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2 de novembro de 2009

Porão do Rock 2009: cobertura especial

A amada Alê dos Santos, da rádio Cultura FM e do blog Drops Cultural, é a autora da cobertura especial do festival Porão do Rock 2009 para o Meio Desligado, direto de Brasília. Realizado nos dias 19 e 20 de setembro, essa foi a 12ª edição do festival e que, segundo dados da produção do evento, teve público em torno de 80 mil pessoas.


Voltando às suas origens, o Porão do Rock 2009 rolou em setembro (como na sua primeira edição), foi de graça, atrasou e ainda teve um monte de bandas de Brasília. Isso por si só não significaria um retrocesso, mas, comparado à edição anterior, este ano a organização deixou a desejar. Com a demora em se obter um patrocínio a realização do Porão do Rock era uma incerteza para os brasilienses e a escalação das bandas foi prejudicada. Nem por isso o festival deixou de trazer grandes nomes, alguns até “repetecos”, como Angra e Sepultura, que se apresentaram no festival em 2007.

O primeiro dia na Esplanada dos Ministérios estava marcado para começar às 16h mas só foi começar uma hora depois com o show do quarteto instrumental Super Stereo Surf. A banda tocou ano passado no Palco Pílulas e foi “promovida” para o Palco Principal. O mesmo aconteceu com as bandas Elffus, Black Drawing Chalks e Rafael Cury and the Booze Bros. Com o atraso do Orgânica, os argentinos do El Mato a un Policia Motorizado subiram ao palco e mesmo com o som meia-boca empolgaram os amantes do rock alternativo.

O som ruim não atrapalhou os argentinos, mas foi um problema no show da Cachorro Grande. Desde o começo Beto Bruno, vocalista da banda, pedia o retorno. A banda ficou em instrumentais intermináveis enquanto o gaúcho conversava com o pessoal da técnica. Até que eles pararam o show: “Nós e vocês vamos esperar o retorno voltar”, disse Beto no palco. Depois de algumas discussões, palavrões e “estresses” para todos os lados, a banda voltou a tocar. E claro que com muito cinismo. Engataram em músicas como “Deixa Fudê”, “Sexperience” e “Vai T.Q. Dá”, tudo em protesto pelo péssimo áudio no palco. O show terminou com a marca registrada, um bundalelê.

O Ludov fez um show fraco, nada excepcional. O Ellfus empolgou a galera, assim como os goianos Black Drawing Chalks, que estão a cada dia se profissionalizando mais. A grande atração da noite, os californianos do Eagles of Death Metal, não conseguiram o mesmo. Talvez o som não tenha colaborado, já que estava baixo em vista do que poderia estar. E mesmo encabeçado pelo boa praça Jesse Hughes, que não parava de dizer o quanto estava feliz por estar no Brasil, o show não empolgou. Jesse fazia grandes intervalos entre uma música e outra e o ritmo do show, que deveria ser acelerado, como pedem as músicas do grupo, foi lento, causando um certo desinteresse na platéia.


Já era tarde e mais uma mudança aconteceu no line-up. O Sepultura, que fecharia o Porão, acabou por tocar depois do Eagles e deu para perceber quem realmente grande parte da galera reunida na Esplanada dos Ministérios estava esperando. Os mineiros, como sempre, deixaram uma galera pulando e gritando sem parar. O Mugo veio em seguida, quase que abrindo o show do Angra, outra grande atração da noite. Eram mais de 3 horas da manhã e ainda tinha gente bem acordada para assistir o show dos caras, que não decepcionou. E não acabou, ainda tinha os paulistas do Mindflow, que fecharam o Porão para cerca de 300 pessoas e o Dynahead, que acabou escalado para fechar o Palco Pílulas no dia seguinte.

Ao contrário do que aconteceu no Palco Principal, o Palco Pílulas era uma inveja para qualquer um. Mesmo começando meia hora atrasado, as atrações tocaram todas em seu horário e ainda tiveram um som de primeira. Passaram por lá Scania (DF), Di Boresti (DF), Rocan (DF), O Melda (MG) em um show muito elogiado, Belle (RS), Superquadra (DF) e duas bandas que tem se destacado em Brasília, Watson e The Pro.

O segundo dia antecipou os 50 anos de Brasília e fez uma homenagem às bandas dos anos 80, 90 e 2000 que se destacaram na capital federal. Um prato cheio para quem viveu (ou vive) a sua adolescência em alguma dessas décadas.

O Fallen Angel/Dungeon abriu os shows do domingo, seguido pelo Detrito Federal, ainda no clima de nostalgia para o grande show de rock da Plebe Rude. Depois vieram Escola de Escândalo e Paralamas do Sucesso. Embora a banda seja do Rio, parte da sua história se passou em Brasília. O show foi perfeito para um festival. Herbert Vianna e seus companheiros João Barone e Bi Ribeiro tocaram sucessos do começo ao fim do show, deixando espaço apenas para duas músicas de seu último disco, Brasil Afora.

A tão comentada atração surpresa foi realmente uma surpresa para muita gente. Havia um buchicho de que Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá iriam se apresentar no Porão em um tributo à finada Legião Urbana e isso realmente aconteceu. A homenagem à banda e ao grande artista que foi Renato Russo era uma idéia antiga e deve se prolongar com mais shows em 2010. Vários vocalistas foram escalados para acompanhar os remanescentes da Legião: André Gonzales (Móveis Coloniais de Acaju), Herbert Vianna, Phillipe Seabra, Toni Platão e o uruguaio Sebastian Teysera (vocalista da banda La Vela Puerca). O show foi curto, mas conseguiu emocionar muita gente, ao ponto de algumas pessoas até pararem o carro no cantinho da pista para saber o que estava acontecendo ali.



No Palco Pílulas se apresentaram as bandas vencedoras da seletiva: Cassino Supernova, Na Lata, Soatá, Trampa, Kanela Seca, Bootlegs e Blazing Dog, além dos Cabeloduro e o Dynahead.

O Maskavo fez um show fofo, mas para eles realmente não há volta. Já o Little Quail and The Mad Birds deixou um grande gosto de quero mais. Com Zé Ovo e Gabriel Thomaz falando besteira o tempo todo e a vitalidade de Bacalhau, a banda ainda tem um timing perfeito. E se rir é o melhor remédio, Zé Ovo e Gabriel não pouparam comentários. Disse o guitarrista no show: “Eu queria agradecer a Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, a Legião Urbana, por abrir esse show do Little Quail!”.

Os Raimundos fizeram um show médio. A escolha das músicas poderia ter sido melhor e o Rodolfo realmente faz uma falta enorme na banda. Depois vieram Rafael Cury e para finalizar o festival, Móveis Coloniais de Acaju. Eram 3h40 da manhã e ainda tinha gente disposta para assistir o show do Móveis. Prova cabal de que eles são mesmo a banda mais querida de Brasília na atualidade. E quase que o show não acontece. Pouco antes de subirem ao palco a energia elétrica simplesmente acabou e uma chuva fina começou a cair. Quem esteve por lá conseguiu ver uma coisa inédita: Móveis acústico. Com a luz de volta, o show ganhou toda a energia característica da banda. A chuva ficou mais forte no final e o tão esperado bis não rolou para que ninguém saísse de lá eletrocutado.

Fotos por Bruno Bernardes (Cassino Supernova) e Patrick Grosner (público)

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