ferramentas utilizadas. É preciso compreender o contexto em que são utilizadas, de que maneira isso ocorre, quais são os agentes envolvidos no processo e de que maneira estão conectados entre si. Para isso, o primeiro passo é entender o que chamamos de rede e em que se constitui a produção colaborativa em rede.

Redes sociais na internet

A figura de rede é utilizada como metáfora para ilustrar as relações sociais na sociedade moderna, podendo representar uma nova forma de organização social (Castells, 1999) e a dinâmica de funcionamento das novas técnicas de comunicação (França, 2000). Conforme escreve França, a metáfora da rede “permite interpretar a funcionamento da sociedade e traduzir a dinâmica dos processos comunicativos”, servindo para analisar a interconexão de elementos e processos comunicacionais que constituem a troca de informações e construção de sentido entre indivíduos.

Uma rede social pode ser definida como a junção de atores (pessoas ou grupos, agentes da ação, os nós da rede) e suas conexões (interações) (Wasserman e Faust, 1994; Degenne e Forse, 1999), ressaltando o caráter de reciprocidade entre os elementos que a constituem. Aplicadas ao meio digital, as redes sociais na internet constituem estruturas sociais através da utilização de ferramentas de comunicação mediada por computador, gerando fluxos de informação e trocas sociais, sendo definidas pelas conexões entre os indivíduos e a forma através da qual ocorre as trocas de informações entre eles (Recuero, 2009).

Em uma rede social na internet, um nó pode ser definido como um indivíduo em si ou por sua representação através de um produto resultante de sua atuação na internet, como um blog ou um perfil no Twitter (Recuero, 2009). Em alguns casos, no entanto, vários atores podem agir na construção de um mesmo nó, em ações como um blog coletivo.

Arquivos do blog