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13 de fevereiro de 2012

Festival Digitalia, por Frederico Augusto

O Meio Desligado também possui espaço aberto para a colaboração, como a que você lê abaixo. O Frederico Augusto é estudante de comunicação em Belo Horizonte e esteve em Salvador/BA, para participar do Festival Digitalia, que aconteceu entre os dias 1 e 4 de Fevereiro.

Amanhece em Salvador, em meio ao motim da polícia baiana, e com o calor típico do nordeste brasileiro começa o nosso trajeto rumo ao Digitalia, congresso/festival de música e cultura digital que propõe discutir as iniciativas relacionadas à música, novas tecnologias da informação e comunicação. Ao sair pelas ruas de Salvador e ouvir ao fundo as sonoridades típicas da cidade, olho para o lado e vejo a escola do Olodum; mais a frente, o Museu da Música e, na esquina, uma loja de discos.

Ao passar na escola do Olodum se percebe um som intenso, alegre e provocante. Crianças surgem à porta com anseio de experimentar e descobrir sons onde somente ali local seria possível, saindo assim da margem da sociedade e podendo ser reconhecidos como artistas. Daí surge a primeira lição do Digitalia: a busca de um grande palco, aberto a experimentações, sonoridades que possam ser compartilhadas a todos. Este grande palco é o ambiente digital, não sendo apenas a web, mas também aplicativos e demais formas de nos conectar e criar vínculos através de redes sociais e outras plataformas de comunicação. A troca de experiências proporcionadas a partir de cada som, bit e compactação.

A poucos metros vejo o Museu da Música. Ao entrar, um detalhe curioso. Nas escadarias que levam até o local há uma linha do tempo da música, onde encontramos os mais diversos artistas que de alguma forma contribuíram para a história da nossa música. Observando esta linha do tempo aprendo a segunda lição do Digitalia: em um ambiente digital estamos em uma linha atemporal, em que todos os artistas estão conectados a links, nós, combinações binárias e preferências. Tudo está disponível e catalogado bastando apenas clicks; com softwares montamos a nossa própria linha do tempo, criando novas formas de apreensão da cultura. Através de tecnologias livres temos a possibilidade de compartilhar linhas e criar estações de música e cultura, criando uma produção colaborativa em um espaço de experimentação.

Um dos trabalhos apresentados no Digitalia

Depois de viajar nas linhas do tempo me deparo a uma loja de música, por fora muito simples, porém ao adentrá-la vejo o poço cultural no qual entrei. O seu acervo é composto de LP’s raros, diversos CD’s, tanto de artistas já consagrados quanto artistas independentes. E em meio a isso e a livros de auto-ajuda e economia, entre outros, me deparo com um PC. E nele estava aberto o iTunes, onde tocava Baden Powell e sua discografia estava disponível. Terceira lição do Digitalia: o acervo musical está disponível a todos, basta apenas uma pesquisa. A música online está no ar, como os sons de Salvador, em vários formatos e aplicativos. Temos a possibilidade de distribuir, trocar, experimentar acervos e montar nossas lojas musicais. Em poucos passos se percorre o trajeto da música, do vinil ao MP3, tudo disponível em um mesmo ambiente. A economia da música está ligada à cultura digital. Uma nova filosofia se cria em meio a turbulência da economia mundial. Uma economia pautada na troca e na descentralização. Onde a produção é compartilhada e distribuída por todos e para todos.

A experiência do Digitalia nos apresenta o grande campo da cultura digital e onde a música se insere. Seja nos negócios, na tecnologia, na comunicação, na arte ou na educação, o ambiente digital afeta nossas vidas de alguma forma, reduzindo espaços e criando links que aproximam as experiências e o cotidiano de cada individuo. O festival apresentou diversos artigos com temas relacionados aos temas propostos, performaces ao vivo de DJs, VJ’s e de Criolo (o artista mais comentado do ano que se passou, além de palestras e debates com diversos nomes da cultura e da música, como Gilberto Gil.


Ao voltar para casa, repensando os modos que nos afetam o cotidiano, vejo, para minha surpresa, o jovem rapaz da loja de música, que nas horas vagas é DJ. Mais um encontro que é possível em ambientes digitais, com troca de papeis e experiências. Basta se conectar.

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