"Gosto da poesia que dá um passo. Depois o outro. Tem seu tempo. Certeiro. Não se mete à besta. Nem a devaneios. A poesia coloquial. Banal. Ao natural. A poesia que não se atropela. Não apela. Não veste gravata. Mora na gente”. Assim o escritor Marcelino Freire descreve Poesia Colírica, livro de estreia do músico e escritor Enzo Banzo. Com a banda Porcas Borboletas, Enzo lançou os discos Um carinho com os dentes (2005), A passeio (2009) e Porcas Borboletas (2013). Em Poesia Colírica, explora temas do cotidiano com um olhar singular e bem humorado. Cria versos que brincam com dramas e com as palavras.
Alguns poemas de Poesia Colírica
tem coisas que guardo
e não faz sentido
pois sei que não guardam
o tempo partido
tem coisas que aguardo
e não tem por que
se um dia chegarem
nem vou perceber
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quis ter escrito
algo bonito
mas não consigo
fazer sentido
então prefiro
esse bonito
que nunca é dito
só é sentido
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já fui um sêmen
em um ovário
hoje sou vários
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nó no pescoço
não desce a dor
nem o almoço
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caminhando e cantando e
caminhando e cantando e
caminhando e cantando e
caminhando e cansando e
caminhando e sentando e
deitando e dormindo