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Enquanto em outros lugares as cenas geralmente nascem de modo natural e desorganizado, em Cuiabá a coisa é metodicamente pensada, planejada, articulada e executada do modo mais profissional possível, com todo mundo atuando de algum modo. E se o rock independente cuiabano hoje é conhecido em todo país, muito se deve ao Espaço Cubo, do qual Pablo é um dos fundadores. O trabalho desenvolvido pelo instituto vai desde formar tecnicamente músicos até auxiliá-los na hora de colocar o pé na estrada, passando por oferecer um palco para as apresentações e suporte para divulgação do trabalho.
Entre um "saca" e outro Pablo foi, aos poucos, nos ajudando (eu e Thiago Foresti - jornalista de SP) a enxergar o que é a cena cuiabana e a montar o quebra-cabeça que é o Espaço Cubo, com suas diversas frentes de trabalho atuando como múltiplos braços por todo cenário musical cuiabano.
Cenário pré-Cubo
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Sem palco não há cena
Com a realização da 1ª edição do festival Calango, em 2002, os produtores da cidade perceberam que não havia uma cena na cidade e que era necessário dar continuidade ao trabalho incentivando uma produção autoral e formando público. "A gente precisou trabalhar o processo de criação de uma cena e o Espaço Cubo veio num primeiro momento fomentando o trabalho autoral para a gente sair do circuito de bar. O segundo ponto foi fazer os eventos periódicos", diz Ynaiã Benthroldo, baterista do Macaco Bong.
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O Cubo é visto por Pablo como um projeto visionário que não trabalha para alcançar um objetivo, mas sim para avançar dentro de um conceito. Além disso, segundo ele, o Cubo trabalha com um esquema de códigos abertos, o que permite uma transformação constante do instituto. Para Bruno, "a partir do momento em que uma cena se forma ela tem obrigação de deixar de pensar como cena e passar a pensar no mercado. Ela tem que pensar cadeia produtiva, então isso já abre outro leque e leva as entidades a se aglutinarem e a começar a partir para um outro estágio".
Nova lógica
Pautado pela organização e pelo engajamento, o Espaço Cubo atua como uma empresa com núcleos responsáveis por cada área enquanto Pablo age como um gerente, cobrando de todos e garantindo que a máquina ande. Para ele, a criação do Cubo Card foi o principal fator que levou a cena cuiabana a movimentação que ela possui hoje. "O Cubo Card é um sistema de crédito que fez girar a cena toda. O cara começava a trabalhar como roadie e recebia um número x de crédito com os quais podia ensaiar, gravar, entrar de graça em shows, comprar cds.....".
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Outro problema detectado pelo Espaço Cubo são os vícios que imperam na maioria das cenas. De acordo com Pablo, como as cenas geralmente nascem com a música como fim, elas acabam ficando suscetíveis a vícios como o amor à causa, a atitude rock and roll, o sexo e drogas. "Esses elementos estão muito próximos do ambiente rock e quando esse ambiente se pauta nesses elementos ele se torna extremamente alienado. Essa coisa do cara estar fazendo por amor é balela".
Avesso ao regionalismo, Pablo acredita que não há mais espaço para isso na música atual. Ele defende a diversificação e ataca: "O rock gaúcho é um dos rocks mais atrasados do país, até por essa perspectiva de pensar ´rock gaúcho´. Não existe mais mangue-beat, existe respeito, mas é aquela coisa de querer jogar o tambor no lixo, porque o som agora é mundo. Acho que a lógica do som regional também está morta. Não dá mais para esperar que uma banda de Cuiabá tenha uma pegada regional. A identidade agora é mundial", arrisca.
Artista-pedreiro
Além de primar pela organização, dentro do Espaço Cubo não há espaço para estrelismo. A cena cuiabana pensa e age coletivamente, inserindo o máximo de pessoas possíveis no processo e exigindo o máximo de cada um. Na Casa Fora do Eixo (principal palco da cena independente), por exemplo, é comum ver Pablo na bilheteria, Ynaiã no caixa do bar e Bruno como rodie de bandas recém-criadas que estão ensaiando. "Uma das coisas que a gente matou em Cuiabá foi essa coisa de dom divino. Artista é igual pedreiro, se o cara não ralar ele não vai se qualificar. Não existe mais essa lógica, porque essa é a lógica do mito, a mesma da indústria cultural. Essa lógica vem pra conseguir vender em larga escala, porque pra isso ela tem que dizer que você é melhor que o outro, que você tem um dom diferente. Aí todo mundo te vê como iluminado e te compra. A gente matou isso aqui", diz, satisfeito.
Perguntado sobre o futuro, ele é curto e direto: "Daqui a 10 anos vão ter saído 50 bandas boas de Cuiabá", prevê.
Desvendando o Espaço Cubo
CALANGO - Festival independente que tem como objetivo desenvolver a cadeia produtiva da música em Mato Grosso (MT).
VOLUME (Voluntários da Música) - Organização criada com o objetivo de estimular a organização, qualificação e profissionalização da cena musical, oferecendo oficinas, workshops e palestras com músicos profissionais periodicamente. Realiza a Semana da Música (Semus).
CUBO MÁGICO - É a frente mercadológica do Espaço Cubo, formada pela junção dos núcleos de Comunicação, Discos, Eventos e Sonorização (ensaio + gravação). Tem como princípio produzir Cubo Cards e prestar serviços de assessoria ao mercado independente da cultura.
IMPRENSA ZINE - Tem como principio a elaboração de políticas públicas para a comunicação independente, com fins ao estímulo da formação, distribuição, produção e circulação dos agentes envolvidos nessa cadeia produtiva.
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CASA FORA DO EIXO - Casa de shows administrada pelo Espaço Cubo onde se apresentam os principais nomes da cena independente de todo o país, além de ceder espaço para bandas ensaiarem.