Em mais uma publicação resultante da parceria entre o Meio Desligado e o blog português Bandcom, publico aqui a crítico do disco da banda indie portuguesa Norton, que em 2014 lançou seu terceiro CD, homônimo. O texto foi escrito pelo João Ribeiro, do Bandcom. A proposta da parceria é apresentar ao público brasileiro novos artistas alternativos de Portugal e, por outro lado, levar a nova música independente brasileira aos leitores portugueses através dos textos do Meio Desligado que são republicados pelo blog português.
Os Norton voltaram aos discos, e tal como os dois álbuns anteriores, este foi editado no Japão, curiosamente, mesmo que a banda ainda não tenha tocado ao vivo por lá. O sucessor de “Layers of Love United” (2011) é de epíteto homónimo e marca o regresso da banda de Castelo Branco às canções, exactamente 10 anos depois do álbum de estreia, “Pictures From Our Thoughts”.
A morfologia de "Norton" centra-se no indie pop-rock que por agora vai fazendo furor e ganhando cada vez mais terreno junto de vias mais comerciais e mediáticas da indústria musical, aqui com claras influências de nomes sonantes como Bloc Party, Yo La Tengo ou Franz Ferdinand. Coeso, quente, tão rock como pop, festivo e energético, este é um álbum que se constrói ao ritmo das erupções solares, ideal para nos acompanhar nestes dias que marcam o início do verão. Nele, as guitarras pulsantes, os sintetizadores planantes e secção rítmica vigorosa deslizam numa melodia fervilhante que não queremos que acabe.
Pedro Afonso, Rodolfo Matos, Leonel Soares e Manuel Simões apresentam oito temas que são um reflexo de uma vida inteira de canções - por exemplo, “Hours and Day” tem lá dentro uma década de Norton, uma procura incessante pela perfeição.
O pontapé de saída é o ritmado e incisivo primeiro single “Magnets”, uma canção que assim que a ouvimos fica a ecoar nos nossos ouvidos durante longos períodos de tempo. O pop-rockcontinua e a dançante “Premiere”, num ritmo hipnótico, é apesar de tudo um convite a saltar e a soltar todo o stress acumulado após um longo dia de trabalho que se conjuga entre uma “Directions” numa imersão sinfónica proporcionada pelo sintetizador, naquele que é talvez o momento mais ambiental do disco, e uma novamente febril “Brava” que irrompe num numa espécie de pós-punk angular e meio esquizofrénico.
Sem que com isso perca toda a exclusividade e identidade, "Norton" apresenta, assim, belíssimos recortes de uma sonoridade enquadrada agora numa estética mais uptempo e consegue ser leal a si próprio e recuperar/preservar toda uma década de canções e de entendimentos de lugares emocionais. Intenso mas simultaneamente harmonioso: é assim que o podemos classificar.
7.1