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26 de dezembro de 2008

Cena Musical Independente – 1ª mostra de bandas paulistas

Por Flávia Amorim

O Estado fazendo sua vez de incentivador da cultura “independente” no país

Entre os dias 28 e 30 de novembro, rolou em Piracicaba uma das quatro edições do evento Cena Musical Independente, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo. As outras aconteceram em Araçatuba, Bauru e São Sebastião. Em cada edição, 10 artistas foram selecionados e receberam R$ 4 mil, alimentação, transporte e hospedagem durante os quatro dias do evento, além de terem uma de suas músicas inserida no CD de coletânea do evento. Benefícios muito importantes para grupos que muitas vezes pagam para tocar em festivais e casas pelo Brasil.

Esse tipo de evento pode estabelecer o acesso de grupos independentes a uma estrutura muito boa de palco e equipamentos, salvo alguns erros e problemas técnicos. Se você fizesse parte de um grupo de Santos, no litoral paulista, e quisesse tocar em Araçatuba, caso selecionado, teria seu transporte até o local do evento. Para ser selecionado os artistas não poderiam ter nenhum tipo de trabalho como CD ou DVD produzido e distribuído por qualquer gravadora ou selo. O grupo Forgotten Boys, por exemplo, foi desclassificado de uma das etapas por já ter seu trabalho distribuído pela Tratore. Aí começam minhas críticas à organização do evento. É de suma importância que o Estado fomente ações como essa, mas é preciso entender e administrar melhor a verba pública, para que essas ações não vão por ralo abaixo...

  • Inscrições: ter seu trabalho distribuído por um selo significa que você não é independente? Qual o significado do termo “independente”? Se você tira o dinheiro do próprio bolso para que uma empresa distribua seu trabalho em lojas ou na internet, significa que você já faz parte do mainstream? Outro ponto foi que alguns grupos não tinham trabalho autoral, fazendo no máximo uma releitura de músicas já conhecidas, humm...

  • Locais do evento: a idéia do evento ocorrer em cidades distribuídas no Estado (de leste a oeste) saindo da grande São Paulo, está de parabéns, com foco em cidades universitárias, mas... por que, em sua grande maioria, os eventos não tiveram o acesso do público? Chegando a ter de 50 a 100 pessoas assistindo as apresentações, aí também caímos no quesito DIVULGAÇÃO.

  • Divulgação: os eventos em geral não tiveram muita adesão de público, por mais que as “vantagens” de participar do evento sejam muito positivas, artistas independentes querem e precisam divulgar seu trabalho, e aí nesse caso, pra quem estão divulgando? Para as próprias bandas que participam dos eventos? Faltou uma boa ação de divulgação, muita gente não fazia idéia do que estava acontecendo na cidade, os universitários (que poderiam ser um público importante para o festival) não participaram em grande número, salvo nos shows de destaque como Cachorro Grande e Móveis Coloniais de Acaju.

Obs: os eventos tinham sempre dois artistas que já foram destaques da cena alternativa, como Autoramas, Cachorro Grande, Móveis Coloniais de Acaju, Lobão (?)...
Quem tocou em dias sem “grandes” artistas de destaque acabou perdendo público. No site da SEC (Secretaria de Estado da Cultura) não havia um link permanente sobre o evento, apenas poucos dias antes do evento acontecer, em cada cidade.

Ações que também aconteceram no evento foram:
Bate-papo com artistas convidados (Móveis... em Piracicaba) e apresentação de documentário (que infelizmente destacou a cena independente como puramente de “indie rock” e que inclusive tinha o Forgotten Boys dando entrevista, lembra que eles foram excluídos da seleção? Mas eles não estão no documentário como uma banda independente?)

O evento acabou sendo muito mais aproveitado pelos grupos selecionados do que pelo público leigo, que poderia ter tido acesso à informações sobre a cena independente e acabou não participando ativamente (se nem nos shows foram, nas outras atividades então, que o diga). Acho que atividades para os grupos seriam importantes também, talvez workshops sobre produção, sustentabilidade dos grupos, áudio, mercado fonográfico, isso sim viria a calhar.

Os palcos eram gigantes, a estrutura similar a palcos como da Virada Cultural paulista, outro evento promovido pela Secretaria. Será que se a coisa toda fosse em um espaço menor, mais intimista, não teria funcionado melhor? Ainda mais por ser a primeira edição do evento?

Sobre as bandas selecionadas, muitos trabalhos não tinham qualidade e maturidade, fico na dúvida sobre os critérios de seleção, visto que hoje um home-studio facilita muito que se grave uma demo em casa e se abra uma página no MySpace.

Não concordo que festival independente, por exemplo, não pode beber de fontes como a Petrobras para se sustentar, e desse ponto de vista também apoio que Secretarias de Cultura criem iniciativas como a do Cena Independente (inclusive há cidade no interior paulista que promove festival de banda de rock!). Acredito que são ações válidas, desde que não sejam temporárias, sem critérios e conhecimento sobre o que se está sendo organizado e divulgado.

Espero que o Cena Musical Independente volte em 2009, mas reveja suas ações.

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