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4 de janeiro de 2011

Free (grátis): o futuro dos preços

Gratuidade não significa ideologia, mas, sim, uma opção de um modelo de negócios mais amplo. Essa é uma das constatações a que podemos chegar ao ler  Free (grátis): o futuro dos preços, segundo livro de Chris Anderson, autor do fundamental A Cauda Longa (sobre o mercado de nichos potencializado pela internet).

O "futuro dos preços" no subtítulo do livro não foi uma das melhores escolhas e pode levar a conclusões precipitadas e errôneas. O subtítulo original, "the future of a radical price", apesar da singela distinção, faz muita diferença. O grátis, segundo Anderson, será uma opção cada vez mais constante, mas não, necessariamente, regra. A exceção a isso aplica-se justamente ao conteúdo digital, o qual, para o autor, a tendência é tornar-se gratuito, uma vez que seus custos de produção e reprodução tornam-se cada vez mais baixos. Semelhante ao que a Lei de Moore estabelece, de que a capacidade dos processadores duplica a cada 18 meses, os custos de armazenamento, largura de banda e processamento diminuem 50% a cada ano, o que, inevitavelmente, levará os custos de várias empresas que atuam no ambiente digital próximo a zero - tão baixo que não valerá a pena cobrar por ele, oferecendo esse produto de graça. 

No entanto, isso é apenas parte do processo de comercialização de produtos e serviços. Como Anderson escreve, "o grátis pode ser o melhor preço, mas não o único". Essa colocação se explica através de modelos de negócios que utilizam o grátis como parte do processo, como os modelos freemium (em que uma pequena parcela dos usuários pagam para obter versões mais completas de um serviço usado gratuitamente em sua versão básica por um grande número de pessoas).

Há muito tempo o grátis tem sido uma importante ferramenta de marketing, mas somente com a popularização da internet pôde ser considerado efetivamente um modelo de negócios. Convivemos com isso diariamente na internet, utilizando serviços de email, publicação de conteúdo, assistindo vídeos ou recebendo informações gratuitas de sites de notícias. Obviamente, todo esse conteúdo não surge sozinho e o livro de Anderson é bom justamente por explicar esse processo, assim como a razão de sua viabiildade (e necessidade) atualmente até mesmo para leigos na área.


Um dos capitúlos mais interessantes refere-se às economias não monetárias. São trocas que envolvem reputação e atenção, tão presentes em redes sociais e blogs. O que fazemos ao visitar blogs, linka-los ou divulgar seus posts no Twitter? Estamos enviando tráfego para determinado blog e dizendo que gostamos daquilo, que ele deve ser visitado. Construímos sua reputação. O que essa reputação resultará ao seu autor cabe a ele capitalizar.

O mesmo vale para diferentes áreas artísticas, como a música. A distribuição gratuita de músicas na internet não tem custos reais para quem quiser distribui-la e permite a construção e ampliação de públicos. A cada vez que alguém divulga um link de download de uma banda, aumenta a reputação e a atenção dedicada àquela banda. Algumas vão reclamar disso, outras vão pensar e agir de forma a tentar potencializar essa ação e gerar dinheiro com isso, seja levando mais pessoas aos seus shows, criando produtos diferenciados que façam os ouvintes quererem comprá-los ou outras formas as quais a criatividade e originalidade de cada um os levar.

Assim como as empresas abaixam os preços e buscam diferentes alternativas de marketing para obter maior participação de mercado, os artistas atuais devem compreender que em uma época de abundância como a atual (com praticamente qualquer CD ou música acessível através da internet, de forma legal ou não) não basta apenas tornar sua produção acessível (isso é essencial), é preciso que o público/consumidor sinta que existe algo que justifique o tempo que ele dedicará à sua obra em vez das outras milhares disponíveis.

Se um conteúdo é abundante (como música gratuita), é na escassez que se depositará o valor (como na música indicada pelos seus amigos). Você poderá encontrar música aos montes pela internet, mas aquela banda indicada pelo seu amigo (que conhece melhor os seus gostos musicais) ou por um jornalista ou blogueiro que você respeita é um item escasso. É justamente essa indicação "rara" que tem maior potencial de agrada-lo e, por isso, se torna mais valiosa.  Como aponta Anderson, um dos bens mais valiosos e escassos que temos é o nosso tempo e todas as apções que nos permitam alcançar nossos objetivos poupando-o tenderão a serem mais valiosas. A indicação, a seleção e a construção de conhecimento ao longo desse processo tendem a movimentar cada vez mais atenção e reputação em complexas equações que podem ou não resultar em valores monetários. Para Chris Anderson, é mais provável que sim.

Livro: Free (grátis): o futuro dos preços
Autor: Chris Anderson
Editora: Elsevier
Média de preço: R$ 40

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