Por Edwaldo Cabidelli
Em tempos de vertigem, acaba-se sempre apanhando sozinho
“Não é o prédio que está caindo / São as nuvens que estão passando”. E quem
diria que uma das frases da música brasileira que melhor sintetiza a ruína e
vertigem de nosso tempo não sairia da boca platinada de certos caetanos,
mautners, chicos; ou tantos outros. Soltos por aí, com seus violões e suas
versões dos fatos, julgados e condenados à condição de eternos dignatários de
nossa triste verdade tropical.
Muito antes, mas não exatamente pelo contrário, estas aspas saem da boca,
ainda com alguns notórios dentes de leite, de uma banda classificada pela
chamada “imprensa especializada” como indie, quase hypada após ser um dos
indicados na categoria Aposta MTV durante a última edição do Video Music
Brasil (VMB): o Apanhador Só.
Formada por Alexandre Kumpinski (voz e guitarra), Felipe Zancanaro (guitarra),
Fernão Agra (baixo) e Martin Estevez (bateria), a banda gaúcha apresentou
seu primeiro álbum, homônimo, em meados de 2010. Na discografia da banda
existem ainda dois EP’s, Embrulho pra Levar (2006) e Apanhador Só (2008).
Ambos com competência suficiente para gerar certa expectativa em relação ao
álbum completo.
Em uma primeira audição, Apanhador Só pode causar certa desconfiança ou
até preguiça em alguns devido à semelhança do timbre vocal de Kumpinski ao
do eterno losermano, Marcelo Camelo. Somado a isso, temos ainda um riff de
abertura do álbum chupado de "We’ve Been Had", dos americanos
do The Walkmen, embalada por uma guitarra base no “melhor” estilo Albert
Hammond Jr, dos Strokes. Ou seja, algo tão original quanto um chute nas
bolas do saco.
Mas o que se segue após este primeiro e ingênuo deslize são ótimas melodias
sustentadas por arranjos bastante originais. Capazes de conduzir o ouvinte,
sem maiores sobressaltos, por marchinhas quase carnavalescas ("Maria
Augusta", "Vila do meio-dia"), sons para fervilhar inferninhos ("Jesus, o Padeiro
e o Coveiro") ou insóltos tangos estilizados ("Balão-de-vira-mundo"). Tudo isso
em uma roupagem pop, extremamente consciente, conduzida por harmonias
quase sempre exatas em seu tom burlesco.
Na definição do escritor, também gaúcho, Diego Grando, Apanhador Só pode
ser definida como um “coral de caipiras num picadeiro lamentando um amor
perdido, ao som das trombetas plásticas que vêm de brinde nos sorvetes de
maria-mole.”
Caipiras com guitarras estonteantes, conexão banda larga no curral e
propostas estéticas bastante relevantes. Capazes de convidar para o mesmo
picadeiro nomes tão díspares quanto Marcel Duchamp, Odair José, Astor
Piazzola, Thom Yorke, Brian Wilson e muitos outros. Todos juntos em uma
descompromissada tarde, maravilhosamente perdida no interior de um país
imaginário.
Ps.: o álbum de estreia do Apanhador Só está disponível para download gratuito no site da banda.