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30 de julho de 2010

Música pop e crítica em Santa Catarina

Texto do Jean Mafra publicado no Overmundo sobre o jornalismo musical feito pela imprensa de Santa Catarina.
"e eis que, de um aparente silêncio que se abateu sobre a cidade nos últimos meses, surgem novos trabalhos de alguns dos principais artistas do pop feito em santa catarina. o aerocirco lançou seu invisivelmente na net há algumas semanas, os lenzi brothes colocaram na rua fora de estoque (o quinto disco do trio), a sociedade soul fez show de lançamento de seu aguardado début (ainda não disponível para audição) nesta última sexta-feira (09 de julho), e jeremias sem cão (uma das bandas roqueiras mais originais do estado), muniques (novo projeto de metada da extinta maltines com os remanescentes da atomik), cassim e bárbaria e superpose tem trabalhos prontos para sair neste segundo semestre. vem muita coisa boa por aí, mas muita coisa ruim também. vem muito mais do mesmo e é assim que se constrói um cenário musical mais rico, mais profissional: fazendo as coisas. mas falta algo - e faz muito tempo. não temos crítica musical em santa catarina - aliás, o pop brasileiro sofre por causa deste problema já há alguns anos (por mais blogs e veículos independentes que o façam ,quase sempre o que se escreve sobre música é irrelevante - ou se aborda apenas impressões pessoais ou se compara o que é feito aqui com o aquilo que se copia da gringolândia)... mas, ok, vou me ater a terra em que vivo.

em março, em uma das conversas que aconteceram durante o lançamento do edital 2010 do rumos itaú cultural em florianópolis, a professora e documentarista cláudia mesquita questinou os jornalistas marcos espíndola (diário catarinense), abonico smith (mondo bacana) e fabiane tomaselli (rádio udesc fm) sobre o papel da crítica na construção de um cenário mais consistente para a música feita em santa catarina. a tentativa de resposta, fragmentada, não seguiu adiante. curiosamente, há cerca de 7 anos, se não me engano, quando a produtora/escritora ieda magri era responsável pelo café literário que o sesc estreito promovia, reunimos (eu trabalhava na produção do evento) os então editores dos cadernos de cultura dos jornais a notícia e diário catarinense, néri pedroso e dorva resende, para uma conversa com artistas da cidade sobre o papel da crítica (ou da falta que ela fazia aqui)... já naquela noite, pintores, cineastas, escritores, poetas, músicos, etc, trocaram impressões com alguns jornalistas e a constatação geral foi de que era preciso mudar. mas de lá para cá, infelizmente, quase nada mudou.


antonio rossa, ao entrevistar marcos espíndola em abril último, leia aqui, no transitoriamente, lhe perguntou sobre a falta de crítica e ouviu uma resposta incomoda: "não sei se nossos artistas estão preparados para a crítica". ora, penso, se não estão, então estamos muitíssimo mal (para mim, se não há crítica não há cenário consitente). o artista que não está preparado para crítica que não mostre seus trabalhos para ninguém! neste sentido, entendo que o papel de espíndola não seja de crítico, afinal, ele se tornou o principal divulgador das artes locais. seu papel, neste sentido, é importantíssimo, mas este é apenas um dos aspectos que fazem um circuito vivo, plural e rico como almejamos (nós, que fazemos música neste estado). às vezes, aqui, me debruço sobre algum disco local, mas não me sinto tão a vontade para fazê-lo, por ser um dos protagonistas da cena da cidade. antonio rossa, vez ou outra também o faz, e bem. mas é muito pouco ainda. são pouquíssimos os exemplos de críticas aqui. o diário catarinense publica semanalmente resenhas de discos em suas páginas, mas os álbuns e eps locais quase sempre passam a margem do olhar de seus jornalistas (mas essa responsabilidade, penso, não deve ser apenas de um veículo). no mais, é de se lamentar que a coisa continue como está, pois quem perde é a música (e os artistas e o público) de santa catarina. quem sabe agora, com vários novos trabalhos saindo, algumas das cabeças pensantes do estado não queiram discutir um pouco sobre discos produzidos ao seu redor?!?"

E um comentário do Hermano Vianna, sobre o mesmo texto:
"... quanto ao problema da falta de crítica local: há até a mais básica falta de divulgação do que acontece localmente - lembro de ficar impressionado, quando eu fazia curadoria do Tim Festival, de receber o clipping e ver notícias sobre a confirmação da vinda de uma banda estrangeira obscura ganhar destaque repetido em centenas de jornais do Brasil afora e bandas locais nunca serem sequer mencionadas pelos mesmo jornalistas, que preferem dar apenas uma preguiçosa "retwittada" no que vem da "metrópole" - mesmo sabendo que aquilo, a curto prazo, era bom para o festival, eu achava a atitude lamentável... foi para combater esse tipo de situação que criamos o Overmundo - mas acho que o Overmundo ainda é pouco usado, mesmo por aqueles que precisam furar a barreira boba de um jornalismo local que ignora o que acontece localmente".

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