No Brasil, desde o ano passado percebe-se um crescimento do interesse de grandes empresas, de diferentes setores, em relação ao cenário musical independente. O patrocínio a festivais independentes é apenas uma continuação dos patrocínios realizados há anos, cujos principais marcos datam da década de 90, com eventos do tipo do Hollywood Rock, Close-Up Planet, Free Jazz, entre outros, passando pelos atuais Tim Festival, Nokia Trends, Planeta Terra e o falido Claro Q É Rock. Em um momento ou outro, era natural que essas empresas caminhassem em direção ao mercado independente, considerando o aumento do público, de bandas e da própria qualidade do material criado nessa cena. Porém, talvez o fato mais importante seja a natureza do público "indie", ou seja, aquele que consome e vivencia o cenário independente: em sua maioria, jovens de classe média/alta com acesso às novidades tecnológicas e às tendências culturais européias e norte-americanas. Resumindo: sacos de dinheiro ambulantes prontos para serem gastos em qualquer item que seja aparentemente descolado e "alternativo" (porque ser "alternativo" é o máximo).
* Parágrafo explicativo sobre "o alternativo" e que pode desviar sua atenção das idéias propostas neste texto até o momento ou simplesmente quebrar um pouco o fluxo de leitura. Se você não tem capacidade suficiente para conectar as informações após pequenas interrupções, o problema é seu. Não tenho espírito de Doutor Fritz nem sou mágico, então cérebros de minhoca não são minha especialidade (ainda). Incomodado? Vá ler o blog da Mari Moon (esse "moon" é de vaquinha?) que você irá se sentir bem.
O alternativo: termo imbecil utilizado por babacas incapazes de admitir que seus trabalhos não possuem nada de revolucionário, novo ou sequer interessante, na maioria dos casos muito próximos do pop. Exemplo verídico: quando trabalhava como organizador de conteúdo do Palco MP3, via centenas de bandas de pop rock chulé, "punk" chiclete, emo chorão e até sertanejo mela-cueca, além de forró de putaria e axé barra pagode (meeeedo), que se auto-classificavam como "alternativas". Enfim, não tinham nada que os diferenciasse do lixo pop a que somos submetidos diariamente, mas insistiam em mentir para si mesmos tentando vender uma imagem de "bandas alternativas".
Conselho de auto-ajuda (que estará em meu livro Como Conquistar Favores Sexuais, Fama e Sucesso com o Poder da Mente e uma Caneta Bic Vermelha, futuro best seller) para essas pessoas: se você consegue se imaginar algum dia na trilha sonora de Malhação ou fazendo participação no Big Brother #23, você não é alternativo.
Fim do parágrafo explicativo sobre "o alternativo".
O que passa a chamar atenção neste momento da relação entre mercado independente e publicidade é que novas oportunidades e iniciativas estão surgindo e, até o momento em que não interfiram na criação artística, são benéficas para ambos os lados. No caso da música, as bandas finalmente passam a ter alguma remuneração relevante, alcançam um novo público e, por tabela, têm condições de fazer melhores gravações e mais shows. Para os anunciantes/patrocinadores, é um modo de buscar a identificação de seu público alvo e se envolver com algo novo e construtivo no ramo cultural.
Recentemente, o que mais me chamou atenção foi o Levi´s Music, através do qual a marca de roupas apoia os já citados Forgotten Boys e Mallu Magalhães, além do Vanguart, Cine e Drive.
Os patrocínios vão além e atingem também a mídia independente, mas em escala (ainda) muito menor. A marca de tênis West Coast, por exemplo, criou um e-zine chamado SnackZine e convidou blogueiros diversos a visitar o site e escrever sobre o mesmo. Em troca, poderiam escolher um par de qualquer tênis da marca. Contanto que fique claro para o leitor que se trata de um post patrocinado, é uma iniciativa bacana. Empresas como Axe e Canon também já aderiram à prática. Em outros casos, a relação é mais tradicional, com a inserção de banners, como no Update or Die.
Muitas empresas preferem criar seus próprios blogs ou hotsites culturais, mas não percebem que investir em blogs e sites que já vêm obtendo destaque em seus respectivos nichos pode ser muito mais interessante e vantajoso. Por exemplo, já imaginou como seria excelente se uma companhia aérea bancasse minhas viagens para os principais festivais independentes que acontecem por todo o país? Eles atingiriam milhares de pessoas que, por estarem lendo sobre aqueles determinados festivais, mostram-se interessadas nas atividades culturais de outros estados e, portanto, são possíveis clientes.
Fica aí a dica, senhores diretores de marketing, para um ótimo investimento e de baixo custo. Enviem suas incríveis e irrecusáveis propostas para o email marceloarrobameiodesligado.com! (ps.: escrevo "arroba" no lugar do ícone @ para fugir de eventuais robôs de spam, caso você não saiba)
Somados à crescente (porém ainda incipiente) participação do poder público no cenário independente, o que se vê são inúmeras possibilidades e a sensação de que algo extremamente importante está sendo construído neste exato momento, majoritariamente graças à internet, e que eu e você, que está lendo este blog agora, fazemos parte de tudo isso.