Pesquisar nos arquivos

9 de julho de 2007

Canastra, o melhor da jogatina

O dicionário Aurélio define o substantivo "canastra" como "uma caixa larga e um pouco alta, de ripas de madeira flexível, de verga, ou revestida em couro". Você sabia disso? Pois é, nem eu. Popularmente, “canastra” é um jogo de sete cartas em seqüência do mesmo naipe. Ela pode ser limpa, sem curinga, ou suja, com curinga. No meio musical alternativo brasileiro, Canastra é o nome de uma banda que, apesar de não ter sete integrantes, como na jogada do popular “buraco”, chega quase lá: tem seis membros que, assim como nas cartas, formam um conjunto vitorioso.

No início, ninguém apostava na jogada da banda, nem eles próprios. No festival Oi Tem Peixe na Rede, no final de 2005, o Canastra era considerado o azarão dos três finalistas. Porém, os jurados, a exemplo do público, escolheram-na como a melhor. A banda carioca deixou para trás a favorita Luxúria e a cantora Kátia Dotto. Aos trancos e barrancos, conseguiu a gravação do cd, premiação garantida ao vencedor, aumentou o número de shows e conseguiu a aceitação popular.
Antes disso, em 2004, a banda já havia ganhado destaque em uma matéria do jornal “O Globo” que a elegeu como uma das melhores coisas daquele ano. O segredo disso tudo? A grande jogada da banda foi utilizar um jogo sujo, ou seja, misturar sons. Não há um estilo definido. Talvez, rockabilly se encaixasse como uma das possíveis definições, mas a mistura de estilos da big band carioca faz com que o termo seja superado. Certas músicas lembram o jazz dos anos 20, outras estão mais para o bluegrass, dixieland, country, orquestra, jovem guarda... mas sempre com uma pegada rock’n roll, estilo compartilhado pelo sete integrantes do Canastra. Os temas das músicas também variam, mas há uma certa predominância em relação a desilusões amorosas e desacertos da vida cotidiana.

Aliado à miscelânea de sons há a obrigação de garantir diversão ao público. O show do Canastra é simplesmente muito bom. O pessoal de Belo Horizonte que foi à Obra em maio deste ano pôde conferir a presença de palco da banda e a capacidade de animar até aquele espectador que não gosta muito do som (Não é mesmo, Marcelo?). Em meio a covers inusitadas de Dead Kennedys e "Besame Mucho" (eternizada pelo grande Ray Conniff), Renato sobe no contrabaixo classudo de Edu e enquanto empunha sua guitarra, Marcelo Callado toca bateria de pé e os dois integrantes responsáveis pelos sopros jogam baralho despreocupadamente, esperando pelo momento de participar. Além disso, o estilo dos caras é bastante singular, um tanto espalhafatoso. Estampas florais que lembram o Havaí e os topetes à la Elvis Presley. Como o próprio vocalista disse em entrevista a revista Outracoisa de maio, “Já que a gente faz um som tão esquisito, passamos a ter a preocupação de ter entreter o público, para não deixar ninguém ir embora”. É isso aí, eles conseguiram.

A banda acaba de lançar o segundo cd, Chega de Falsas Promessas. Não é mera coincidência o fato do seu título fazer referência ao episódio ocorrido com a gravadora Sony e à dificuldade para concluir a gravação do primeiro álbum, Traz a Pessoas Amada em Sete Dias. Mas, o que restou disso tudo, é que o Canastra jogou e ganhou.

O baterista Marcelo Callado respondeu as perguntas abaixo por email, que ajudam a entender um pouco melhor a banda e sua história.


Quais as bandas anteriores dos integrantes do Canastra e como se deu esse encontro? As antigas bandas tiveram que chegar ao fim para o Canastra surgir?
- Renato - Acabou la Tequila
- Edu - Big Trep
- Marcelo - Carne de Segunda
- Madá - Cisco Trio
- Fernando - Big Trep
- Marco - Orquestra Popular Céu na Terra
Não. As que não existem mais acabaram por outros motivos. Quando o Acabou La Tequila deu um tempo (em 2001, se não me engano), Renato tinha uma série de músicas e precisava de uma nova banda pra botá-las em prática. Daí, chamou o Edu, depois o Bruno (primeiro guitarrista) e depois eu. Passou um tempão com a banda sendo formada apenas por nós quatro, ainda sob o nome de Influenza. Em 2005, já como Canastra, a vontade crescente de ter metais na banda fez com que fôssemos atrás de novos membros. Então apareceu o Madá que já tocava com o Edu e depois o Fernando, que também já tocava com o Edu. Primeiramente, o Fernando entrou pra tocar trumpete, mas com a saída do Bruno ele passou a acumular duas funções: trumpete e guitarra. Por fim, o Fernando conhecia o Marco há tempos e trouxe ele pra banda, para tocar trombone.

Por que vocês trocaram o nome Influenza para Canastra?
Porque já havia uma banda com o nome Influenza.

Na opinião da banda, qual seriam as maiores diferenças entre o novo álbum e o primeiro?
Certamente a entrada do naipe. A banda sempre teve a idéia de incorporar metais nos arranjos, mas isso só aconteceu agora neste disco. O Traz a Pessoa Amada... é muito baseado em arranjos de baixo, guitarra e bateria, que era a formação da banda na época em que foi gravado. Já este disco de agora, fizemos pensando muito nos arranjos de metais, que já haviam sido incorporados à banda antes da fase de pré-produção do disco.
Outro diferença é que no Chega de Falsas Promessas alguns arranjos foram finalizados dentro do estúdio de gravação, diferentemente do primeiro, no qual já chegamos com todos os arranjos prontos.

Na vez em que vi o Canastra ao vivo, vocês tocaram covers bem distintas: de Dead Kennedys a "Besame Mucho", passando por música tradicional italiana. Essa diversidade de influências gera conflitos internos?
Não, pois mesmo com cada um integrante ouvindo sons diferentes, há uma unidade sonora bem definida na banda. Perceba que as três músicas covers as quais você se referiu, apesar de diferentes, possuem um mesmo "climão festa-baile" que é a cara do Canastra. Não é?

Mais Canastra no Meio Desligado: show / cd.

Fotos: Marcelo Santiago

Arquivos do blog