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9 de novembro de 2010

Apanhador Só

Por Edwaldo Cabidelli

Em tempos de vertigem, acaba-se sempre apanhando sozinho

“Não é o prédio que está caindo / São as nuvens que estão passando”. E quem diria que uma das frases da música brasileira que melhor sintetiza a ruína e vertigem de nosso tempo não sairia da boca platinada de certos caetanos, mautners, chicos; ou tantos outros. Soltos por aí, com seus violões e suas versões dos fatos, julgados e condenados à condição de eternos dignatários de nossa triste verdade tropical.

Muito antes, mas não exatamente pelo contrário, estas aspas saem da boca, ainda com alguns notórios dentes de leite, de uma banda classificada pela chamada “imprensa especializada” como indie, quase hypada após ser um dos indicados na categoria Aposta MTV durante a última edição do Video Music Brasil (VMB): o Apanhador Só.

Formada por Alexandre Kumpinski (voz e guitarra), Felipe Zancanaro (guitarra), Fernão Agra (baixo) e Martin Estevez (bateria), a banda gaúcha apresentou seu primeiro álbum, homônimo, em meados de 2010. Na discografia da banda existem ainda dois EP’s, Embrulho pra Levar (2006) e Apanhador Só (2008). Ambos com competência suficiente para gerar certa expectativa em relação ao álbum completo. 


Em uma primeira audição, Apanhador Só pode causar certa desconfiança ou até preguiça em alguns devido à semelhança do timbre vocal de Kumpinski ao do eterno losermano, Marcelo Camelo. Somado a isso, temos ainda um riff de abertura do álbum chupado de "We’ve Been Had", dos americanos do The Walkmen, embalada por uma guitarra base no “melhor” estilo Albert Hammond Jr, dos Strokes. Ou seja, algo tão original quanto um chute nas bolas do saco.

Mas o que se segue após este primeiro e ingênuo deslize são ótimas melodias sustentadas por arranjos bastante originais. Capazes de conduzir o ouvinte, sem maiores sobressaltos, por marchinhas quase carnavalescas ("Maria Augusta", "Vila do meio-dia"), sons para fervilhar inferninhos ("Jesus, o Padeiro e o Coveiro") ou insóltos tangos estilizados ("Balão-de-vira-mundo"). Tudo isso em uma roupagem pop, extremamente consciente, conduzida por harmonias quase sempre exatas em seu tom burlesco. 

Na definição do escritor, também gaúcho, Diego Grando, Apanhador Só pode ser definida como um “coral de caipiras num picadeiro lamentando um amor perdido, ao som das trombetas plásticas que vêm de brinde nos sorvetes de maria-mole.”

Caipiras com guitarras estonteantes, conexão banda larga no curral e propostas estéticas bastante relevantes. Capazes de convidar para o mesmo picadeiro nomes tão díspares quanto Marcel Duchamp, Odair José, Astor Piazzola, Thom Yorke, Brian Wilson e muitos outros. Todos juntos em uma descompromissada tarde, maravilhosamente perdida no interior de um país imaginário.

Ps.: o álbum de estreia do Apanhador Só está disponível para download gratuito no site da banda.

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