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19 de janeiro de 2010

Praia da Estação, o hit do verão

O Leo, meu irmão, fez esse texto pro blog do Fórceps, que reproduzo abaixo.
 

Manhã ensolarada de sábado em Belo Horizonte. Na Praça da Estação, no centro da cidade, um pequeno grupo protesta contra a Prefeitura reunido sob a sombra da única árvore do local. “Protesto?”, se surpreendem alguns transeuntes com a calmaria da manifestação. Sob o olhar atento e curioso da Polícia e da Guarda Municipal, que ficam de longe, aos poucos mais gente vai chegando, carregando suas cadeiras e sombrinhas de praia. Estendem suas toalhas no chão da praça, tiram os shorts, as camisas e se cobrem de protetor solar. Um grupo começa a jogar peteca, outro, frescobol. Alguém passa avisando que as fontes da praça serão ligadas às 11 horas. Ninguém sabe o que vai acontecer. A manifestação não tem líder. Nasceu na internet, fruto da indignação da população com a recente lei municipal que proíbe qualquer tipo de evento na praça e que, como um tiro no pé, acabou juntando os realizadores e frequentadores dos eventos na praça em torno de uma causa. As pessoas conversam, sugestões surgem e a “Praia da Estação” vai ganhando forma espontaneamente a cada minuto. A imprensa (Hoje em Dia, R7, Jornal Estado de Minas) fica sabendo e comparece. Instrumentos de percussão começam a surgir e por volta da hora do almoço a calmaria se perde em meio ao batuque e gritos de guerra como "Hey polícia, a praia é uma delícia" ou "Lacerda (prefeito da cidade), sua vida é uma merda".

Dá 11 horas e as fontes não são ligadas. A Prefeitura diz que elas “estão em manutenção”. O forte calor e a falta de água preocupam. Surge a idéia: vamos chamar um caminhão pipa! Uma garota passa arrecadando o dinheiro da vaquinha e cerca de 2 horas e R$ 150 reais depois, para delírio geral, um caminhão pipa realmente estaciona na caótica avenida Andradas, bem em frente à praça. Os automóveis na avenida diminuem a velocidade ao passar e as pessoas observam pela janela não acreditando no que estão vendo. Cerca de 300 pessoas de sunga e biquini estão sob a ducha de água pulando, tocando e gritando “Praia da Estação, o novo hit do verão! Toda semana!”. A cena é inacreditável. Um manequim apelidado de Lacerda é hostilizado enquanto uma faixa onde se pode ler a frase "A praça é do povo" é pregada no caminhão pipa. Gente voltando do trabalho adere à festa e para completar o cenário surreal um sujeito vestido de surfista em pleno centro da capital mineira chega carregando uma prancha e surfa sobre o público. Certamente uma das ações mais legais, honestas e criativas que Belo Horizonte já presenciou.

Sobre o decreto
O mais interessante é que quando a praça foi reformada no começo da década a prefeitura, que hoje afirma que a proibição foi adotada para preservar a praça, gastou uma fortuna reformando o local alegando que a obra iria promover "a revitalização do espaço público, dotando-o de infra-estrutura adequada para manifestações culturais com grande aglomeração de pessoas" (DOM de 2001).

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