Se há quatro anos alguém virasse para mim e dissesse que em algum tempo eu estaria trabalhando em rodas de samba em favelas de BH eu provavelmente riria muito na cara dessa pessoa e continuaria tendo o Walter Mercado como meu vidente favorito. Agora, o que poderia ter sido apenas um palpite furado se concretizou no projeto Do Morro Ao Asfalto.
A ideia do projeto é simples: reunir músicos e cantores em rodas de samba em favelas de Belo Horizonte, tocando músicas próprias e clássicos do samba. Ao longo dos meses de outubro e novembro, sempre as sábados, os músicos se juntam em rodas nas praças das comunidades atingidas pelo projeto e tocam durante toda a tarde, inclusive ficando em aberto a possibilidade de participação de artistas locais (e também de bebuns que se acham grandes instrumentistas) que chegam com suas cuícas, pandeiros e afins e participam das apresentações que, é claro, são abastecidas de muita cerveja e tira-gosto. O que torna tudo tão importante e divertido para mim (além de justificar este texto no Meio Desligado) é que, afinal, o samba é o punk brasileiro!
Basta imaginar o contexto em que estavam inseridos os nomes da vanguarda do samba, décadas atrás, suas letras, suas mensagens, as estruturas das músicas. Carregado de malandragem, sexo (ainda que velado) e simplicidade, assim como o punk, o samba foi (e talvez continue sendo, porém de forma diferente) uma das maiores formas de expressão da classe proletária, dos avessos à dita "alta cultura" branca e burguesa. Uma arte de menor valor, coisa de vagabundos e marginais, diziam aqui. Lá fora, "punks".
A própria dinâmica da roda de samba é incrível: um grupo de pessoas se reúne sem sequer precisar ensaiar, alguém diz o ritmo para o pandeiro, a nota para o cavaco e pronto! É de uma simplicidade absurda que assusta pelo modo como consegue ser tão expressiva mesmo dentro dessas limitações.
Desde o primeiro momento em que imaginei minha participação na execução do projeto encarei a ação como uma espécie de incursão antropológica a um novo ambiente. Observando o modo como as apresentações se desenvolvem, a identificação do público (neste caso, majoritariamente formado por moradores das comunidades pobres nas quais o projeto é realizado) com as músicas e a forma como as canções autorais dos novos compositores são (bem)recebidas em meio aos clássicos, percebo o quanto temos a perder ao limitarmos nossas experiências (sejam elas culturais ou não) ao que nos é confortavelmente apresentado ao longo de nossas vidas. Partir em busca do desconhecido é fundamental, seja onde for, no morro ou no asfalto.
Para saber a programação completa e obter mais informações sobre a história e desenvolvimento do projeto visite o blog que criei para o Do Morro ao Asfalto 2009. É bem simples, mas dá conta do recado. As atualizações ficam por minha conta e do João Rafael, do Fórceps, e as fotos são do Luiz Navarro.
A ideia do projeto é simples: reunir músicos e cantores em rodas de samba em favelas de Belo Horizonte, tocando músicas próprias e clássicos do samba. Ao longo dos meses de outubro e novembro, sempre as sábados, os músicos se juntam em rodas nas praças das comunidades atingidas pelo projeto e tocam durante toda a tarde, inclusive ficando em aberto a possibilidade de participação de artistas locais (e também de bebuns que se acham grandes instrumentistas) que chegam com suas cuícas, pandeiros e afins e participam das apresentações que, é claro, são abastecidas de muita cerveja e tira-gosto. O que torna tudo tão importante e divertido para mim (além de justificar este texto no Meio Desligado) é que, afinal, o samba é o punk brasileiro!
Basta imaginar o contexto em que estavam inseridos os nomes da vanguarda do samba, décadas atrás, suas letras, suas mensagens, as estruturas das músicas. Carregado de malandragem, sexo (ainda que velado) e simplicidade, assim como o punk, o samba foi (e talvez continue sendo, porém de forma diferente) uma das maiores formas de expressão da classe proletária, dos avessos à dita "alta cultura" branca e burguesa. Uma arte de menor valor, coisa de vagabundos e marginais, diziam aqui. Lá fora, "punks".
A própria dinâmica da roda de samba é incrível: um grupo de pessoas se reúne sem sequer precisar ensaiar, alguém diz o ritmo para o pandeiro, a nota para o cavaco e pronto! É de uma simplicidade absurda que assusta pelo modo como consegue ser tão expressiva mesmo dentro dessas limitações.
Desde o primeiro momento em que imaginei minha participação na execução do projeto encarei a ação como uma espécie de incursão antropológica a um novo ambiente. Observando o modo como as apresentações se desenvolvem, a identificação do público (neste caso, majoritariamente formado por moradores das comunidades pobres nas quais o projeto é realizado) com as músicas e a forma como as canções autorais dos novos compositores são (bem)recebidas em meio aos clássicos, percebo o quanto temos a perder ao limitarmos nossas experiências (sejam elas culturais ou não) ao que nos é confortavelmente apresentado ao longo de nossas vidas. Partir em busca do desconhecido é fundamental, seja onde for, no morro ou no asfalto.
Para saber a programação completa e obter mais informações sobre a história e desenvolvimento do projeto visite o blog que criei para o Do Morro ao Asfalto 2009. É bem simples, mas dá conta do recado. As atualizações ficam por minha conta e do João Rafael, do Fórceps, e as fotos são do Luiz Navarro.