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8 de agosto de 2008

Mada - Música Alimento da Alma (e sua edição de 2008)

Boa parte dos ouvintes de música alternativa / independente no Brasil tomou conhecimento do Mada em 2004, quando a banda norte-americana The Walkmen veio ao Brasil pela primeira vez para uma apresentação exclusiva no festival. Até então, o Mada não tinha grande espaço em publicações e veículos online especializados, chegando até mesmo a não ser visto com bons olhos pelos xiitas do underground por misturar em sua programação artistas como Lulu Santos, Jorge Benjor e até mesmo Detonautas Roque Clube (urgh) junto à bandas de rock independente.

Há um claro apelo pop no Mada - Música Alimento da Alma, mas também é indiscutível sua função de reunir e dar espaço para as novas e interessantes manifestações do rock independente brasileiro. Ao invés de escalar apenas bandas desconhecidas e manter-se no gueto alternativo, o festival opta por mesclá-los a artistas já consagrados, aproximando mainstream e underground. O problema, aí, é que alguns dos nomes populares escolhidos às vezes são lastimáveis, vide o já citado Detonautas ou os gaúchos do Reação em Cadeia.

Este ano o Mada realiza sua 10ª edição (apesar de criado em 1998, não foi realizado em 1999) e, ao contrário do que se podia esperar, resolveu diminuir um pouco o número de atrações, o que parece ser uma boa alternativa. A maioria dos festivais parece estar mais atenta à quantidade de atrações do que na qualidade das mesmas, resultando em dezenas de bandas se apresentando para públicos minúsculos em horários indecentes e no público extremamente cansado após árduas jornadas de shows. No Mada 2008, a média será de 9 shows por noite (no ano passado, por exemplo, a média era 11), das 21 horas às 3 da madrugada, mais ou menos. Também será realizado o Eletromada, palco com programação alternativa direcionada às vertentes da música eletrônica.

As atrações mais conhecidas desta edição são O Rappa, Pato Fu, Seu Jorge, Lobão, Cordel do Fogo Encantado, Mallu Magalhães e o cantor de alt folk americano Josh Rouse, que vem ao Brasil pela primeira vez. Entre as bandas mais alternativas, vale conferir o quarteto indie/pós-punk pernambucano Sweet Fanny Adams e o multifacetado Curumim, que este ano está se apresentando em diversos festivais do circuito independente (entre eles Calango e Eletronika).

Programação completa do Mada 2008

14/08, quinta-feira
21h30 - Poetas Elétricos (RN)
22h - Amps e Lina (PE)
22h30 - NV (RJ)
23h - Sweet Fanny Adams (PE)
23h30 - Rastafeeling (RN)
00h - Brand New Hate (RN)
0h30 - Motosierra (URU)
1h30 - O Rappa (RJ)

15/8, sexta-feira
20h50 – The Volta (RN)
21h20 – Lunares (RN)
21h50 – Subaquático (BA)
22h20 – Poliéster (RS)
22h50 – Síntese Modular (RN)
23h20 – Curumin (SP)
23h50 – Autoramas (RJ)
00h30 – Pato Fu (MG)
01h30 – Lobão (RJ)

16/08, sábado
21h10 – Rosa de Pedra (RN)
21h40 – Sem Horas (PB)
22h10 – Macanjo (RJ)
22h40 – Falcatrua (MG)
23h20 – Mallu Magalhães (SP)
00h – Cordel do Fogo Encantado (PE)
01h – Josh Rouse (EUA)
02h – Seu Jorge (RJ)
03h20 – Montage (CE)

Para conhecer cada uma das atrações do festival, a dica é visitar o blog ENM (Esse não manja), que fez uma série de textos sobre as bandas selecionadas para o Mada.

E para saber mais profundamente sobre o Mada, seu conceito e história, leia abaixo trechos de entrevistas publicadas no Overmundo e Coquetel Molotov com o idelizador do festival, Jomardo Jonas.

Do Overmundo, por Yuno Silva:
Esse nome é perfeito! Vem de onde?
Jomardo — [risos] Já respondi isso acho que mais de um milhão de vezes, mas vamos lá: o apelido “Mada” foi dado pelo repórter da Folha de SP que acho muito grande ficar repetindo “Música Alimento da Alma” o tempo todo na matéria. Ficou. “Música Alimento da Alma” vem de um texto do Jolian (músico, irmão do Jomardo) que ainda iria se transformar em música. Dizia que quando acaba a água, alimento do corpo, só resta a música que é o alimento da alma — por isso as primeiras edições terem sido mais ecléticas e abrangentes.

Então no começo tinha toda uma diversidade musical, e com o tempo o Mada foi enfocando o pop, o rock, a música eletrônica, pitadas regionais e arredores. O que fez o foco pender para esse segmento?
Foi um processo natural. A coisa foi andando e percebemos essa tendência. Naquele primeiro, pensamos em dar uma chance a quem estava tocando na noite. Depois é que fomos criando o conceito. Em 1998 algumas bandas covers tocaram, não tínhamos uma produção consistente de músicas autorais. A partir do segundo ano é que começamos a nos preocupar mais com isso, e de dar mais espaço para grupos locais —na primeira edição vieram muitas bandas de Pernambuco. O Festival começou a se configurar realmente. Então buscar esse foco no pop e no rock estava em sintonia com o que acontecia em outros festivais do Brasil.

Você acredita que eventos do porte do Mada podem andar com as próprias pernas após três anos via lei de incentivo? Segundo alguns conselheiros que analisam projetos enquadrados na lei estadual isso é plenamente possível. (O projeto inscrito na Fundação José Augusto, instituição responsável pela gerência da Lei Câmara Cascudo, enfrentou problemas de aprovação e quase não se beneficia do sistema de mecenato: investimento cultural em troca de recolhimento de impostos - nesse caso ICMS).
Acho difícil. Paixão de Cristo em Nova Jerusalém tem 30 anos e conta com os apoios das Leis Rouanet (federal) e a estadual (Pernambuco). Junta quantas pessoas? Tem ajuda de verba pública desde o começo. Outro: o Festival de Cinema de Gramado (RS), em dos mais famosos do mundo com 33 edições, continua sendo bancado com dinheiro vindo das Leis. Então isso é um grande absurdo.
Não existe esse negócio de um evento andar sozinho, principalmente em uma cidade como Natal, que é difícil conseguir uma cota de R$ 5 mil reais para uma banda gravar um CD. É quase impossível fazer um evento hoje, com a dimensão do Mada e tantos outros, se não tiver a participação de uma lei de incentivo. Esse papo é uma grande balela.
Se fosse assim o Programa Rumos Itaú Cultural, um grande projeto nacional promovido por uma poderosa instituição financeira, não precisaria desse recurso para continuar existindo. O banco abate anualmente cerca de R$ 30 milhões de impostos investindo em programas sócio-culturais… se ele não anda com as próprias pernas imagine eu!! [risos]

Falam muito que o Festival Mada fortalece a cena local de música. Você acha que o evento realmente colabora? Como?
Sem dúvida. O Mada foi quem trouxe pela primeira vez à Natal os maiores nomes da imprensa nacional especializada. Lembro-me que a maior matéria que saiu na Folha de São Paulo sobre o Festival foi com o Alexandre Alves da Solaris Discos, até então pouco conhecido dentro de Natal. MTV, Multishow, O Globo, Jornal do Brasil, revista Dynamite… contatos feitos a partir dessa vinda ao Mada.

Cobertura do "Passe Livre" do Mada 2007


Do Coquetel Molotov, por Jarmeson de Lima:
O MADA tem uma característica eclética, trazendo tanto grandes bandas conhecidas, quanto revelações do cenário independente. De que forma o público assimila essa mistura?
Jomardo - Numa cidade como Natal que existe uma relação muito forte do grande público com o Axé e o Forró, decidimos colocar em nossa programação algum grande nome conhecido para atrair esse público e garantir maior visibilidade para bandas indies. Até agora não temos percebido muitos problemas para o público assimilar essa mistura.
Nosso foco são as bandas indies. As atraçoes maiores são o complemento para garantia de público, que termina sendo interessante para todos os envolvidos.

Relembrando o início do festival, como você vê a cena musical potiguar daquela época em comparação com a atual?
Sem dúvida a cena potiguar cresceu bastante nesse período. E acredito que o festival ajudou muito nesse processo todo. Muitas bandas apareceram, selos e outros festivais com a mesma idéia do MADA, que sempre foi fomentar a cena indie. Quando começamos em 1998, não existia uma cena, não se falava em Natal no cenário nacional e existia somente o trabalho incansável do selo Solaris Discos para algumas bandas locais. Ao longo desse tempo de festival MADA, muitos contatos foram feitos através do festival pelas bandas locais e consequentemente foi se formando todo um processo de divulgação além de nossas fronteiras e também fortalecendo o festival no restante do país.

Existe agora uma discussão em torno dos festivais independentes com relação a ter ou não patrocinadores e de que forma eles tiram a liberdade de um produtor. O que você pode falar a esse respeito? Patrocinadores chegam a interferir na programação do MADA?
Essa é a discussão mais hipócrita que conheço, totalmente sem sentido.
Os patrocinadores são fundamentais para o fortalecimento dos festivais. Alguns produtores mais radicais ou que não precisam dos festivais para sobreviver, ficam tirando onda de independentes, reclamam que existem uma proliferação de eventos que colocam o nome "festival" para conseguir os patrocinadores, mas não percebem que podemos agregar esses patrocinadores aos festivais indies, sem necessidade de interferencia deles na programação. É lógico que os patrocinadores querem um retorno de mídia e público, mas com certeza tem mais interesse ainda em agregar a marca a um evento de credibilidade e qualidade. E o que acontece muito no mercado hoje são festivais que não se preocupam com a qualidade de sua estrutura. Muitas vezes parece que para ser indie o negócio tem que ser tosco e desorganizado. Mas não vejo por aí o caminho.
Somos um mercado em crescimento, e se queremos disputar, temos que saber trabalhar com nossas armas, que infelizmente estão sendo utilizadas por algumas empresas produtoras desse falsos "festivais". E foi exatamente nessa falha de alguns festivais, que algumas empresas perceberam o filão e montaram "festivais" com os patrocinadores que poderiam ser de toda a cena indie e de uma cena de festivais mais organizados.

Cobertura realizada pelo Alto-Falante do Mada 2007



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