A merda é fruto do tempo. Em diferentes aspectos. O bolo alimentar percorre um longo caminho, o que demanda tempo, até ser transformado e chegar ao seu destino final (analisado por Foucault). O que era bom há 30 anos, hoje, após o efeito do tempo, é merda. No jornalismo, muita merda também é culpa do tempo. Nesse caso, tempo de duração, aliado ao espaço.
Imagine: lá está o pobre jornalista, ganhando seu salário medíocre e lembrando dos quatro anos que passou ouvindo mentiras sobre imparcialidade e ética, obrigado a preencher espaços pré-definidos com seu texto. "5 mil caracteres para essa matéria? Mas eu consigo explicar tudo em 2 mil caracteres, tranquilamente...". Não importa.
No rádio e na TV, pior. Seu programa tem uma duração estabelecida, 30 minutos, por exemplo, e periodicamente você deve preenchê-la com conteúdo aparentemente novo e diferente (lembre-se, eu escrevi "aparentemente").
Em todos esses casos, qual o resultado? Muita merda, óbvio. É extremamente imbecil definir a criação intelectual a partir do espaço e tempo a ser ocupado pela mesma. Cada pessoa, tema ou ocasião requer um tratamento diferenciado, o que resulta em tempo e espaço também diferenciados.
Nos veículos impressos, no rádio ou na TV, a situação é complexa e é necessário interesse (algo que as empresas de mídia, em sua maioria, não têm) em revertê-la. Em contraponto, a internet oferece alternativas eficazes e práticas. (Praticamente) sem limite de espaço e tempo, é possível deixar a criação fluir, sem ter que contar os caracteres ou os segundos - podendo exagerar na liberdade e cair na chatice, é verdade.
Em alguns casos, no entanto, existem produções que funcionam em diferentes formatos, podendo se apropriar das características de um determinado meio para potencializar sua ação. Este é o caso do Interferência.
Exibido dentro do programa "Manos e Minas", na TV Cultura, o Interferência é um quadro de entrevistas focado na temática da marginalidade sócio-cultural. Apresentado pelo escritor Ferréz, o quadro sempre é filmado em um mesmo bar do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, reflexo da naturalidade das conversas e de sua intenção de "tirar o acesso e a produção da informação apenas do círculo composto pela elite cultural , estendendo-os às demais esferas sociais".
Cada entrevista resulta em 3 ou 4 minutos extremamente interessantes que decorrem naturalmente. Além disso, a página oficial do Interferência é um blog que ajuda a contextualizar a participação de cada convidado, com informações adicionais de seus trabalhos/vidas, e disponibiliza todo seu arquivo no Vimeo, com vídeos em alta resolução e material extra de algumas conversas.
No atual contexto do jornalismo cultural brasileiro, é uma pena que essa experiência seja apenas uma interferência e não represente uma nova abertura prática e conceitual.
Imagine: lá está o pobre jornalista, ganhando seu salário medíocre e lembrando dos quatro anos que passou ouvindo mentiras sobre imparcialidade e ética, obrigado a preencher espaços pré-definidos com seu texto. "5 mil caracteres para essa matéria? Mas eu consigo explicar tudo em 2 mil caracteres, tranquilamente...". Não importa.
No rádio e na TV, pior. Seu programa tem uma duração estabelecida, 30 minutos, por exemplo, e periodicamente você deve preenchê-la com conteúdo aparentemente novo e diferente (lembre-se, eu escrevi "aparentemente").
Em todos esses casos, qual o resultado? Muita merda, óbvio. É extremamente imbecil definir a criação intelectual a partir do espaço e tempo a ser ocupado pela mesma. Cada pessoa, tema ou ocasião requer um tratamento diferenciado, o que resulta em tempo e espaço também diferenciados.
Nos veículos impressos, no rádio ou na TV, a situação é complexa e é necessário interesse (algo que as empresas de mídia, em sua maioria, não têm) em revertê-la. Em contraponto, a internet oferece alternativas eficazes e práticas. (Praticamente) sem limite de espaço e tempo, é possível deixar a criação fluir, sem ter que contar os caracteres ou os segundos - podendo exagerar na liberdade e cair na chatice, é verdade.
Em alguns casos, no entanto, existem produções que funcionam em diferentes formatos, podendo se apropriar das características de um determinado meio para potencializar sua ação. Este é o caso do Interferência.
Exibido dentro do programa "Manos e Minas", na TV Cultura, o Interferência é um quadro de entrevistas focado na temática da marginalidade sócio-cultural. Apresentado pelo escritor Ferréz, o quadro sempre é filmado em um mesmo bar do Capão Redondo, na periferia de São Paulo, reflexo da naturalidade das conversas e de sua intenção de "tirar o acesso e a produção da informação apenas do círculo composto pela elite cultural , estendendo-os às demais esferas sociais".
Cada entrevista resulta em 3 ou 4 minutos extremamente interessantes que decorrem naturalmente. Além disso, a página oficial do Interferência é um blog que ajuda a contextualizar a participação de cada convidado, com informações adicionais de seus trabalhos/vidas, e disponibiliza todo seu arquivo no Vimeo, com vídeos em alta resolução e material extra de algumas conversas.
No atual contexto do jornalismo cultural brasileiro, é uma pena que essa experiência seja apenas uma interferência e não represente uma nova abertura prática e conceitual.
- - - - -
Para quem, assim como eu, não tem tempo (de novo ele) de assistir TV, selecionei alguns episódios do Interferência
Extratos:
"Só os (jornalistas) mortos não mentem" (citando Fred 04)
"A ficção é menos mentirosa que o jornalismo"
"Ninguém fala do jeito que sai nas aspas dos jornais, a não ser político e jogador de futebol, que falam sempre a mesma coisa"
Lourenço Mutarelli, falando, entre outras coisas, sobre como um possível patrocinador pode influenciar na criação de uma obra.
Extratos:
"Você não precisa vender a alma, mas parte do corpo às vezes sobra"
"Onde há grana, há burguês. Se você não aprende isso você tá fora"
Discutindo o que é MPB e o jornalismo cricri da Folha.
Extratos:
"Só os (jornalistas) mortos não mentem" (citando Fred 04)
"A ficção é menos mentirosa que o jornalismo"
"Ninguém fala do jeito que sai nas aspas dos jornais, a não ser político e jogador de futebol, que falam sempre a mesma coisa"
Lourenço Mutarelli, falando, entre outras coisas, sobre como um possível patrocinador pode influenciar na criação de uma obra.
Extratos:
"Você não precisa vender a alma, mas parte do corpo às vezes sobra"
"Onde há grana, há burguês. Se você não aprende isso você tá fora"
Discutindo o que é MPB e o jornalismo cricri da Folha.