A música é capaz de provocar os mais diversos efeitos — a maioria ligada aos sentimentos e, alguns, físicos. Se nossa capacidade sinestésica é limitada, isso se torna uma benção ao se ter contato com o ruído/mm. A sonoridade do (já veterano) grupo curitibano é cortante, uma motoserra musical que te estraçalha por dentro enquanto envolve aconchegantemente, cheia de classe, e lhe estimula a querer mais. Introdução à cortina do sótão é assim, um concerto para dilacerações.
Por ter em seu próprio nome uma referência a um elemento de sua sonoridade, o ruído pode ser considerado um grupo conceitual cujas músicas são construídas de forma a explorar nuances que envolvam essa abrangente manifestação sonora. Suas músicas nos guiam pela construção de paisagens ora áridas, ora suntuosas, por vezes remetendo ao estranho encontro entre o clima de um faroeste e o tipo de música que convencionou-se chamar de pós-rock (mistura já explorada pela banda anteriormente), como em "Zarabatana".
Introdução à cortina do sótão é um título tão enigmático quanto seu conteúdo. Épicos cheios de texturas que afloram aos poucos em nossos ouvidos, carregados de sentimentos e possibilidades. Frases de guitarra que suprem com louvor a ausência de letras ("Petit Pavé"), valsas deturpadas ("Valsa dos desestores"), breves flertes com o pop, shoegaze... é um raro tipo de banda que consegue soar conceitual e não aparentar restringida por suas escolhas estéticas. Ruído, afinal, é por si só um termo extremamente abrangente, capaz de provocar intensas reações de incômodo, atração, curiosidade ou, até mesmo, amor.