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12 de novembro de 2008

Marcelo Camelo (e o coral dispensável) em BH


Belo Horizonte, Minas Gerais - 05/11/2008
Show de Marcelo Camelo - Lançamento do álbum Sou/Nós
Palácio das Artes, 21:00h.
Grande Teatro. Platéia II, fila II, cadeira 3.

Muitas pessoas conversando, procurando seus assentos. Amizades revistas, beijos trocados, fofocas contadas, piadinhas sem graça, expectativas à flor das peles. Um burburinho ensurdecedor. As luzes se apagam e mesmo antes de qualquer pessoa subir ao palco os mais excitados já bradam suas tietagens.

Somente as luzes do centro estão acesas. Todas convertidas para um banco atrás de um microfone. Então entra a razão da noite. Marcelo, um cara magro e um pouco curvado, anda até o banco iluminado e pega seu violão. A imagem é linda e singela. Delicada, assim como o moço, que com tanta barba é difícil ver sorriso ou qualquer outra expressão assim delicada. E era pra ser aquele momento de profunda concentração no silêncio oco do teatro, mas infelizmente alguns muitos da platéia pouco deixavam o show começar. Os gritos e palmas fora de hora chegaram a ser profundamente irritantes.

À princípio a sensação total, em relação à tamanha manifestação do público, era de que aquele cara ali era realmente ovacionado e até idolatrado por alguns. Mas o tempo passou e o artista tentando fazer o seu papel, mas esses agitadores simplesmente não deixavam o espetáculo rolar. Queriam aparecer mais que o artista. Os gritos e os intermináveis aplausos atrapalhavam e deixavam o músico até sem jeito. Mas pouco a pouco esses foram se calando e deixando o moço falar e tocar... e cantar. É, em alguns momentos...

Apesar disso, devo dizer que Marcelo Camelo é um cara muito carismático em toda sua simplicidade e na tal timidez. Mas isso eu já tinha comprovado em outras ocasiões. O novo aqui, pra mim, foi a energia ao lado de uma banda muito diferente da Los Hermanos. Com sons mais delicados o Hurtmold ajudou a moldar a atmosfera do show e do disco, dando uma cara realmente nova para o trabalho do Camelo.

O disco Sou foi tocado quase que de cabo a rabo. Algumas dos Hermanos, como não poderia ser diferente, fizeram parte do set list, para delírio das tietes de plantão. E mais uma, que talvez tenha dado o clima mais intenso e incrível de todo o show, “Despedida” (nessa os aplausos e cantorias super alvoroçadas sessaram um bocado... será que não sabiam a letra?).

Quase todas (quando eu digo “todas” é verdade!!) foram entoadas pelo forte coro animadíssimo (às vezes até frenético demais) da animada platéia. Canções como “Janta”, “Copacabana”, “Menina Bordada”, “Vida Doce”, “Morena”, “Moça” e as outras muitas. Às vezes era até impossível ouvir a voz do moço lá no palco, o que me deu até um pouco de raiva. Pô, tinha ido ali pra ver a performance dele, não de outros desconhecidos e desafinados que faziam questão de gritar as poesias... Sinceramente, me senti profundamente desrespeitada com a platéia. E a sensação que tenho em relação ao Camelo é de que ele também não achou assim tão do caraleo essa intromissão do público...

Assim foi o show todo, que foi até rápido. No final, algumas canções de violão e voz mesmo. Mas aí, todas as vozes estavam no meio, inclusive a minha. Pelo menos metade das pessoas deixaram seus assentos e foram se aproximando do palco. Cantando, dançando. Uma catarse carnavalesca em coletivo, rs. E pronto, ele se despediu e foi embora. Aí, aconteceu o que eu nem de longe previa. Os tietes subiram no palco atrás do ídolo... Achei deseducado... Fiquei sem entender...

Por fim, teve bom, mas poderia ter sido melhor se aquela parte do público respeitasse a apresentação. E fico aqui tentando analisar o por quê de tamanho frisson... Uhm...

* De todas as pessoas que já escreveram no Meio Desligado, Mariana é a que conheço há mais tempo (quer dizer, com exceção do Leo, que é meu irmão, dãããã). Apesar do pouco contato no últimos anos, acompanhando o blog dela dá pra saber que ela continua envolvida com a música e com o teatro, além do jornalismo (mais uma, tadinha).

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