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9 de dezembro de 2007

Udora - Adeus rock, alô pop

capa de GoodbyeAlôQuando ainda existia uma indústria fonográfica forte no Brasil o Diesel lhe deu as costas e dispensou contratos com gravadoras. Quando a banda era o maior nome da cena indie de Belo Horizonte e começava a ganhar o resto do país, os quatro integrantes deram adeus, fizeram as malas e foram para os Estados Unidos na esperança frustrada de "estourar" no mercado gringo.

Agora, seis anos após o lançamento do primeiro álbum (ainda como Diesel, em BH), dois anos após o segundo (já como Udora, nos USA), a banda volta recauchutada, sem Jean Dolabella (atualmente no Sepultura), sem o baixista TC e cheia de histórias de brigas, decepções e recomeços. No meio de todo esse tumulto poderia-se esperar que Gustavo Drummond (o dono da banda) produzisse um disco furioso e perturbado, elevando o som nervoso do início de carreira ao extremo.
GoodbyeAlô, no entanto, é totalmente o contrário: um bichinho manso e bonitinho, perfeito para alimentar ipods de telespectadores de Malhação.

Ainda como Diesel, no Rock in Rio 2001


Entre a passagem de Diesel para Udora e do inglês para o português muita coisa se perdeu e se modificou: o som que antes era alternativo-grunge, agora é pop, as letras que antes tratavam de temas como dor e sofrimento agora apostam insistentemente no amor e a postura que era independente, agora é de conciliação (vide shows com Jota Quest e músicas em rádios farofa).

Além da incompatibilidade com seus antigos fãs, o Udora ainda se mostra perdido em seu próprio tempo ao ter a surpreendente idéia de não disponibilizar o novo álbum para download gratuito. Num ano em que podemos ouvir Radiohead sem pagar sequer um centavo é, no mínimo, forçar a barra querer que o público pague R$ 15 em um disco do Udora. A saída (minha inclusive) foi piratear o álbum (e olha que não foi fácil de achar).

Udora nos Estados Unidos


Para minha surpresa, no entanto, GoodbyeAlô não chega a ser ruim e não seria absurdo dizer que se trata do melhor álbum de rock lançado por uma banda mineira em 2007, ao lado de Daqui pro futuro do Pato Fu. Comparando o disco com tudo o que foi produzido na cena belo-horizontina pode-se ir mais longe e constatar que o Udora continua sendo a maior promessa mineira desde o início da década. A questão é: mérito da banda ou consequência da fraca produção no Estado?

Antes de se começar a ouvir
GoodbyeAlô uma coisa precisa estar em mente: Udora não é Diesel. Aquela banda pesada que quebrava tudo no palco, arrastava órfãos do grunge para qualquer buraco de BH e se tornou, por pelo menos um ano, uma das maiores promessas da música brasileira, simplesmente não existe mais. Junto dos dreads vermelhos de Gustavo se foram o peso, as afinações esquisitas e grande parte da força da banda. A ordem no Udora agora é se comportar e a nova forma de pensar abrange desde o figurino bonitinho até as guitarras absurdamente mais limpas, passando pelo corte de cabelo que toda mãe aprovaria.

Em
GoodbyeAlô a banda toca bem (como sempre), a produção é boa (fruto de muitos recursos financeiros e da ajuda técnica de Henrique Portugal do Skank) e as letras são..... bem, as letras são pop, com tudo que isso tem de bom e ruim. E se as faixas não são nenhuma obra prima também não chegam a causar vergonha.

A boa "A falta (que me faz)" abre o álbum e de certo modo anuncia o que vem pela frente: letras sobre relacionamentos, guitarras domesticadas para não agredir ouvidos mais sensíveis e a vontade de construir um hit após o outro.

"Por que não tentar de novo" é provavelmente a faixa com maior potencial radiofônico e não por acaso virou o primeiro vídeo-clipe do disco. Ouça algumas vezes e não se surpreenda se sair por aí cantando "Por que não tentar de novo/Já não tenho nada a perder/Meu ego não fica em jogo/Cada vez que penso em você".

Vídeo de "Por que não tentar de novo"


A chatinha "Quero te ver bem" se encaixaria perfeitamente como trilha de par romântico de Malhação e posso apostar que será o segundo clipe do disco. "Mil Pedaços" recupera um pouco da energia das primeiras faixas, mas uma preguiça voraz pode acometer o ouvinte menos resistente durante "Pôr-do-sol" e "Tão perfeito". As coisas só voltam a melhorar em "Meu pior inimigo" e "Velho lugar", justamente onde a faceta rock do álbum supera o lado pop.

Por fim "Goodbye Alô", a balada acústica que dá nome ao disco, chega com a estrofe "Eu só quero amar você/Pra não pensar que foi em vão/E todo dia me ver refletir em alguém/Que me faz são" confirmando, caso você ainda tenha dúvida, que o objetivo é mesmo expandir o público custe o que custar. Se vai funcionar? Provavelmente desta vez não, mas quando souber balancear o que o Diesel tem de rock e o Udora de pop, talvez a banda salte sem nenhuma escala para o mainstream brasileiro.

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