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1 de junho de 2008

Como se surpreender e ver um show ótimo graças à incompetência dos outros (e um pouco de acaso)

Título alternativo: Edgard Scandurra aka Benzina no Velvet Club

Imagine: menos de 20 pessoas na Obra, ouvindo rock/pop nacional; Mary In Hell com uma festa chamada Mary Poppins (argh), auto-descrita como uma festa "com músicas do pop ao top para todos os gostos" (argh!²); Up! tocando farofada oitentista repetida; e você entre tudo isso, na Savassi, rodeado por emos adolescentes parecendo parte do elenco de BeetleJuice.

Após uma semana cansativa e cheia de compromissos, eu e a gangue do Fórceps (Leo, Natan, João e Fofão) não queríamos de forma alguma ficar parados e, como ressaltado 23 vezes pelo Natan: "Preciso ouvir música alta!".

Eis então que sugiro o Velvet Club, inaugurado no início deste mês e que vem trazendo DJs interessantes/curiosos para se apresentar, como Edu K, Kid Vinil e Philippe Seabra. Havia lido algo sobre o Edgard Scandurra se apresentar dois dias seguidos no local, um dia como DJ, o outro, com seu projeto Benzina, mas não sabia exatamente quando seria cada um. Apesar do receio de parte do grupo com o local e a atração da noite, principalmente por causa do electro/house que ouvíamos pela saída de ar do lado de fora, entramos por volta da 1 e meia da manhã e encontramos cerca de 50 pessoas acompanhando os minutos finais do set do DJ que precedeu o show do Benzina. E que show...

Munido de duas groovebox Roland (uma MC 909 e uma MC 505), um mixer e uma guitarra, Scandurra fez um show incrível. Mesmo nas músicas em que não toca guitarra e que "apenas" manipula suas groovebox, o som é pesado tanto nas batidas como nos sintetizadores, muito provavelmente fruto de sua influência roqueira.

Algumas música são mais próximas do techno, outras, do maximal, e, no geral, lembra bastante algo como Digitalism e Daft Punk com um guitarrista virtuoso. E por citar Daft Punk, Scandurra ainda tocou uma cover de "Television Rules The Nation", da dupla francesa, influência assumida de seu trabalho eletrônico.

São poucas as músicas em que o virtuosimo de Scandurra na guitarra é o foco principal, ao menos nesta apresentação em questão, e isso é ainda mais incrível, até porque foge do que boa parte do público esperaria dele. A maior parte da apresentação foi instrumental, com no máximo quatro ou cinco músicas com vocal, sendo que em algumas delas este era justamente o ponto fraco, meio desafinado e baixo.

Talvez eu tenha bebido demais e perdido a noção do tempo, mas a impressão que tenho é a de que o show durou cerca de duas horas, sendo que da metade em diante o público diminuiu bastante (para a alegria do doidão de dois metros que pulava ensandecido pela pista e se divertia colocando as mãos no teto). A queda de público não significa que o show tenha piorado ou se tornado repetitivo, mas apenas prova algo que acontece em boates/clubes de quase todos os lugares: a música, ali, é apenas um acessório. A maioria do público desses locais sai para a "balada", para dançar um pouco, encontrar as pessoas e flertar. Nada contra, são opções. Mas isso significa que a música é deixada de lado e, por isso, a cidade fica infestada de macacos apertadores de play que se auto-denominam DJs ao invés de pessoas que realizam trabalhos realmente interessantes e criativos.

Se por um lado isso aumenta a aura cult do show, por outro chega a ser vergonhoso perceber que um algo excelente foi realizado ali e que umas 20 pessoas ficaram até o final.

Sobre o Velvet Club, o espaço é muito bom, bonito e com um sistema de ventilação que funciona de verdade! Mais ou menos do tamanho da Obra, os únicos problemas aparentes são as cervejas mais caras (Heineken por R$ 4,20 enquanto na Obra e MIH custa R$ 3,50) e a ausência de mais baldes para as garrafas vazias, o que resulta em várias long necks espalhadas pelo chão da pista.

A impressão geral é a de que o Velvet não irá durar muito, já que seu público-alvo é muito próximo do da Mary In Hell e Up!, já estabelecidos e localizados a poucos quarteirões de distância. Mas, pra mim, contanto que haja um diferencial um pouco melhor definido, o clube pode encontrar seu nicho e se manter. É sempre bom ter opções para noites como a dessa sexta-feira.

Ps.: como não pretendia sair ontem de noite e resolvi na última hora, estava sem câmera. Portanto, sem fotos, xuxu. As imagens que ilustram o texto são de outras noites do Velvet, de divulgação.

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