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29 de julho de 2008

CSS – Donkey

A ironia da burrice


Quando a presença de guitarras distorcidas em uma banda de rock é sinal de alarde e controvérsia, algo está errado. Com as pessoas, é claro.

A crítica musical é notoriamente infestada de imbecis. Então, quando Donkey, “o aguardado segundo álbum” do antigo Cansei de Ser Sexy, atual CSS devido às forças malignas da globalização (mas não se preocupe, o imperialismo é um tigre de papel) destacou-se na “mídia especializada” (entre outras coisas, em criar ídolos descartáveis e modas que provocam vergonha no ano seguinte) por ter guitarras distorcidas e remeter a, pasmem, uma banda de rock (oh!), não era de se espantar. Para quem só conheceu a banda depois do lançamento de seu debut pela TramaVirtual, o novo CD (disponível para download gratuito no Álbum Virtual da Trama, com patrocínio da Volkswagen) pode realmente soar prazerozamente mais próximo do rock ´n roll. Para aqueles que já conheciam a banda, no entanto, trata-se nada mais do que um bem-vindo balanceamento entre a crueza sonora de sua origem e o electro-rock dançante que os tornou famosos em todo o mundo.

Viagem do tempo ativada (porque recordar é viver). 2005. A capa da TramaVirtual destaca “Bezzi”, do Cansei de Ser Sexy. Uma inspirada e direta canção punk à la Stooges. Na página da banda no site, “Art bitch” é uma pedrada electro-rock filhote de Le Tigre, assim como “Ódio, sorry C”. Tratava-se de uma banda de rock com intervenções eletrônicas e uma divertida maneira de flertar com o pop.

Se houve algum motivo para espantos na musicalidade da banda, estes se deram no ano seguinte, com o lançamento do primeiro álbum, no qual as sonoridades eletrônicas e dançantes foram privilegiadas, resultando em versões “eletrônicas” e diferenciadas para músicas como “Bezzi” - antes, um punk setentista sujo e simples, depois, um disco-dance preparado para fazer Borat dançar e sorrir fazendo sua dirty dance em inferninhos kazaques - e “Art bitch” - que perdeu velocidade e animação em relação à versão original, mas ganhou em clima e peso.

No entanto, quem realmente ouviu o álbum ao invés de torcer o nariz para o hype criado em torno da banda (morrendo de inveja) sem nem ao menos ouví-la com atenção, sabia que em meio à eletrônica de músicas como “Computer heat” e “Alala”, estava uma banda que simplesmente não se prendia a rótulos e o demonstrava aos misturar rock alternativo, electroclash, batidas funkeadas e qualquer outro gênero, orgânico ou sintético, que soasse animado e divertido.

Voltando ao presente, Donkey apresenta o meio termo entre os dois momentos da banda, colocando as guitarras distorcidas em primeiro plano em vários momentos, mas não até o ponto de deixar de ser pop. O resultado reforça a identidade do CSS e apresenta um som mais orgânico, ou, como os próprios integrantes vêm afirmando, “um som mais próximo de como a banda soa ao vivo”.

Há menos programação eletrônica em Donkey do que no álbum anterior, mais guitarras e os sintetizadores continuam, talvez com um pouco menos de destaque, mas o clima de diversão é o mesmo.

“Jager yoga”, uma das melhores e mais animadas músicas do CD abre o álbum com uma pegada dançante, referências pop (Claudia Ohana?) e lembranças de baladas chapadas (“where´s my gin, where´s my glass, all this mess comes from your ass”). Em seguida, “Rat is dead (rage)” vem carregada de distorção e refrão pop, relembrando o rock alternativo americanos do início dos anos 90, assim como em “Give up”. Nesses e em outros momentos o CSS soa como uma espécie de atualização sintetizada de bandas riot como Slearter-Kinney ou de grupos de rock alternativocom vocais feminino, como The Breeders e Veruca Salt.

“Left behind” é o grande hit do álbum, raro exemplo de boa canção pop com letra decente. E por falar em letras, as do CSS narram não apenas farras como dão destaque aos remorsos e erros da vida, relatos do que não deu certo e das tentativas de consertar tudo isso, permeadas pelas típicas bobagens que só fazem sentido em canções pop (e não há nada errado nisso, oras).



Outros pontos altos são “How I became paranoid”, a rocker “I fly” e a dançante “Move”. “Air painter” e “Beautiful song” são provavelmente as faixas mais tipicamente indie do CD, enquanto “Believe achieve” mostra-se a mais romântica e oitentista. A qualidade cai apenas em “Let´s reggae all night”, totalmente desnecessária – apesar do título engraçadinho.

Com todas as músicas compostas por Adriano Cintra, baixista e vocalista da banda, além de produtor do álbum, e a maioria das letras compostas por Adriano e a vocalista Lovefoxxx, Donkey passa com louvor na amedrontadora prova do segundo álbum, em termos artísticos, independente do resultado que venha a obter junto ao público e a crítica.

Digam o que quiserem, a mensagem já está dada logo na faixa de abertura do CD, “Jager yoga”: “Fuck with us we are CSS”.

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