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16 de novembro de 2017

Popload Festival 2017: PJ Harvey pegando um bronzeado, Phoenix na balada, Ventre e Carne Doce mostrando a força do indie BR


Criado em 2013, o Popload Festival já nasceu sendo um dos mais interessantes eventos musicais do país. Desde seu surgimento, trouxe ao Brasil artistas como Iggy Pop, Wilco, Tame Impala e Cat Power ao lado de brasileiros como Cidadão Instigado e Céu. Desdobramento do site (ex-coluna) de mesmo nome e principal veículo sobre música indie no Brasil, neste ano teve como atrações principais PJ Harvey e Phoenix, além das ótimas Ventre e Carne Doce, ambas brasileiras, Neon Indian e Daughter.

PJ Harvey atendeu às expectativas com o melhor show da noite. Passaram-se 13 anos desde sua primeira vinda ao país, quando tocou no Tim Festival (na mesma edição em que tocaram Kraftwerk, Brian Wilson e Primal Scream), e seus dois shows por aqui dificilmente poderiam ser mais distintos entre si. Em 2004, fez um show pesado, enérgico e distorcido acompanhada de um trio de bateria, baixo e guitarra (tocada pelo mini-Frusciante Josh Klinghoffer, atualmente no Red Hot Chilli Peppers). Agora, em 2017, são 10 músicos no palco (entre eles os colaboradores de longa data Mick Harvey, que também toca com Nick Cave desde o Birthday Party, e John Parish, com quem PJ tem dois discos lançados em parceria, além de Alain Johannes, que foi do Eleven, Queens of the Stone Age e Them Crooked Vultures) para construir um clima soturno, politizado e musicalmente mais complexo. A atual turnê estreou em 2016 no Primavera Sound, em Barcelona, e é focada nos dois discos mais recentes de PJ, The Hope Six Demolition Project, de 2016, e Let England Shake, de 2011. Se nos dois primeiros shows da turnê o clima sombrio, cheio de sopros e percussão minimalista assustava (depois de Barcelona, também vi o show dela no Nós Primavera, em Porto, Portugal, e em ambos as reações da plateia foram parecidas), o público brasileiro chegou preparado para a atual fase de PJ e recebeu em troca uma banda ainda mais afiada, de performance excepcional (e em dose dupla, já que na noite anterior ela se apresentou em um teatro de São Paulo em uma ação social do festival que beneficiou doadores de sangue e pessoas que exercem trabalhos junto a ONGs parceiras do Popload Festival).

O show começou em estilo banda marcial com todos os músicos entrando enfileirados (PJ entre eles, empunhando seu saxofone), ao som de "Chain of keys", a pesada "The Ministry of Defense" e o single "The Community of Hope" (um dos poucos momentos "pop" do show), nessa sequência. Depois da roqueira "Shame", uma das melhores do disco Uh Hu Her, de 2004 (e única dele no set), PJ emendou uma série de canções do Let England Shake (com o qual ganhou o Mercury Prize pela segunda vez) e duas do calmo White Chalk, de 2007: "Dear darkness" e "White chalk". A música mais antiga (e barulhenta) do show foi a punk "50 ft Queenie", do álbum Rid of Me, de 1993, seguida no show dos hits "Down by the water" e a blueseira desértica "To bring you my love", de 1995, para encerrar com "River anacostia", do disco mais recente, canção sobre a poluição das águas que tinha seu sentido reforçado ao ser tocada a menos de 2km do Rio Tietê.



De escalação aparentemente deslocada e anacrônica ("quem ainda ouve esses caras?", pensei quando saiu a programação), a francesa Phoenix fez um show bastante animado e que funcionou bem como encerramento da noite. É aquele indie pop que explodiu mundialmente há quase 10 anos e que hoje em dia é um pouco brega, um pouco música de publicitário, um pouco balada de playboy que quer ser minimamente descolado. Mas são extremamente bons no que fazem, o pacote completo de entretenimento do rock pop mundial com muitas luzes, pressão sonora e performance ensaiada bem ao gosto do público instagramer. Além dos megahits "Lisztomania" e "1901" e de hits como "Trying to be cool" e "Lasso", músicas novas como "Ti amo" e "J-boy" funcionaram bem ao vivo.



Mais cedo, sob o sol de mais de 30º que castigava o público, os americanos do Neon Indian abriram o festival para um público pequeno que enfrentou o calor pra conferir o synth-pop oitentista hipster da banda. Ainda sobre um sol de matar, o trio carioca Ventre, sem dúvida uma das melhores bandas ao vivo atualmente em atividade, fez seu habitual show sujo e melódico, algo próximo do The Dead Weather misturado com Los Hermanos. Começaram com "Quente" (não por acaso) e fecharam com "Pernas". Se o segundo disco da banda, atualmente em produção, conseguir se aproximar da pressão do show, é certeza de um grande disco à caminho.

Outro nome frequente nos festivais de rock nacionais, o Carne Doce também fez um bom show e deixou claro, mais uma vez, não se tratar de um simples hype. A banda tem construções melódicas interessantes e letras pungentes. É dos raros casos no indie nacional em que os vocais são tão bons quanto o instrumental da banda (nesse caso, ambos excepcionais).

O público, que mais tarde chegaria a cerca de 8 mil pessoas (segundo dados do festival), começou a crescer durante o show do Daughter. Quem perdeu Ventre e Carne Doce e chegou somente na hora da banda inglesa se deu mal, já que foi o show mais fraco do dia. Apesar de mais interessante ao vivo do que em disco, é uma banda genérica, pastiche de Florence + The Machine, Cat Power e outros nomes. Opção mais interessante era sacar as ofertas gastronômicas (aproveitando que, na maior parte do tempo, havia poucas filas) e fugir do sol na grama nas poucas áreas com sombra no Memorial da América Latina.

AlunaGeorge, da Inglaterra, foi a atração surpresa entre os shows da PJ Harvey e do Phoenix, com a brasileira Iza como convidada especial. Tudo o que tenho a dizer sobre esse show é que durante ele eu comi um ótimo sanduíche do Maní e experimentei um energético de tangerina da TNT.


Playlist com os sets da PJ Harvey e Phoenix no Popload Festival 2017

Ps: A foto que abre o post é do G1.

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