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20 de março de 2008

O caso Paulo Henrique Amorim e a liberdade de imprensa

"O iG rescindiu meu contrato que ia até 31 de dezembro de 2008. O Conversa Afiada continua o mesmo – e mais livre, aqui, neste novo espaço.
Seja bem-vindo!

Paulo Henrique Amorim"

Apesar de aparentemente desconexo à linha editorial deste blog, a recente demissão do jornalista Paulo Henrique Amorim do portal IG, onde mantinha o blog Conversa Afiada, o caso está diretamente ligado a algo que é de extremo interesse tanto para o Meio Desligado como para toda a mídia e a população: a liberdade de imprensa.

A mesma liberdade de imprensa que deveria permitir que ilegalidades fossem divulgadas; que os fatos fosse relatados em uma tentativa de se aproximar ao máximo do acontecido; que um serviço de utilidade pública fosse exercido. Sem interferências de grandes empresas ou governos. Mas, como bem sabemos, não é essa a situação vigente no Brasil.

"Não é a primeira vez que me mandam embora de uma empresa jornalística.
Só o Daniel Dantas me “tirou do ar” duas vezes: na TV Cultura e no Uol.
E ele sabe que não vai me tirar, nunca ..."

O "jornalismo de interesses" (mas pode chamar de "jornalismo de tretas") é prática comum na imprensa nacional e está por todos os lados. O antigo "maior jornal de Minas Gerais", por exemplo, é famoso por sua posição governista (o que é confirmado por repórteres do próprio jornal), faltando apenas que se torne oficialmente um veículo do governo (sim, em minúsculas). A revista Veja também é um caso notório, atualmente dissecado pelo Luis Nassif em publicações periódicas em seu blog.

O próprio Daniel Dantas, citado por Amorim como motivo de sua demissão, também é alvo de Nassif em seus textos sobre a Veja. "Antes de fechar com Dantas a direção da Veja o tinha em conta como alguém que comprava reportagens, fabricava dossiês falsos e subornava jornalistas", escreveu. "Qual a lógica que leva uma revista a se associar a um empresário que, segundo ela mesmo, espalha dossiês falsos, compra reportagens e jornalistas? Há muitas explicações para isso, nenhuma boa, do ponto de vista jornalístico. (grifo por minha conta)". Os trechos acima foram retirados do texto "A imprensa e o estilo Dantas", disponível na página do Google Pages criada por um leitor e que reúne toda a odisséia de Nassif sobre a Veja. Recuso-me a linkar quaisquer páginas do IG por tempo indeterminado, por isso o link para essa página no Google Pages.

Estranho que o próprio Nassif comente o acontecido com PHA brevemente em seu blog: "Soube no final da tarde do fim do contrato de Paulo Henrique Amorim com o iG. Não sei os motivos". Em seguida, desvia para outros assuntos. Obviamente, deixei um comentário para Luis Nassif, uma dúvida que me incomoda e faz com que me questione sobre seu conhecimento da blogosfera:"Nassif, você ainda não foi introduzido ao incrível mundo dos servidores de blogs como Wordpress e Blogger? Por que continuar ligado a uma empresa que é contra a liberdade de imprensa se existem meios disponíveis para a criação e manutenção de um blog independente?".

Para minha surpresa, o comentário foi publicado.

"Essa é a virtude da internet: último reduto do jornalismo independente"

O grande Tiago Dória, um dos mais respeitados blogueiros de tecnologia, cultura e internet do Brasil, cujo blog também está no IG, não comentou o caso. Meu comentário para ele? "Tiago, o Paulo Henrique Amorim é demitido do IG em uma situação envolta em polêmica, o maior acontecimento da internet brasileira em 2008, e você não irá escrever nada sobre o caso?". Meu comentário sequer foi publicado. Ainda. (Atualização: o comentário foi publicado e respondido. "Por enquanto, nada a acrescentar" foi a reposta)

No próprio blog do Tiago Dória (que acompanho diariamente há muito tempo e continuarei lendo), há um texto publicado em dezembro de 2007 sobre o mapa da censura na internet, que reproduzo ao lado. O mapa foi criado pelo projeto Global Voices Online, da Universidade de Harvard. O marcador amarelo significa que o acesso a 1 site (no caso, o YouTube, na época da Cicarelli) foi bloqueado no país. Textos sobre a censura virtual na China e em Cuba também foram publicados no blog, mas nada de PHA.

O silêncio de Dória seria um indício de que, se estou em um meio de informação ligado a empresa X, não posso escrever nada que possa ferir a imagem desta empresa, mesmo sabendo que ela está errada? É só virar para o lado e esperar que outros o façam? Minha impressão é exatamente essa. Constatação óbvia: nós precisamos de dinheiro. Totalmente compreensível. Apenas não esperem que todas as outras pessoas que não são sustentadas pelo IG e demais corporações midiáticas anti-éticas e/ou mentirosas permanecem caladas.

Blogs são quase sinônimo de liberdade de informação, devido a sua facilidade de acesso e manutenção. Então por que mantê-los em grandes conglomerados de notícias? Existem diversas alternativas, como escrevi ao Nassif. Li algo interessante no blog Prensa 3.0 sobre isso: "independência pessoal, tão valorizada em blogs, nem sempre combina com interesses empresariais". Fica dada a mensagem.

Entenda o caso Paulo Henrique Amorim demitido do IG
Mais textos sobre censura na internet: 1 - 2 - 3
Mais textos sobre o caso: 1 - 2

Atualização em 21.03:
Após ter bloqueado o acesso a todo o conteúdo produzido por Paulo Henrique Amorim no Conversa Afiada (tanto para os leitores como para os mecanismos de busca), no que foi chamado pelo próprio PHA de “limpeza ideológica”, o portal foi obrigado pela Justiça a permitir que o jornalista tivesse acesso a todo o seu conteúdo produzido no período em que o blog foi hospedado no IG.

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