O Leo, meu irmão, fez esse texto pro blog do Fórceps, que reproduzo abaixo.
Manhã ensolarada de sábado em Belo
Horizonte. Na Praça da Estação, no centro da cidade, um pequeno grupo
protesta contra a Prefeitura reunido sob a sombra da única árvore do
local. “Protesto?”, se surpreendem alguns transeuntes com a calmaria da
manifestação. Sob o olhar atento e curioso da Polícia e da Guarda
Municipal, que ficam de longe, aos poucos mais gente vai chegando,
carregando suas cadeiras e sombrinhas de praia. Estendem suas toalhas
no chão da praça, tiram os shorts, as camisas e se cobrem de protetor
solar. Um grupo começa a jogar peteca, outro, frescobol. Alguém passa
avisando que as fontes da praça serão ligadas às 11 horas. Ninguém sabe
o que vai acontecer. A manifestação não tem líder. Nasceu na internet,
fruto da indignação da população com a recente lei municipal que proíbe
qualquer tipo de evento na praça e que, como um tiro no pé, acabou
juntando os realizadores e frequentadores dos eventos na praça em torno
de uma causa. As pessoas conversam, sugestões surgem e a “Praia da
Estação” vai ganhando forma espontaneamente a cada minuto. A imprensa (Hoje em Dia, R7,
Jornal Estado de Minas) fica sabendo e comparece. Instrumentos de
percussão começam a surgir e por volta da hora do almoço a calmaria se
perde em meio ao batuque e gritos de guerra como "Hey polícia, a praia
é uma delícia" ou "Lacerda (prefeito da cidade), sua vida é uma merda".
Dá
11 horas e as fontes não são ligadas. A Prefeitura diz que elas “estão
em manutenção”. O forte calor e a falta de água preocupam. Surge a
idéia: vamos chamar um caminhão pipa! Uma garota passa arrecadando o
dinheiro da vaquinha e cerca de 2 horas e R$ 150 reais depois, para
delírio geral, um caminhão pipa realmente estaciona na caótica avenida
Andradas, bem em frente à praça. Os automóveis na avenida diminuem a
velocidade ao passar e as pessoas observam pela janela não acreditando
no que estão vendo. Cerca de 300 pessoas de sunga e biquini estão sob a
ducha de água pulando, tocando e gritando “Praia da Estação, o novo hit
do verão! Toda semana!”. A cena é inacreditável. Um manequim apelidado
de Lacerda é hostilizado enquanto uma faixa onde se pode ler a frase "A
praça é do povo" é pregada no caminhão pipa. Gente voltando do trabalho
adere à festa e para completar o cenário surreal um sujeito vestido de
surfista em pleno centro da capital mineira chega carregando uma
prancha e surfa sobre o público. Certamente uma das ações mais legais,
honestas e criativas que Belo Horizonte já presenciou.
Sobre o decreto
O
mais interessante é que quando a praça foi reformada no começo da
década a prefeitura, que hoje afirma que a proibição foi adotada para
preservar a praça, gastou uma fortuna reformando o local alegando que a
obra iria promover "a revitalização do espaço público, dotando-o de
infra-estrutura adequada para manifestações culturais com grande
aglomeração de pessoas" (DOM de 2001).