Quando eu tinha 13 anos, lembro que algumas das poucas pessoas com as quais
podia conversar sobre rock na minha escola eram os repetentes mais
velhos, que constantemente matavam aula e pulavam o muro da escola
para fumar maconha e ir embora mais cedo. Nessas conversas, o que
mais se destacava (ou talvez o que eu mais achava engraçado)
eram os clichês e histórias sobre como eles acreditavam
que o rock era uma manifestação do mal e que provocava
ações sobrenaturais. Histórias sobre canções
amaldiçoadas, seres que apareciam e desapareciam de repente e
sensações esquisitas sentidas enquanto ouviam Black
Sabbath, Venom, Death...
Aos 13 anos, eu concordava com a cabeça e ria internamente,
enquanto pensava que conhecer aquelas pessoas era a melhor propaganda
pró-escola e anti-drogas que alguém poderia ter. Foram
necessários 10 anos até que eu mudasse de ideia, ao ter
contato, há alguns meses, com 12 arcanos, novo CD da banda goiana Mechanics (liderada por Márcio
Jr, sócio da Monstro Discos).
Desde seu material gráfico macabro (que inclui uma espécie de
carta de tarô para cada faixa) à
sonoridade, há toda uma atmosfera pesada em torno de 12
arcanos. Algo que lhe faz sentir como se este CD realmente
condensasse uma série de sentimentos ruins e os manifestasse
em forma de música ruidosa e brutal. Stoner rock com letras de
death metal. 13 canções ao longo de 38 minutos que
emulam Black Sabbath, Kyuss, Nirvana e Nebula, entre outros.
A
cada segundo de audição do álbum a impressão
de que algo ruim vai acontecer a qualquer momento cresce. A cada riff
distorcido e pesado, acompanhado de frases jogadas rasgadamente como
“arranquei todos os seus dentes, seu sorriso mais doente / engoli a
sua alma, porque te quero calma”, aumenta a sensação
de descontrole. E você deseja mais. Esse é um dos
grandes êxitos do Mechanics neste CD: transformar sua música
em catalisadora de sentimentos extremos.
Dentro
de sua proposta, 12 arcanos é um dos melhores CDs
lançados nos últimos anos. E, justamente por isso, um
dos mais perigosos.