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3 de setembro de 2008

O melhor festival, mas só a imprensa ficou sabendo (esqueceram de avisar ao público) - parte 1

Título alternativo (e careta, feito sob encomenda para o Google e para facilitar o trabalho da assessoria na hora de fazer o clipping): Cobertura completa do festival Eletronika 2008

O mais importante não é o que lhe oferecem, mas sim o que você faz disso. Isso é experimentar. Isso é o que torna tudo tão interessante e singular, que faz com que as pessoas se oponham ou dividam peculiares impressões similares. A cada vez que um grupo de pessoas se reúne em torno de uma banda, não se trata de apenas um acontecimento, mas vários, fruto de percepções e experiências individuais. Se uma música não é capaz de provocar diferentes sensações, se ela não é capaz de fazer alguém sentir-se bem ou ao menos diferente, talvez ela não seja relevante. Permanecer intacto e sentir as mesmas emoções não faz sentido para certas pessoas. Isso reflete em suas músicas, na busca por algo que lhes proporcione novas sensações, nos momentos especiais que talvez não se repitam e você sequer perceba.

Não existe O festival. Existem OS festivais, pois cada experiência é única, por mais que os sujeitos se deixem levar pela relativa homogeneização e tendências pré-estabelecidas.

Os jornais vendem uma experiência construída para jornalistas. Posso escrever detalhadamente sobre cada uma das atrações, porém isso não reflete, necessariamente, o que um determinado evento significou para o público em geral. Se os acontecimentos descritos mecanicamente fossem a melhor forma de retratar o fato, talvez toda a mídia devesse simplesmente ligar suas câmeras e retransmitir cada minuto.

Limitar-se à cada show realizado, buscar incessantemente o melhor ângulo para fazer uma foto bonita e atraente para seu leitor e disfarçar sua falta de originalidade ou conhecimento (ou ambos) com piadinhas mal-feitas é deixar de explorar as possibilidades. É dar continuidade a uma visão que existe apenas para um pequeno grupo: a própria mídia.

É pouco honesto, no caso de um festival como o Eletronika, pegar a programação do festival e então descrever os principais momentos de cada show. Esses foram os shows que formaram o festival desse ano, mas não foi esse o evento que o público viu. Principalmente porque a grande maioria do público não tinha condições de desembolsar R$ 305 (!!!) para ver a programação completa do festival. Sim, caso alguém comprasse o ingresso inteiro para ver cada uma das 17 atrações, essa seria a quantia necessária.

Se a base do jornalismo é relatar a realidade, então cada jornal, blog, tv ou qualquer outra mídia, em sua matéria sobre o Eletronika 2008, deveria contar as histórias das pessoas que viram três ou quatro shows e que tinham que sair do Palácio das Artes em busca de alguma cerveja decente. Esses seriam relatos de experiências freqüentes e relevantes. Isso ficaria um pouco mais próximo da “realidade”.

Realidade, esta, que é uma pena, já que o festival apresentou excelentes shows mas que foram vistos por um pequeno e seleto público (eufemismo para “burguês endinheirado”). As únicas pessoas que podiam ser vistas em todos (ou quase todos) os shows eram... tchamtchamtchamtcham!!! Membros da imprensa, com ou sem aspas (tente entender).

De que adianta fazer um curadoria excelente se você promove um evento pouco acessível ao público e ainda esquece de divulgá-lo? Ou você chama aqueles parcos cadernos de programação (com uma arte horrorosa, diga-se de passagem) empilhados em clubinhos e cafés da Savassi de divulgação? Tsc tsc. O troféu de melhor festival do ano que ninguém viu (exceto a imprensa) já tem dono, com certeza.

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Teria sido mais fácil e prático ter escrito a cobertura padrão. Antes que eu me perca e esse texto não faça sentido, entre no mundo de fantasia dos “jornalistas” que acompanharam todo o festival e saiba o que aconteceu nos três dias de show do Eletronika. Três dias que, para a grande maioria das pessoas, se resumirão ao que está registrado nos próximos textos.

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