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17 de setembro de 2010

A indústria fonográfica e a base da pirâmide

Por Leo Salazar, de Recife (PE)
A queda nas vendas de discos, alardeada pela imprensa, embalada pelo choro das gravadoras majors, não reduziu o consumo dos brasileiros pelo CD e pelo DVD. Pelo contrário, nunca se comprou tanto CD e DVD como agora. O varejo comemora o aumento, ano após ano, nas vendas de aparelhos de DVD e CD. O fato é que o brasileiro trocou o disco original pelo disco pirata, mais barato e mais acessível.

Uma pesquisa encomendada pelo Fecomercio/RJ ao Ipsos, em 2009, mostrou que o brasileiro acha justo pagar, em média, R$ 9,00 por um CD e R$ 13,00 por um DVD. Os valores estão mais próximos dos preços praticados pelos piratas do que pelas gravadoras.

As pessoas respondem que o baixo preço e a facilidade de encontrar o disco são os dois principais motivos apontados por elas quando questionadas pela razão de comprar disco pirata. Também dizem que prefeririam comprar o disco original, se acessível fosse (preço e facilidade).


Então por que, no curto prazo, as gravadoras não reduzem a margem de lucro e mantém o faturamento aumentando o volume de vendas?

E mais: por que as gravadoras não usam as carrocinhas de discos como eficiente canal de distribuição dos produtos e de promoção dos artistas?

Por que as gravadoras não oferecem opção de trabalho e renda, como revendedores de seus produtos, para pessoas desempregadas das classes C e D Brasil afora, assim como a Avon e a Natura usam cerca de 800 mil mulheres brasileiras de classe C e D como revendedoras de seus produtos originais?

A carrocinha de CD, por si só, não configura violação ao art. 184 do Código Penal, que define o crime de pirataria e estipula as sanções penais cabíveis. A carrocinha de disco nada mais é do que uma forma de vender disco de porta em porta. Assim como carrocinha de picolé ou de cachorro quente.

Dessa forma dois problemas seriam resolvidos de uma só vez: aumentaria a geração de riqueza na base da pirâmide social (trabalho e renda) e diminuiria as práticas ilícitas no país (pirataria).

Por que não?

O primeiro passo, a meu ver, é rever a estrutura de custos das gravadoras (leia-se jabá). Afinal, qual o grande custo de uma major atualmemte se não há ativo imobilizado, quase tudo é terceirizado e alguns artistas entregam a master finalizada?

Os executivos das majors não encontraram, e nem encontrarão, soluções para problemas empresarias dos países em desenvolvimento com modelos de negócios de países desenvolvidos. Pelo contrário, é mais provável que os novos modelos de negócios criados nos países em desenvolvimento ajudem a solucionar os problemas dos mercados nos países desenvolvidos.

Aos executivos da indústria fonográfica brasileira recomendo a leitura do livro A Riqueza na Base da Pirâmide – Erradicando a pobreza com o lucro, de C. K. Prahalad. Mostra casos de multinacionais que oferecem produtos e criam riqueza na base da pirâmide social em países como Índia e Brasil.

Obs.: os links e gráfico não estão no texto original e foram incluídos por mim, Marcelo Santiago.

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